Marco Aurélio Cabral Pinto
O que pretendo relatar nas linhas que se seguem reporta-se ao domínio do místico e, portanto, do que não posso explicar muito mais do que o farei. Muitos vão à Índia e ao Tibet, a Machu Picchu, a São Tomé das Letras, vão-se muitos e vão-se ao longe em busca da catarse transformadora que ilumine o sentido do tempo que nos resta. Eu fui a Belém do Pará.
Não se alinhavam ainda seis horas da manhã de sexta-feira, 30 de janeiro, no aeroporto da capital paraense, quando recebi cumprimento de um entre outros tantos estrangeiros com quem interagi ao longo dos dias precedentes no Fórum Social Mundial. Tratava-se de padre alemão, ligado a sindicatos em Hamburgo. Após alguma trivialidade, fui alvo de pergunta sobre o que havia me marcado no encontro. Até aquele momento, apenas vivi a intensidade da duração, a riqueza da diversidade, o assombro das descobertas. Rosto a rosto, palavra a palavra, sinais inebriantes por toda a parte. Súbito, tomei consciência de que jamais havia visto tanta gente sonhando junta. E aí então o padre corrigiu-me: “Sonhando não, tendo esperança.” E tinha razão.
Calor equatorial. O campus da UFPA (Universidade Federal do Pará) ocupado por uma quantidade incalculável de culturas.
Babel ou Eldorado? Junto com a companheira Fabiane Ferraz, dirigente do Sindicato dos Engenheiros, cuja delegação integrei, entregava panfletos e sorria para estranhos. Estremeci com a ideia do voluntarismo, motor e velas dos inúmeros movimentos sociais. Algo gritava por dentro que eu podia voar, que eu finalmente era livre porque estava a serviço exclusivo da esperança. Mas eu me segurei.
Heróis são aqueles que aceitam morrer pelos seus sonhos. A tenda de Cuba foi a maior do encontro. Eventos e exposições em meio à incerteza e ao sacrifício de uma cultura que resiste com esperança. Que outro lugar para estabelecer seu templo?
Hangar é o nome do Centro de Convenções de Belém. Orgulho da cidade e local do encontro dos estadistas do povo. Brigue palhaço ou nova arca para um mar em fogo? Segurança presidencial e muita gentileza do deputado Paulo Teixeira e de sua esposa Alice em nos acolher por companhia. Suspenso no teto, pairava enorme planeta Terra que acompanha a história dos encontros. O local estava lotado por militantes que aguardavam, eufóricos, palavras de esperança. Foi quando percebi com clareza o que sempre moveu o sentimento mais puro da integração sul-americana. Comunhão de culturas? O meu corpo e o meu sangue pulsavam que sim. Mas eu me segurei.
Despeço-me com a convicção de que encontrei, nas portas da floresta, o mais poderoso elixir contra a mediocridade e gostaria de compartilhar com vocês o orgulho de me sentir parte. Sirvam-se à vontade.
Marco Aurélio Cabral Pinto é engenheiro, professor da UFF (Universidade Federal Fluminense)
e consultor do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento” em Ciência e Tecnologia