O que começou em 2001 como um contraponto ao Fórum Econômico Mundial, encontro anual dos poderosos realizado em Davos, na Suíça, para definir os destinos do planeta, acabou por ganhar vida própria e tornar-se mais relevante que o seu equivalente rico. Assim, de 27 de janeiro a 1º de fevereiro em Belém, em sua nona edição, o Fórum Social Mundial levou à Capital do Pará 133 mil ativistas, oriundos de 142 países.
Como tradicionalmente acontece, o FSM foi aberto com uma marcha dos participantes, que saíram da Estação das Docas e chegaram à Praça do Operário de corpo e alma lavados, tendo em vista que a chuva torrencial, habitual nas tardes belenenses, não se fez de rogada e compareceu ao principal acontecimento da cidade. Cerca de 2 mil atividades autogestionadas, realizadas pelas mais de 5 mil entidades inscritas, concentraram-se entre os dias 28 e 31 de janeiro. Encarnando a diversidade revelada por um passeio pelo território do FSM – os campi da UFPA (Universidade Federal do Pará) e da Ufra (Universidade Federal Rural da Amazônia) –, as discussões tinham em comum a reivindicação por um outro mundo possível e iam da regularização fundiária dos quilombos à livre orientação sexual, passando pelo fim do domínio israelense na Palestina, o perdão da dívida externa dos países pobres, a preservação e desenvolvimento sustentável da Amazônia e respeito aos direitos indígenas, mudanças no sistema financeiro, reforma agrária, democratização da mídia e conhecimento livre.
Numa agenda tão extensa e desenhada por uma ampla gama ideológica, não necessariamente de esquerda, o FSM como sempre não tem um documento final. No dia do encerramento, contudo, aconteceram pela manhã assembleias setoriais, cujas conclusões foram expostas numa grande reunião à tarde com a apresentação de algumas propostas de campanhas globais que devem ser lançadas neste ano. O local do próximo FSM não foi divulgado, mas já se sabe que em 2011 o evento acontecerá no continente africano.
Entre outras ações, os movimentos sociais propuseram a realização de uma semana de protestos contra o capital e a guerra entre os dias 28 de março e 4 de abril, quando deve acontecer a ampliação do G8 (incluindo mais 12 nações ricas). Outro evento a ser alvo de mobilizações é a comemoração dos 60 anos da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), marcada para 4 de abril, em Estrasburgo, na França. No dia 30 de março, estão previstas ações unificadas de apoio à Palestina e contra os crimes de guerra cometidos por Israel na Faixa de Gaza.
O grande destaque
O principal acontecimento do Fórum foi protagonizado pelo encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, que desta vez decidiu não ir a Davos, Hugo Chávez (Venezuela), Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai), realizado no dia 29, no Centro de Convenções do Hangar. O evento mais concorrido do FSM reuniu uma plateia de aproximadamente 12 mil pessoas, que horas antes do início aguardava pacientemente para ter a chance de ouvir os líderes latino-americanos falarem sobre a crise internacional e a integração regional.
“Vivi os momentos duros dos anos 80, da dívida externa, quando o FMI (Fundo Monetário Internacional) dava palpite na vida dos pobres e o Banco Mundial tinha solução para tudo, dizendo o que tínhamos que fazer. Parecia que éramos incompetentes e eles, infalíveis. Venderam a lógica de que o Estado não prestava e o deus mercado faria a justiça social. O mercado quebrou por falta de controle e especulação. Agora espero que o FMI diga ao Obama e ao Sarkozy como eles têm que sair da crise que criaram”, disse Lula, provocando risos e aplausos animados da plateia.
Os números do Fórum
133.000 participantes
5.808 entidades inscritas
2.310 atividades autogestionadas
15.000 inscritos no acampamento da juventude crianças recebidas na Tenda Curumim-Erê
4.830 voluntários, tradutores, equipe técnica e representantes de entidades organizadoras
5.200 expositores de tendas, feira institucional, feira da economia solidária, restaurantes e lanchonetes
200 eventos culturais
1.000 artistas
4.500 profissionais de comunicação
800 veículos de comunicação credenciados
Fonte: Organização do FSM 2009
Rita Casaro*
*Com informações da Ciranda Internacional da Informação Independente e colaboração de Bia Barbosa