Soraya Misleh e Rosângela Ribeiro Gil
Nos dias 12, 25 e 26 de julho, respectivamente, a categoria teve a oportunidade de conhecer os planos para São Paulo dos prefeituráveis Miguel Manso (PPL), Fernando Haddad (PT) e Celso Russomanno (PRB). Eles participaram do ciclo de debates “A engenharia e a cidade”, realizado na sede do sindicato, na Capital. Entre os temas centrais apontados pelos três candidatos, mobilidade urbana, educação e saúde.
Manso iniciou sua preleção falando da premência de se retomar o planejamento no município – o qual, na sua opinião, está na contramão da tendência global, tendo perdido nos últimos anos mais de 500 mil postos de trabalho industriais. Assim, frisou que está em seu programa de governo recuperar a capacidade de São Paulo para o trabalho e o empreendedorismo.
Com esse mote, afirmou que começará sua gestão apresentando soluções ao sistema de transporte atual. Lembrando que 85% das vias públicas são ocupadas pelos carros particulares, Manso propõe a mudança de conceito, com a implantação da “Rede Ativa Planejada e Integrada de Ônibus Paulistano”, ou o “Rápido Paulistano”, que se baseia no metrô de superfície sobre pneus, com controle operacional centralizado, informatizado, priorizando sistema inteligente de semáforos da cidade, baseado em vias exclusivas, BRT Biarticulado, com capacidade para 300 passageiros. Sua projeção é de mais de 500km de linhas ao longo dos próximos quatro anos e construção de estações para esse modal. O candidato pelo PPL afirmou, ainda, que o atual sistema prioriza a pulverização do número de linhas (1.345 no total) em sistema tarifário que é benéfico apenas para o empresário e causa inúmeros transtornos ao usuário.
Manso também prometeu mudanças em outras áreas fundamentais, como saúde e educação. Nessa última, defendeu o fim da aprovação automática e a retomada do antigo “jardim de infância” para atender mais de 150 mil crianças de zero a seis anos de idade, bem como um professor para cada 30 alunos, condições para que o estudante da escola pública tenha acesso à USP (Universidade de São Paulo) e implantação do ProUni-SP, oferecendo 10 mil bolsas para baixa renda. Além da criação da UniSampa (universidade municipal), com oferta de 10 mil vagas em cursos técnicos e superiores, inclusive na área de engenharia. Quanto à saúde, na sua concepção, é prioritário um novo SUS (Sistema Único Paulistano) informatizado.
A pretensão de criar a Companhia Municipal Reusa SP para implantar 20 usinas termoelétricas para geração de 2GW de energia e vapor, com a queima de lixo e gás em 20 parques tecnológicos nas regionais, também foi apontada por Manso.
Pacto federativo e investimentos
Já Haddad acredita que São Paulo perdeu uma grande oportunidade de crescer junto com o País nos últimos oito anos. O candidato petista revelou que seu programa de governo, a ser apresentado no dia 13 de agosto próximo, visa um “redesenho urbano”. Nessa linha, Haddad, que foi ministro da Educação nos governos Lula e Dilma, prometeu a implantação de escolas técnicas, centros de formação do professor nas subprefeituras, ensino em tempo integral e utilização de verba do MEC, no valor de R$ 250 milhões, para a instalação de creches e pré-escolas.
Ao transporte público, Haddad considera ser necessário um “pacto federativo”, o que envolve convênios diretos entre o Executivo municipal e o governo federal, inclusive para expansão do metrô, hoje a cargo do Estado. “Estamos desde 2010 sem um único ‘tatuzão’ (equipamento que faz as escavações dos túneis).” Ele também criticou a administração atual por não ter apresentado projetos para participar do PAC Mobilidade (Programa de Aceleração do Crescimento). No seu plano de governo, afirmou, vai retomar os corredores de ônibus que não cresceram além dos “126 quilômetros implantados até a gestão da ex-prefeita Marta Suplicy (2000--2004)”. O candidato prometeu ainda discutir a implantação de monotrilhos, “levando em conta o impacto visual e urbanístico”.
Além disso, Haddad ponderou que resolver o problema da mobilidade envolve planejamento urbano. “Todos os dias São Paulo faz um megadeslocamento, transportando um Uruguai e meio”. Daí, conclui, a necessidade de aproximar a cidade do bairro e o emprego do trabalhador. Nesse sentido, agirá também para combater o déficit habitacional de mais de 510 mil moradias. “Nos últimos oito anos foram entregues menos de 15 mil habitações”, criticou.
O candidato pelo PT prometeu ainda retomar as inversões na área da saúde, com a construção de três hospitais e a implantação de um plano de carreira de forma a atrair os médicos para a rede pública. Além de adotar um conceito de gestão, regulação e informatização para que o tempo de espera para consulta, exames e cirurgias diminua.
Ter uma “zeladoria” na cidade é outro compromisso de Haddad, com um painel de controle de forma a se ter um “apanhado, em tempo real, do que está acontecendo, desde a poda de árvore até a manutenção de calçadas e das obras de arte (viadutos, pontes, passarelas)”.
Resgatar a cidadania
Para cuidar do município, Russomanno pretende contar com uma equipe de voluntários, incluindo o que chamou de “inspetores de quarteirão”. “Serão indicados pelas entidades de bairro e vão falar diretamente com os subprefeitos.” O corpo de voluntários que ajudará a administração a cuidar da cidade deve incluir ainda membros junto à Defesa Civil e formar um corpo de bombeiros municipal. Sua expectativa é que participe pessoal técnico qualificado, inclusive engenheiros. “Com isso, vamos construir cidadania.”
Além disso, Russomanno expôs alguns de seus planos para o município. Entre eles, reduzir a desigualdade e, consequentemente, a violência. Para tanto, afirmou: “Vamos assegurar educação pública de qualidade que permita ao jovem competir no mercado com quem sai da escola particular em igualdade de condições.” Sob essa ótica, continuou: “Vamos acabar com a promoção automática e retomar o ensino tradicional, com aulas de manhã e reforço à tarde. Vamos dar internet gratuita a partir dos bairros mais afastados para o centro.” De acordo com o candidato, oferecer o serviço de banda larga custa R$ 1,00 por habitante, mas sua pretensão não é o poder público arcar com o investimento, e sim assegurá-lo mediante, por exemplo, parceria com a iniciativa privada.
Nesse processo, Russomanno ponderou que a segurança pública também será melhorada, com a recuperação da antiga Guarda Civil Metropolitana, a qual trabalhará, segundo sua proposta, conveniada às polícias civil e militar. “Até o final do governo, vamos ter 20 mil guardas. Vamos atuar na prevenção e no policiamento ostensivo. Vamos monitorar com câmeras as ruas da cidade, que hoje existem, mas só servem para multar as pessoas.” Pegando o gancho, o candidato prometeu recuperar a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), “competente, mas abandonada". Em mobilidade e acessibilidade, apontou a intenção de investir em todos os modais.
Na saúde, o caminho, para ele, é prevenção. “Um paciente que foi parar na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) por desconhecer que era hipertenso custa R$ 120 mil. Com esse recurso, daria para pagar duas equipes multidisciplinares para cuidarem da prevenção de 2 mil pessoas.” Russomanno concluiu: “Quero construir uma cidade para todos, inclusive para a próxima geração, planejando o futuro de São Paulo.”
Ao final de cada debate, Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente do SEESP, entregou aos candidatos o documento “Cresce Brasil – Região Metropolitana de São Paulo” e a revista “Brasil Inteligente”. O primeiro, resultado de seminário sobre o tema realizado pelo sindicato e a FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), traz premissas à qualidade de vida na região. Já a publicação, elaborada pela CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados), aponta caminhos para cidades e País inteligentes, rumo ao desenvolvimento sustentável.
Além de Manso, Haddad e Russomanno, também esteve presente ao ciclo de debates a candidata Soninha Francine (PPS), no dia 3 do mesmo mês. E ainda em julho, estavam confirmadas as participações de Ana Luiza (PSTU) e Gabriel Chalita (PMDB). Acompanhe aqui a agenda de eventos no SEESP com os prefeituráveis.