Soraya Misleh e Rosângela Ribeiro Gil
Realizado entre 24 e 26 de setembro, na Capital paulista, em sua oitava edição, o Conse (Congresso Nacional dos Engenheiros) discutiu o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, os desafios atuais e perspectivas rumo a um país mais justo. Assim, reafirmou o compromisso da categoria com o desenvolvimento sustentável com inclusão social. Principal evento da FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), culminou na eleição de sua diretoria para o período 2013-2016 e aprovação de suas diretrizes de trabalho.
Essa terá à frente Murilo Celso de Campos Pinheiro, reconduzido ao cargo. Na oportunidade, foi ainda lançado o livro “A FNE e o desenvolvimento nacional” e pôde ser vista a exposição “Cresce Brasil”. A programação foi permeada por shows culturais.
À abertura do evento, na Sala São Paulo, muitas autoridades se fizeram presentes. Entre elas, o governador do Estado, Geraldo Alckmin; o prefeito da Capital, Gilberto Kassab; o ministro do Esporte, Aldo Rebelo; o presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Barros Munhoz (PSDB), e o da Câmara Municipal, vereador José Police Neto (PSD); além de outros parlamentares, secretários de governo, bem como do desembargador William Carlos Roberto Campos, representando o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Ivan Sartori.
Em sua saudação aos participantes, Murilo Pinheiro destacou o papel da entidade de influir nas políticas públicas, para além da atuação sindical, demonstrado no lançamento em 2006 do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”.
Perspectivas e balanço dessa iniciativa, atualizada em 2009, foram apresentadas pelo seu coordenador, Carlos Monte, no início dos trabalhos, sediados no Novotel Jaraguá. O “Cresce Brasil” apontava a necessidade de o País elevar seu PIB (Produto Interno Bruto) em 6% ao ano e diminuir a taxa de juros. Nesse contexto, traçou uma série de propostas, elencadas por Monte. Entre elas, expansão na oferta de energia de 7,8% ao ano.
Segundo o coordenador, a crise internacional iniciada nos Estados Unidos em 2008 reduziu essas estimativas. Não obstante, grandes projetos indicados no “Cresce Brasil” foram iniciados, como a construção das usinas nuclear de Angra III, em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, e hidrelétricas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, no Norte do País. A geração eólica também começa a ampliar-se. Monte revelou a perspectiva de prolongamento da crise, mas enfatizou que o Brasil tem disponibilidade orçamentária para dar sequência aos investimentos. Entre os previstos no “Cresce Brasil”, grande parte incorporada ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) em 2007, a obtenção da autossuficiência na produção de petróleo e gás – alcançada após a descoberta de reservas, em especial na camada do pré-sal –, ampliação sobretudo das malhas ferroviária e hidroviária, inversões em habitação, portos e aeroportos, bem como melhoria da gestão metropolitana.
O projeto dos engenheiros destacava já em 2006, ainda, a urgência de se aumentar o volume de recursos para ciência e tecnologia. O tema ficou de fora do PAC, como lembrou Monte, mas, posteriormente, as propostas dos engenheiros foram incorporadas pelo governo, fruto de conversas com o ministro da C&T, Sergio Rezende.
Outros resultados
O movimento lançado pela FNE verificou, além disso, outros resultados que vão ao encontro do “Cresce Brasil”. O coordenador do projeto salientou, por exemplo, obras de mobilidade em várias capitais; a criação da Empresa de Planejamento e Logística; a aprovação da lei que instituiu o Plano Nacional de Saneamento e o aumento de recursos a essa área (de R$ 4 bilhões/ ano em 2004 para R$ 14 bilhões em 2010); o lançamento pelo governo federal do “Minha casa, minha vida” em 2009, agora em sua segunda fase; a instituição do Plano Nacional de Banda Larga, com perspectiva de universalização até 2014; a manutenção e concessão de bolsas de estudo para 80 mil estudantes (entre doutorandos e mestrandos); a redução do desmatamento na floresta amazônica e o aumento da produtividade na agricultura.
João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical da FNE, destacou o protagonismo do movimento sindical dos engenheiros, capitaneado pela federação, em particular, e brasileiro como um todo. Tal papel tem, na sua opinião, garantido conquistas. Ele identificou dois eixos estratégicos à organização sindical na atualidade: a necessidade de luta contra a desigualdade social e, para tanto, de democracia, desenvolvimento e Estado com capacidade de ação.
Homenageado durante o VIII Conse, o grande colaborador do “Cresce Brasil”, Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), ponderou que ainda há muito o que caminhar para se alcançar um País justo. Criticando fortemente o projeto de instalação de multinacionais automobilísticas cujo início data dos anos 1950, em detrimento do desenvolvimento nacional e cristalizando no imaginário popular que ter um carro seria a realização de um sonho, ele enfatizou: “É urgente mudar a matriz logística nacional.” Ele revelou o dado alarmante do crescimento anual de 9% dessa frota nas cidades brasileiras (que concentram 80% da população), há mais de uma década e meia. Lessa vaticinou: “Não é viável o País enfrentar a crise mundial mantendo-se puxado por esse padrão. O movimento dos engenheiros vem dando substância às notas iniciais de um projeto nacional. Agora é preciso discutir soberania, sem o que não há desenvolvimento de fato. A chave para substituir o sonho do automóvel é investir no da casa própria.” Nessa direção, o secretário de Obras do Acre, Wolvenar Camargo, apresentou projeto habitacional e urbanístico que vem sendo desenvolvido em Rio Branco, capital daquele estado, intitulado “Cidade do Povo”.
Pode acelerar esse processo, ainda, a realização de megaeventos esportivos. Segundo Luís Antonio Paulino, secretário nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério do Esporte, a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 são oportunidades para que se melhore a infraestrutura urbana.
Um novo modelo nacional
Está nas mãos dos profissionais da categoria assegurar um País justo e igualitário. O reconhecimento foi feito pelo ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Abordando a Rio+20, Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável realizada em junho último no Rio de Janeiro, Carvalho destacou que o documento obtido tem limitações, dada a necessidade de que fosse decidido por consenso entre 180 países, mas é um avanço. Para ele, o principal ponto a demonstrar o resultado positivo é a inclusão do combate à pobreza no texto aprovado. Ainda de acordo com o ministro, a Rio+20 evidenciou que o modelo de desenvolvimento almejado está fundado no direito ao crescimento com distribuição de renda e inclusão social, bem como preservação da natureza. Ao final, após ouvir uma série de reivindicações, preocupações e perguntas dos engenheiros, ele concluiu: “Temos que aproximar a FNE dos órgãos de governo diretamente envolvidos com essas questões. O governo e povo brasileiro têm a ganhar com isso.”
Também durante o Conse, foi abordado o tema “Brasil inteligente: um país desenvolvido, justo e soberano”. O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães criticou a enorme desigualdade no País. A questão não se resolve, avisou, com transferência de renda, mas com geração de emprego, o que acontece apenas com aumento da capacidade de produção instalada, a partir de investimentos.
Na avaliação do professor da UFF (Universidade Federal Fluminense) e consultor do projeto “Cresce Brasil”, Marco Aurélio Cabral Pinto, para o País desenvolver inteligência com a urgência necessária, entre outras ações, é preciso aproximar o Sistema Nacional de Inovação e a educação básica e formar quadros tecnológicos.
Participaram ainda como palestrantes Ceci Juruá, pesquisadora da Universidade Estadual do Rio Janeiro; Wagner Costa Ribeiro, professor titular do Programa de Pós-graduação em Ciência Ambiental da USP; Valmir Gabriel Ortega, diretor do Programa Sênior de Política da Conservação Internacional do Brasil; Dario Rais Lopes, assessor especial para Aeroportos do Grupo EcoRodovias; e Roberto Siviero, gerente-geral de Estádios e Instalações do COL (Comitê Organizador Local da Copa do Mundo).
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