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CRESCE BRASIL - Energias alternativas dominam terceira edição do EcoSP

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Soraya Misleh*

      Realizado entre 25 e 27 de novembro último, na Capital paulista, o III EcoSP (Encontro de Meio Ambiente de São Paulo) teve como tema predominante eficiência energética e fontes alternativas. Promovido pelo SEESP e FNE (Federação Nacional dos Engenheiros), o evento reuniu em torno de 300 participantes.
        À abertura, que contou com a presença de autoridades e personalidades do setor tecnológico, o coordenador da iniciativa e vice-presidente do SEESP, Carlos Alberto Guimarães Garcez, comemorou o fato de a luta pela sustentabilidade ter avançado, não obstante os níveis de emissões de CO2 só terem crescido desde o pós-guerra. “Em 2009, há queda de 3%, mas devido à crise econômica e não à conscientização.” Ele informou ainda que, segundo a agência de energia dos Estados Unidos, nos próximos 20 anos serão investidos US$ 10 trilhões no setor em que atua. “A boa notícia é que, até 2020, US$ 415 bilhões serão destinados a fontes alternativas. Apesar da desproporção, já é alguma coisa”, avaliou.
       Sobre o tema, o deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) observou que o potencial de energia alternativa supera toda a capacidade de geração instalada no Brasil. “Cerca de 80% da nossa matriz é renovável. No mundo está em torno de 10% e nos países desenvolvidos, 14%.” Teixeira falou sobre o Projeto de Lei nº 630/2003, que prevê várias ações para implantar a política de fontes alternativas no Brasil, como os leilões de energia eólica, biomassa e PCHs (pequenas centrais hidrelétricas). Os programas de geração de eletricidade a partir do biogás obtido da criação de suínos também serão favorecidos com a lei, bem como o financiamento de aquecedores solares em habitações populares, em substituição aos chuveiros elétricos – que, como afirmou Teixeira, podem “representar mais de 20% do consumo de energia no horário de pico”. O projeto de lei visa também a criação de um fundo para pesquisa e desenvolvimento de energias renováveis, essenciais para a capacitação tecnológica e técnica do País. “Há ainda incentivos tributários à utilização de veículos elétricos, híbridos, a hidrogênio e a ar comprimido”, finalizou. 
       Mateus Duarte Teixeira, da empresa Arteche, observou: “É necessário o uso racional de energia elétrica para contribuir com a redução da demanda por novas usinas térmicas e hidrelétricas, diminuindo assim o grande impacto ambiental.” Conforme sua fala, há várias soluções simples. Entre elas, utilização de técnicas de reúso, captação de águas pluviais, pesquisa para autoprodução, substituição de dispositivos de iluminação por outros mais eficientes e de insumos como energia solar para aquecimento de água.
        Geração eólica foi o tema de José Tadeu Matheus, da Wobben Enercon Windpower. Ele indicou que o potencial é enorme, e o prazo para a implantação dos parques respectivos é relativamente curto: de 12 a 24 meses. Ademais, “as usinas ocupam áreas pequenas e permitem a continuidade das atividades agrícolas ou de criação de animais. Sem falar que é possível comercializar os créditos de carbono gerados”.
       Já Leonam dos Santos Guimarães, da Eletrobrás Termonuclear, destacou a contribuição da energia nuclear no contexto de preservação do meio ambiente e recursos naturais. Prevista no Plano Nacional de Expansão – o qual aponta que para 2030 todas as fontes serão necessárias e terão que integrar a matriz brasileira –, como ponderou Guimarães, seu papel é complementar, para assegurar segurança no abastecimento. Com essa visão, será implantada a usina de Angra 3, cuja operação deve ter início em 2015. E estão no planejamento mais duas outras centrais nucleares, no Nordeste e no Sudeste, a serem entregues antes de 2030. Cada uma terá 2 mil megawatts de capacidade instalada e área possível de expansão considerada. Na sua ótica, para o País avançar mais nessa seara, a geração através do processamento de urânio tem que ser desmistificada. “É energia limpa, segura, oriunda de grande riqueza nacional muito pouco aproveitada.” De acordo com sua explanação, o Brasil detém a sexta maior reserva do mundo, com 309 mil toneladas de urânio equivalentes, e apenas 1/3 é prospectado, basicamente no Nordeste.
        Outra forma de obter energia limpa foi apresentada pelo diretor da Biogás Energia Ambiental, Antonio Carlos Delbin: a partir da decomposição da matéria orgânica de grandes aterros sanitários. Segundo ele, tais projetos permitem ainda a futura negociação de créditos de carbono, o que ajuda a amortizar os custos de implementação. Esse foi o tema do consultor em sustentabilidade Marcelo Theoto Rocha. Ele apontou que somente em 2008 tal mercado movimentou US$ 126 bilhões.

 

Edificações sustentáveis
        Além do uso de fontes alternativas, outra tendência no País e no mundo foi destaque durante o EcoSP: a busca por edificações sustentáveis. Para Nelson Kawakami, da organização GBC (Green Building Council Brasil), o setor imobiliário talvez esteja entre os que mais agridem pesadamente o ambiente. “Vinte e um por cento de toda a água tratada no Brasil é usada na construção civil, que é responsável pela emissão de 25% do CO2, pelo consumo de 42% da energia elétrica e geração de 65% dos resíduos sólidos”, ilustrou. A despeito disso, conforme sua preleção, tem grande potencial para reduzir os índices.
       Entre as ações do GBC em nível nacional para alcançar esses resultados, ele citou: conscientizar profissionais e empresas para a adoção das edificações sustentáveis e certificar com selo internacional prédios construídos sob essa ótica. Ou seja, empreendimentos que busquem o uso racional dos recursos naturais, bem como eficiência energética – inclusive com geração eólica na própria fachada, o que já existe no mundo –, qualidade do ar, reciclagem de materiais e inovação. No País, como afirmou Kawakami, há hoje 148 processos de certificação nessa área. Não obstante observe que tem crescido a preocupação em garantir sustentabilidade em todos os grandes empreendimentos – como nos estádios a serem usados na Copa Mundial de 2014 e na edificação da Vila Olímpica para os jogos de 2016 –, ele asseverou que isso representa ainda menos de 1% do total de obras.
        Quando se pensa em sustentabilidade na construção civil, um dos materiais a serem levados em conta é a madeira. Tal, como lembrou Geraldo José Zenid, diretor do Centro de Tecnologia Florestal do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), reúne propriedades mecânicas positivas que a diferenciam, como baixo consumo de energia no seu processamento e absorção e fixação de CO2. Para utilizá-la adequadamente, afirmou, é fundamental informar-se sobre suas características básicas e a diversidade de tipos existentes. Desconhecê-las “acaba gerando desperdício, deterioração e insucessos”. Por exemplo, problemas com umidade em pisos e esquadrias decorrentes de má preparação ou instalação.
        O especialista observou que a madeira certificada é a ideal a se trabalhar, pois atende ao conceito de sustentabilidade. E lembrou que no Brasil já há milhares de hectares com qualificação inclusive internacional. Além desse material, há aquele feito de modo responsável, de acordo com a legislação. “A produção é por manejo florestal e o desmate, autorizado.” Todavia, ambos não são predominantes em território nacional. Zenid apontou que “60% a 70% da madeira comercializada no País é ilegal”. E ressaltou que esse processo de consumo predatório tem que ser banido, e as construtoras devem ter como meta não recorrer a ele.

 

Ambiente de trabalho saudável
        Ao dar sua contribuição ao meio, o setor da construção civil acaba por melhorar o bem-estar nos locais de trabalho, o que consequentemente reflete em aumento de produtividade, observou Kawakami. Outras iniciativas também têm esse impacto. Gisela Terra, gerente de controle ambiental da Casa da Moeda do Brasil, apontou as ações nessa empresa pública para reduzir as emissões de resíduos, bem como os consumos de energia e água, destacando que um dos principais objetivos é diminuir a exposição dos cerca de 3 mil colaboradores a riscos ambientais.
        Maria do Carmo Arenales, diretora da Arenales Fauna & Flora, enfatizou que esse é um dos benefícios da utilização da homeopatia no âmbito da medicina veterinária. Isso porque ao tratar o rebanho no campo dessa forma, o resultado tem refletido diretamente em vantagens ao meio ambiente e à saúde do trabalhador. Este último deixa de ser exposto a contaminações como por carrapaticidas e no local são eliminados resíduos orgânicos oriundos desses.
        Além desses temas, no EcoSP também foram explanadas as compensações ambientais no rodoanel, por Paulo Vieira de Souza, diretor da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.); responsabilidade social, por Rachel Negrão Cavalcanti, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); alternativas tecnológicas para tratamento de resíduos, por Sérgio Frates, da Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia); viabilidade ambiental em projetos, mudanças climáticas regionais e fitorremediação de solos e água, respectivamente por Antonio Carlos Rossin, da USP (Universidade de São Paulo), José Carlos de Figueiredo, do Ipmet (Instituto de Pesquisas Meteorológicas) da Unesp Bauru (Universidade Estadual Paulista), e Lourdes Cristina Pena Peloggia, da Quimbiol Serviços Ambientais.

 

* Colaboraram Lucélia Barbosa e Rita Casaro

 

 

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