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Opinião – Recuperar a engenharia de transporte

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Edilson Reis


O desmonte do Estado Brasileiro, operado especialmente em meados dos anos 90, resultou em falha grave no planejamento e na gestão de setores cruciais ao desenvolvimento nacional. Tal processo atingiu gravemente a área da engenharia, com a demissão de profissionais responsáveis pelo avanço tecnológico das empresas estatais que atuavam em setores estratégicos, entre os quais telefonia, energia, transporte urbano, ferrovias.

Felizmente, não foram afetados dois segmentos importantíssimos ao País: petróleo e aviação, que mantiveram em seus quadros os experientes engenheiros formados pelas estatais. Devido a essa preservação, foram possíveis projetos exitosos, como a exploração em águas profundas, hoje a caminho das reservas na camada do pré-sal, e a competitividade brasileira no mercado de aeronaves, de alto valor agregado. A manutenção da competência técnica dos profissionais que atuam na Petrobras e na engenharia aeronáutica no CTA (Centro Técnico Aeroespacial) é fruto de política de qualificação e atualização tecnológica dos engenheiros, conceito básico essencial à gestão de pessoas para que as estatais brasileiras pudessem fazer frente aos grandes projetos.

Num outro extremo, foi gravemente afetado o transporte público de passageiros na cidade de São Paulo. Na esteira do processo privatizante, em 1993, ocorre o advento da terceirização da operação do sistema de ônibus e a consequente extinção da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), que desempenhava o papel de operadora de 30% do sistema e de gestora do serviço prestado pelas permissionárias do modal sobre pneus.

Como função acessória, por meio da operação de 3 mil ônibus de variadas características técnicas, apurava dados de campo, indicadores e desempenho operacional dos veículos. Os dados levantados, analisados e processados eram utilizados pelas áreas técnicas da CMTC e também pelo Geipot, órgão vinculado ao Ministério dos Transportes, para composição das planilhas de remuneração, custos tarifários e elaboração de especificações técnicas veiculares para padronização do material rodante.

O exitoso projeto do ônibus padron, que agregava as tecnologias de ponta, verdadeira modernidade para a época, é um dos exemplos dessa cooperação técnica entre CMTC e Geipot. Esse, que era responsável pela política nacional de transportes e tinha, entre outras atribuições, apoiar tecnicamente as prefeituras, lamentavelmente também foi extinto em meados de 2000. Outro exemplo foi a bilhetagem eletrônica, projeto de relevância para o sistema de transporte, desenvolvido por técnicos da CMTC.


Mudança de rumo

Atualmente, observa-se uma reversão dessa tendência, com iniciativas que valorizam a engenharia brasileira. No nível federal, para absorver tecnologias do programa TAV (Trem de Alta Velocidade), o governo criou a EPL (Empresa de Planejamento e Logística). Em São Paulo, diante da perspectiva de expansão dos sistemas metroferroviários, a CPTM e o Metrô capacitam seus engenheiros e ampliam seus quadros técnicos para dar conta dos projetos de modernização, ampliação e acompanhamento das obras no Estado.

Para que a gestão municipal de São Paulo prepare seu corpo técnico para desenvolver e acompanhar os projetos previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) da mobilidade, seria bastante salutar que o futuro prefeito da Capital, que tomará posse em 2013, avaliasse a oportunidade de criação de uma empresa operadora de ônibus para atuar como braço operacional da São Paulo Transporte. Essa nova estrutura aproveitaria, em princípio, o corpo técnico remanescente e a expertise na operação da frota, no desenvolvimento tecnológico, na formação e qualificação de mão de obra e, principalmente, no controle e mensuração dos custos operacionais do sistema contratado. Seria uma empresa espelho e referência ao sistema, atuando de forma diferenciada, utilizando trólebus e outros veículos que utilizem energia de tração com baixo impacto ambiental.

Se no passado o cenário que levou ao fim da CMTC era a falta de recursos para investimentos em setores essenciais como saúde e educação, em 2012 o orçamento da cidade é estimado em R$ 38,8 bilhões, mais de 300% superior ao de 1993, enquanto o custo do sistema em junho último ficou em R$ 462 milhões, dos quais R$ 60,3 milhões de subvenção a título de compensações tarifárias, valores inferiores àqueles praticados em 1993.

Deseconomia mais significativa são as perdas causadas pela ineficiência do sistema de transporte, trânsito e mobilidade urbana na Região Metropolitana de São Paulo, que chegou ao limite da saturação, com perdas de R$ 55 bilhões ao ano, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas. Diante desse circulo vicioso, é mais que hora de dotar o sistema de transporte sobre pneus de uma empresa operadora pública a bem da cidade e da sua população.


Edilson Reis é diretor do SEESP e coordenador do
Grupo de Trabalho de Transporte,
Trânsito e Mobilidade Urbana da entidade

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