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Opinião – O custo social do consumo de gasolina nos veículos flex

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Paulo Augusto Soares

Como benefício gerado pela tecnologia dos veículos flex, quando esses utilizam o etanol brasileiro como combustível, devemos considerar não só o fator financeiro, que afeta diretamente o bolso do usuário, mas também aqueles que impactam positivamente o índice de desenvolvimento econômico e social da população como um todo. O setor sucroenergético, produtor de etanol e eletricidade, é um dos principais geradores de emprego do País, em especial por garantir renda no campo, fixando, com qualidade, o homem fora dos centros urbanos.

O investimento necessário para gerar um emprego direto no segmento é da ordem de R$ 430 mil, enquanto na atividade ligada às reservas de petróleo na camada do pré-sal, essa relação é da ordem de R$ 35 milhões. Mesmo considerando que o salário médio do segundo possa ser 20 vezes maior que o primeiro, ainda assim o etanol emprega mais e de forma muito menos concentrada. O número de municípios produtores de cana-de-açúcar é de aproximadamente 1.040; os de petróleo são menos que 180.

O uso do etanol substituindo a gasolina “C”, nas mesmas bases de quilometragem rodada, mitiga os efeitos da poluição, reduzindo os índices de ocorrência de doenças, ausências do trabalho, gastos com saúde e mortalidade. Quando se utiliza etanol, evita-se emitir de dois a 2,4 quilogramas de gás carbônico por litro de combustível equivalente, sem considerar outros materiais tóxicos como os particulados, o enxofre etc. Os 4,2 bilhões de litros de gasolina que não estão sendo substituídos por 6 bilhões de litros de etanol implicam emissão adicional de 12 milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera.

Baseado em estudo publicado pela Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), de autoria do professor Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, podemos estimar que o aumento do consumo de gasolina esteja provocando um incremento no número de internações da ordem de 16.800 e de até 280 óbitos por ano. Esse cenário representa um custo social de mais de R$ 180 milhões ao ano, sem considerar as perdas por absenteísmo ou queda de produtividade.

O impacto na balança comercial do País é significativo. Em 2008, não houve importação considerável de gasolina, mas sim exportação do produto, o que resultou num saldo positivo de U$ 1,6 bilhão. Registrou-se ainda venda para o exterior de U$ 2,4 bilhões em etanol. Em 2011, a situação se inverteu e a importação de gasolina atingiu U$ 1,6 bilhão;  o saldo comercial da exportação de etanol foi de U$ 0,8 bilhão. Considerando que a situação se repetirá ou se agravará em 2012, a perda cambial anualizada será da ordem de U$ 8 bilhões, se levarmos em conta que poderiam ter sido mantidas as mesmas condições existentes em 2008.

A oferta reprimida de 6 bilhões de litros de etanol corresponde à geração de 30 novas usinas dedicadas a sua produção e de eletricidade, as quais empregariam aproximadamente 54 mil funcionários diretos e 155 mil indiretos, representando um investimento da ordem de R$ 15 bilhões, que seriam destinados ao parque industrial brasileiro, sem considerarmos os investimentos agrícolas.

Há ainda que se considerar os efeitos positivos sobre a indústria automobilística, pois, com o etanol a preço atrativo, o consumidor continuará dando preferência aos veículos flex que são produzidos no Brasil, em detrimento da importação de automóveis a gasolina.

A situação atual não pode ser modificada no curto prazo, mas poderá piorar se não ocorrer uma retomada da expansão da produção de etanol, com base em uma política de Estado de longo prazo.

Paulo Augusto Soares é engenheiro químico e diretor da Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC

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