Rosângela Ribeiro Gil e Soraya Misleh
Reunindo cerca de mil participantes – público formado em grande parte por estudantes de engenharia de diversas cidades paulistas –, em sua sexta edição, o EcoSP (Encontro Ambiental de São Paulo) aconteceu em 12 e 13 de novembro último, no Parque de Exposições Anhembi. Sucessor do EcoVale, realizado por quatro anos consecutivos em Taubaté, no Vale do Paraíba, o evento promovido pelo SEESP e FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) consolida-se como importante fórum de discussão sobre o tema premente do desenvolvimento sustentável.
Assim, integra o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, lançado pela FNE em 2006. Para 2013, a previsão é que ocorra novamente em novembro. Além de plenárias técnicas, a iniciativa conta, tradicionalmente, com mostra de estandes temáticos – nesta edição, foram cerca de 30.
À abertura, o presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, enfatizou que a categoria tem muito a contribuir para criar tecnologias e processos à sustentabilidade. Já Carlos Alberto Guimarães Garcez, vice-presidente da entidade e coordenador do encontro, destacou a importância da participação dos estudantes de engenharia. Prestigiaram-na Carlos Roberto dos Santos, diretor de Engenharia e Qualidade da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), representando o secretário estadual do Meio Ambiente de São Paulo, Bruno Covas; Uladyr Nayne, presidente da Associação dos Engenheiros da mesma empresa; e Ernane Silveira Rosas, presidente do Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo.
Inovação, tecnologia e sustentabilidade foram os temais centrais desse EcoSP. A vinculação de tais aspectos é premente à busca de soluções globais ao desenvolvimento, segundo apontou na sessão inaugural o professor da Unitau (Universidade de Taubaté) e presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Taubaté, Eduardo Hidenori Enari. Conforme ele, as companhias nacionais necessitam avançar na inovação, a qual deve ser sustentável e gerar vantagens competitivas. Nesse contexto, indicou os benefícios do relacionamento universidade-empresa – propugnado no projeto “Cresce Brasil”.
Já o professor da mesma instituição, Paulo César Ribeiro Quintairos, salientou a necessidade de se gerenciar questões que afetam o meio ambiente relacionadas a tecnologia de informação. A essas, estariam vinculadas, de acordo com sua preleção, 2,5% das emissões globais de carbono e mais de 20% do dispêndio de energia em escritórios. Outro problema apresentado por Quintairos diz respeito à geração de lixo eletrônico. Na sua concepção, as soluções passam por inovação. Assim, é possível obter
“hardware mais eficiente quanto ao consumo de energia, formas alternativas de refrigeração da máquina, software para controle do uso dos recursos”, entre outras aplicações inteligentes. Quintairos observou ser ainda necessário ter projetos de reutilização dos equipamentos de TI, os quais podem ser aproveitados para inclusão digital.
Aplicações e avanços da nanotecnologia foram objeto da explanação feita pelo também professor da Unitau Evandro Luís Nohara. Traçando histórico da evolução do tema no mundo, ele ressaltou a importância da inovação, mas também a premência por pesquisas aprofundadas para se analisar os benefícios e impactos do uso da nanotecnologia. “Está entrando na área de alimentos e agricultura e alguns elementos como prata e zinco têm potencial de risco.”
As tecnologias e seu gerenciamento podem auxiliar a se alcançar padrão de desenvolvimento sustentável, o que é urgente, como reiterou outro professor da Unitau, Paulo Fortes Neto. “Se continuarmos com esse modelo, como vamos alimentar 1 bilhão de pessoas que ainda passam fome?.” Essa sessão plenária foi coordenada por Edson Aparecida de Araújo Querido Oliveira, pró-reitor de pesquisa e pós-graduação da mesma universidade.
Polêmica e ação coletiva
Coube ao físico Luiz Carlos Baldicero Molion, diretor do Departamento de Clima da Universidade Federal de Alagoas, abordar o polêmico tema “Aquecimento global: mito ou realidade?”. Sua tese é de que o planeta não caminha para um aquecimento, mas para um esfriamento, e que o CO² não é vilão, ao contrário, é o gás da vida. O efeito estufa, asseverou, nunca foi provado cientificamente. Na sua ótica, a pressão para diminuir esses gases se dá por interesses econômicos. Segundo o físico, é uma forma de manter os países em desenvolvimento estagnados. Molion acredita ainda que o termo “sustentabilidade” é incorreto, porque passa a ideia de algo que não acabará nunca. Assim, defende outro: “desenvolvimento durável, que dure o suficiente para conseguirmos ter novas tecnologias.”
Para Heitor Gurgulino de Souza, presidente do Capítulo Brasileiro do Clube de Roma, um mundo sustentável demanda ação coletiva. Segundo sua preleção, estudo feito pelo especialista norueguês Jorgen Randers, que resultou na publicação do livro “2052, a Global Forecast for the Next Forty Years”, aponta cenários possíveis para o futuro. Entre suas projeções, a de que tem havido expansão demográfica, mas essa situação vai se estabilizar entre 2040 e 2050, quando o mundo deverá ter 8,1 milhões de habitantes. O mesmo ocorrerá com a produção industrial e o crescimento econômico global. “A poluição terá um pico em 2040 e depois vai começar a diminuir.” Gurgulino relatou que o uso de combustíveis fósseis deve se reduzir a partir de 2020, assim como a emissão de gás carbônico. Em contrapartida, haverá rápido aumento do uso de energias renováveis. E a temperatura média do planeta, assim como o nível do mar, deve subir.
Esses temas estiveram em pauta durante a Rio+20, Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho último no Rio de Janeiro. Contudo, o palestrante acredita que o evento deixou a desejar em função de algumas dificuldades, como a obrigatoriedade de que os diversos países aprovem resoluções por consenso e a própria crise mundial. Ele vaticinou: “Se queremos um mundo melhor, será preciso criar instituições supranacionais (para pensar saídas), diminuir o uso de carvão, gás e oléo primeiro nos países ricos, que devem bancar uma economia baseada na baixa utilização desses nos pobres. Será necessário ainda encontrar lideranças para soluções construtivas. Com crescimento e tecnologias podemos realizar grandes coisas.”
Perfil do futuro engenheiro
A consultora educacional do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia), Denise Aparecida Tallarico Guelli Lopes, destacou a velocidade na inovação, o que exige que se prepare o estudante para o perfil demandado nesta “era do conhecimento”. “Não inventamos 50% dos produtos que consumiremos daqui a dez anos. Com o atual déficit de engenheiros de 20 mil por ano, precisamos formar mais e melhores profissionais, que não tenham medo do desconhecido e sejam eternos aprendizes.”
Na sua ótica, ao instituir o curso de graduação em Engenharia de Inovação a partir de 2013, o Isitec dá um passo além nesse sentido. Padrão presente também na requalificação, mediante pós-graduação e educação continuada. “Esse curso terá foco na inovação e sustentabilidade. O princípio é oferecer formação multidisciplinar de alta qualidade, fomentar a criatividade e o empreendedorismo.” A atualização na grade curricular será contínua e será valorizada a integração universidade-empresa. A ideia, assim, segundo Lopes, é que a proposta do Isitec sirva de modelo de reestruturação a outros cursos e faculdades.
Além desses temas, foram feitas explanações no EcoSP sobre “Gerenciamento de áreas contaminadas”, por Gustavo Freitas, da ConAm (Consultoria Ambiental); “Reciclagem de alimentos: compostagem”, por Cláudio Vinicius Spínola de Andrade, da Morada da Floresta Soluções Ecológicas e do Sindicato dos Nutricionistas do Estado de São Paulo; “Controle biológico de pragas”, por Alexandre de Sene Pinto, da Bug – Agentes Biológicos; além da apresentação das chamadas boas práticas empresariais e governamentais por Kalil Farran, gerente de Sustentabilidade e Comunicação Externa do Grupo Camargo Corrêa; e Marcelo Arreguy Barbosa, gerente ambiental da Dersa (Desenvolvimento Rodoviário S.A.), este último sobre questões ambientais na implantação do rodoanel.
Ao encerramento, Murilo Pinheiro concluiu: “Devemos fazer muitos outros eventos com estudantes, os profissionais que vão comandar este país futuramente. Aqui, representam de fato a inovação e vão trazer a oportunidade de discutirmos claramente a posição do Brasil no mundo e torná-lo cada vez mais presente, mais justo e mais desenvolvido.” Ele lembrou que o SEESP é o legítimo representante da categoria e convidou os futuros engenheiros a participarem do sindicato. “Se quiserem, podem se considerar sócios sem pagar nada até se formar.”