Além da numerologia – ao abrir o evento, que vai até dia 24, em 8 de agosto de 2008, às 8h08 –, os chineses fizeram inúmeros outros cálculos mais complexos, visando apresentar ao mundo estádios olímpicos que são verdadeiras obras de arte. Mais do que isso: evidenciar o uso de tecnologias “verdes”, com construções projetadas levando-se em conta a preocupação com o meio ambiente, num esforço para combater a imagem negativa do país quanto à poluição atmosférica. No total, foram investidos aproximadamente US$ 42 bilhões, sendo US$ 1,9 bilhão na reforma e construção dos estádios esportivos.
De um total de 37, os dois principais ficam lado a lado, no Parque Olímpico de Beijing, no nordeste da cidade: um é chamado de Ninho de Pássaro, por sua arquitetura peculiar, que dá jus ao apelido recebido. O outro – o Centro Aquático Nacional – é denominado Cubo d´Água, também numa referência ao seu formato, que à noite ganha brilho especial e a aparência de instalação coberta com bolhas iluminadas. Assemelha-se a uma caixa retangular azul gigantesca, mas internamente tem estrutura tridimensional. Foi inspirado, segundo consta do site da Embaixada da China no Brasil, no formato natural da bolha de sabão. Em sua estrutura desenhada por profissionais locais, foram utilizadas técnicas inovadoras que permitiram aliar as estruturas de aço a membranas de revestimento feitas com um tipo de plástico muito resistente (o ETFE, etileno tetrafluoretileno). De acordo com a informação oficial, a cobrir todo o local, foram usados 100 mil metros quadrados do material, o qual facilita a entrada de calor solar. Assim, além da economia de energia em cerca de 30%, mantém-se sistema de calefação eficiente nas piscinas. Não é a primeira vez que esse material, tido como solução ecologicamente correta, é empregado a serviço do esporte: recentemente serviu como cobertura ao Estádio de Hannover, preparado para a Copa do Mundo na Alemanha, em 2006, para permitir a passagem de 95% de luz natural.
A tecnologia pensada para o Cubo D´Água – que começou a ser construído em 2003 e foi entregue no início deste ano – possibilita ainda que o prédio filtre e reutilize a água das piscinas, ao contar com sistema de reciclagem do recurso hídrico. Feito para abrigar 17 mil espectadores, torna-se a esses um show à parte, em meio ao espetáculo olímpico.
O Ninho de Pássaro, último estádio a ser entregue, em abril último, não fica atrás. Com capacidade para receber 91 mil pessoas a acompanhar diversas modalidades, como atletismo e futebol, ocupa área de 20,4 hectares. Segundo divulgado no site da Embaixada da China no Brasil, o projeto suíço-chinês tinha como idéia inicial simular um ninho de dragão – ao que a iluminação que dá o tom vermelho à noite serviria perfeitamente. A cor se manteve, mas o formato adequou-se ao berço e morada de outra espécie animal. Nessa obra de arte, foram necessárias 45 toneladas de aço. As vigas formam ondulante estrutura metálica que se entrelaça e dá a idéia de um ninho de pássaro, tanto quando vista de fora, quanto internamente. Conforme informação oficial, também está equipado com sistemas de energia solar, no teto da bilheteria, e ventilação natural. Além de coletor que possibilita o processamento de 58 mil toneladas de água de chuva anualmente, para irrigação e limpeza. Para melhor aproveitamento dos recursos naturais, também se recorreu ao ETFE. Em ambas as edificações, a resistência a abalos sísmicos foi outra preocupação dos engenheiros.
Um mundo, um sonho
Os equipamentos culturais e a infra-estrutura em Beijing foram renovados e ganharam novos contornos, preparando a cidade para receber não apenas os atletas dos 205 países participantes, mas principalmente o público visitante. Foi, inclusive, construída linha de metrô especialmente para facilitar o acesso aos jogos. O ramal olímpico, como é chamado, tem 4,5 quilômetros e custou ao governo chinês US$ 195 milhões, como divulgado pela sua Embaixada no Brasil. E para circular somente pela via entre a parte urbana de Beijing e seção na Grande Muralha, quatro trens de alta velocidade foram fabricados.
Em notícia publicada no site da Embaixada, o integrador-chefe de tecnologia dos Jogos Olímpicos de Beijing, Hore Jeremy, destacou: “Antes de vir à China, muitas pessoas supõem que Beijing é uma cidade cheia de edifícios como o Templo do Céu e o Templo do Lama. Mas descobrirão que a capital tem também arquiteturas modernas tão fantásticas como o Ninho de Pássaro e o Cubo d´Água.” E concluiu: “A Olimpíada do povo, da alta tecnologia, verde, esses conceitos ajudam a cidade a melhorar; e o tema ‘Um mundo, um sonho’ deixará a todo o globo um legado real de que o mundo deve trabalhar junto, como uma equipe.”
Soraya Misleh