Cid Barbosa Lima Junior
Em julho último, alguns milhares de pessoas sofreram com o caos provocado pelos atrasos dos vôos da Aerolíneas Argentinas. Busquemos na história as questões maiores que se somaram ao overbooking. A empresa, que foi privatizada por Carlos Menem no auge do movimento neoliberal em 1991, era moderna, respeitada e lucrativa e foi arrematada em leilão pela espanhola Ibéria. Posteriormente, em 1994, o controle acionário passou à Marsans, da área de turismo, que a assumiu pelo preço simbólico de um euro.
Desde então, a Aerolíneas sofreu um processo de desmonte e de endividamento. Diante da crise, a presidente Cristina Kirchner foi obrigada a reestatizá-la, juntamente com a Austral, uma companhia regional, que também havia sido vendida pelo governo no passado.
Em verdade, esse movimento de reestatização se dá em vários segmentos da economia argentina, devido ao butim das privatarias, como gosta de chamá-las o colunista Elio Gaspari. Menem foi – de longe – o mandatário latino-americano que seguiu de forma mais aprofundada o receituário neoliberal, ditado pelo Consenso de Washington. Não há, no entanto, novidade nessa ida e vinda. Lá, como aqui, segue uma lógica escabrosa e tenebrosa. O Estado entra com o capital e o empresário entra com a sede do lucro sem riscos.
Déjà vu
No Brasil, na área da aviação, o exemplo mais recente é o caso da Vasp. Fundada em 1933, tornou-se em 1935 uma empresa de economia mista, com capital do Governo do Estado de São Paulo. Referência de sucesso, tornou-se uma companhia moderna e confiável. Em 1988, possuía 32 aeronaves e 7.200 funcionários. Por imposição do Governo Collor, foi transferida, em leilão viciado, ao Consórcio Voe – Canhedo, que arrematou 60% das ações ordinárias da empresa. Acabou sucateada e faliu.
As ferrovias brasileiras que eram privadas tiveram que ser estatizadas no início do século XX. Após a injeção de muito capital pelo Estado brasileiro, as ferrovias são novamente privatizadas. Hoje, as empresas estão sucateando boa parte da pequena rede ferroviária brasileira. Teremos que reestatizar o que sobrar do sistema? Teremos que concordar que os acontecimentos históricos ocorrem como tragédia e depois se repetem como farsa?
Estaremos nós, nações subdesenvolvidas ou em vias de desenvolvimento ou, mais modernamente, as emergentes condenadas a viver uma grande farsa?
Cid Barbosa Lima Junior é diretor do SEESP