Um reflexo imediato da retomada do crescimento econômico no Brasil foi a carência da mão-de-obra mais intimamente ligada ao desenvolvimento: os engenheiros. Para os setores da construção civil, naval, tecnologia de ponta, de repente, faltavam profissionais que dessem conta dos novos projetos com a excelência exigida. Tal cenário era previsível. Ao longo de mais de duas décadas de estagnação, a engenharia perdeu relevância e os profissionais se viram sem espaço para atuar. O bloqueio ao crescimento restringiu seu papel, impediu-os de exercer sua vocação e aplicar sua capacidade técnica.
Como conseqüência natural, a mão-de-obra existente e que não encontrava oportunidade migrou para outras atividades e deixou de se atualizar; para os estudantes, uma carreira na engenharia não era tão atraente. Por isso mesmo, no projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, em que se propõe um crescimento anual de 6%, a FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) alerta para a necessidade urgente de multiplicar a mão-de-obra apta a operar o sistema empresarial e de inovação. O que se defende é dobrar, para começar a conversa, o número de 30 mil formandos por ano, claramente insuficiente.
Longe de ser um problema a se lamentar, a atual demanda por engenheiros é um desafio que a sociedade brasileira deverá enfrentar com otimismo e determinação. É preciso agora recuperar esse prejuízo, lançando mão de todas as possibilidades: tanto requalificar os profissionais disponíveis, mas à margem do mercado, quanto garantir que mais jovens ingressem nos cursos voltados às áreas tecnológicas, assegurando a esses formação de qualidade.
O esforço deve incluir não só o ensino superior de graduação e pós, mas também o fundamental e o médio. Nossas crianças têm de aprender e entender física, matemática, química e biologia, para que no futuro possam produzir ciência e tecnologia. Além do governo, a tarefa deve envolver as universidades, o setor produtivo e as entidades representativas dos profissionais, pois todos têm contribuição significativa a dar.
Talvez, no futuro, sigamos até mesmo o exemplo da Alemanha, que já busca engenheiros na pré-escola, conforme matéria publicada pelo jornal Valor Econômico, de 17 de junho. Diante de uma situação em que há 95 mil vagas, frente a apenas 40 mil novos profissionais, as empresas resolveram pensar no futuro e já buscam desenvolver a vocação em crianças de três a seis anos. Entre as iniciativas, a Siemens distribuiu ao seu novo público-alvo 3 mil “caixas de descobertas” que trazem materiais para experimentos científicos. Enquanto isso, a Bosch envia aprendizes aos jardins de infância para explicar o que fazem os engenheiros e depois convidar a garotada a visitar a companhia.