A referência inicial da história do centenário da imigração japonesa tem como cenário a chegada do navio Kasato Maru no Porto de Santos, em 18 de junho de 1908. Era o fim de uma viagem de 52 dias, que provavelmente parecera interminável aos 781 imigrantes, cujas mentes vinham povoadas com sonhos a se realizarem aqui do outro lado do mundo.
A esperança era, colhido o fruto do seu trabalho num período de três a quatro anos nesta terra, retornarem vitoriosos à sua pátria natal, para junto de seus entes queridos.
Porém, para a grande maioria desses aventureiros, a história se mostrou totalmente contrária. Deparando-se com costumes e língua inteiramente estranhos às suas origens, nossos pais e avós tiveram que se submeter às severas condições impostas. Às custas de muitos sacrifícios, saudades, decepções, suor e lágrimas superaram todos os óbices que o destino lhes reservou.
Após as primeiras décadas da imigração, houve a eclosão da Segunda Guerra Mundial, gerando um pesado ônus ao Japão, que saiu do conflito totalmente destroçado após o lançamento pelos Estados Unidos das bombas atômicas nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, talvez em retaliação ao ataque japonês a Pearl Harbor, pois praticamente já estava selada a derrota do eixo.
Os reflexos dessa inglória contenda mundial foram sentidos pelos imigrantes aqui radicados, mas com o fim da guerra houve uma melhoria lenta e gradativa, também à medida que se dava a sua integração à sociedade brasileira.
Os nossos antepassados nos legaram a cultura da humildade, a trilha da honestidade, o respeito ao próximo, a obsessão pelos estudos, a questão da reciprocidade, o costume do não-desperdício e a veneração aos idosos, fontes perenes de sabedoria e conhecimento.
Na fase contemporânea, destacaria a grande atuação e formação dos nikkeys nas áreas das ciências exatas, empresarial, política, militar e artes.
Neste ano de comemoração do centenário da imigração, sentimo-nos abençoados e agradecidos em poder compartilhar, em igualdade de oportunidades com brasileiros de todas as origens e culturas, nesta terra abençoada que se chama Brasil. Uma das qualidades marcantes da cultura japonesa é o senso de gratidão. Portanto, a comunidade nipo-brasileira, que atualmente congrega cerca de 1,5 milhão de descendentes, rende uma significativa homenagem aos nossos pais e avós que souberam integrar-se com dignidade, humildade e sabedoria à sociedade brasileira.
Carlos Shiniti Saito é diretor da Delegacia Sindical do SEESP em Marília