Mário César Vieira Marques
O nosso país tem ficado em primeiro lugar no odioso ranking do desmatamento, apesar das tentativas do Governo Federal de ignorar ou minimizar os dados que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostra a quem quiser ver: relatório de janeiro aponta que 3.235km² de floresta foram derrubados entre agosto e setembro de 2007 e que no Mato Grosso a prática cresceu, desde janeiro, 60% mais do que no mesmo período do ano passado.
Não podemos fazer vistas grossas aos fatos. Além da ganância míope de quem desmata para explorar a terra com culturas incompatíveis com o tipo de solo da região, há o inegável mercado comprador dessa madeira derrubada de forma ilegal. Esse é só um exemplo da complexidade da questão ambiental contemporânea, que exigirá de toda a sociedade um grande esforço no sentido de mudarmos os parâmetros do que seja desenvolvimento.
Tratar do tema meio ambiente, e não só na Amazônia, exige um olhar abrangente e multidisciplinar. No que diz respeito à energia, embora o País tenha 41% do total gerado por hidrelétricas – modelo renovável e pouco poluente –, não temos acompanhado o esforço de redução de consumo em relação ao crescimento do nosso PIB (Produto Interno Bruto), como nos países mais industrializados, conforme mostra o quadro.
Ou seja, não nos é mais permitido ser perdulários. Além disso, é preciso até repensar a nossa matriz, lançando mão de forma mais efetiva, por exemplo, da energia solar, cujo potencial para exploração é grande num clima tropical. Concentrar todo o esforço na ampliação do modelo atual sem questioná-lo é sinal de preguiça e de medo diante de desafios.
Sobre a oferta de água, cujo consumo mundial aumentou dez vezes durante o século passado, apesar da nossa invejável posição no cenário mundial, devemos atentar para os mesmos princípios. A responsabilidade, inteligência, ousadia para inovar, romper com velhas práticas precisam fazer parte do nosso dia-a-dia. Temos chuvas abundantes, podemos aproveitá-las racionalmente, mesmo com as diferenças regionais. A quantidade que cai sobre a Grande São Paulo por ano é maior do que o seu consumo, não havendo razão para racionamentos, a não ser os problemas de gestão dos recursos hídricos disponíveis. A Bacia do Alto Tietê sozinha não consegue suprir as necessidades de quase 20 milhões de habitantes da forma convencional, sem o auxílio das novas alternativas e tecnologias.
É preciso seguir exemplos como o do Japão, onde as novas regras para a construção civil exigem sistemas particulares de reutilização da água para condomínios, hotéis, hospitais. No Brasil, como não há essa obrigatoriedade, as iniciativas são individuais, a depender do nível de consciência e interesse do empreendedor. Segundo o Conselho Econômico e Social da ONU (Organização das Nações Unidas), “água de boa qualidade não deve ser utilizada para fins que toleram uso de água de qualidade inferior”, como para descarga de banheiro, por exemplo. Tendo mais de 90% dos municípios das Bacias dos Rios Aguapeí e Peixe abastecidos com água subterrânea, parcial ou totalmente, chega a parecer insanidade ainda utilizarmos água tratada em vasos sanitários, lavagem de carros e calçadas, mesmo com regime de chuvas na região atingindo entre 1.200 e 1.400mm ao ano.
O atual ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, propõe mais rigor e menos burocracia. Aos co-responsáveis pela construção da nossa história, o desafio está posto: repensar os nossos atuais modelos de desenvolvimento com muito bom senso e doses de audácia.
Mário César Vieira Marques é secretário Municipal do Meio Ambiente de Marília