Garantindo mais economia, facilidade operacional e menor impacto ambiental, o Ipanema a álcool, fabricado pela Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A.) na sua unidade de Botucatu (antiga Indústria Aeronáutica Neiva), tem conquistado a preferência dos consumidores, basicamente produtores ou cooperativas agrícolas e prestadores de serviços na área de pulverização de defensivos.
“A projeção de venda para 2008 é de 30 aeronaves”, comemora Almir Miguel Borges, diretor industrial da planta que tem capacidade para até 40 unidades ao ano.
Tanto interesse deve-se basicamente ao preço do etanol, muito inferior ao da gasolina de aviação, conhecida como AVGAS, que gira em torno de R$ 3,50 o litro. “Para o produtor, que está próximo da usina, o álcool pode custar R$ 0,86”, ressalta Borges. Assim, mesmo consumindo cerca de 15% a mais, o modelo que utiliza o combustível renovável é vantajoso. Além disso, lembra Borges, outro benefício é a eficiência operacional. “O motor é 10% mais potente, o que eleva a quantidade do produto que pode ser transportado e, portanto, a área pulverizada num vôo”, explica o gerente comercial Marcio Astolfi Pedro. Também facilita o fato de o álcool, exatamente o mesmo que move a frota de veículos, estar disponível em toda a rede de abastecimento nacional, enquanto a AVGAS é encontrada em alguns aeroportos.
Depois da certificação e homologação pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) em março de 2005, foram vendidos 50 aviões a álcool, tendo sido entregues 44. Entraram no mercado também 170 kits de conversão para os que utilizavam gasolina. Embora ainda haja aqueles que optem pelo antigo modelo, a preferência pelo álcool é inegável, salienta Pedro. “Para cada dez vendidos, 9,5 são a álcool”, revela. Para adquirir um Ipanema que usa etanol, o interessado terá que desembolsar R$ 642.000,00 (o a gasolina sai por R$ 632.000,00), que podem ser financiados por fundos como o Finame (Financiamento de Máquinas e Equipamentos) que tem prazo de 60 meses e carência de até dois anos para o início da quitação. “Até lá, a aeronave já gerou receita para se pagar”, comenta. Para os kits, que saem por R$ 70.000,00, o comprador pode utilizar o cartão do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
Engenharia
Outro grande ponto a favor da nova alternativa diz respeito à redução da poluição. “Calculamos que em três safras, com uma frota de 140 a 180 aviões a álcool, deixamos de lançar 12 toneladas de chumbo tetraetila, que é um dos elementos do AVGAS”, afirma o gerente comercial. “O mundo vem caminhando para a busca de combustíveis alternativos, hoje existe uma consciência mundial sobre isso, que fatalmente vai atingir a indústria, inclusive a aeronáutica. O sucesso do Ipanema é um dado que servirá para outros processos em algum momento”, pondera Borges.
Já um sucesso comercial, o Ipanema a álcool começou a ser desenvolvido em 2002, estimulado pela confiabilidade que o etanol ganhava no País e pelas pesquisas da indústria automotiva para os carros flex. O esforço, que levou dois anos, foi de adaptação do motor Lycoming de seis cilindros, importado dos Estados Unidos. “O que mudamos foi a unidade de injeção – bombas, bicos, mangueiras, válvula reguladora de distribuição e filtro de combustível – e os instrumentos do avião, como seletor para o tanque”, relata Vicente Camargo, gerente de Engenharia. “A tecnologia brasileira de motor a álcool ajudou muito, especialmente no que diz respeito às soluções anticorrosivas. A diferença é que hoje os carros têm injeção eletrônica e o avião, mecânica”, completa.
Com capacidade de 292 litros de combustível nos dois tanques, consumo de 100 litros por hora, o Ipanema pode atingir velocidade de até 222km/h, voando a poucos metros do chão, o que é necessário para a pulverização. A partida, como nos veículos, é a gasolina, mas operada manualmente. Previsto para levar apenas o piloto, tem 7,43 metros de comprimento, 2,22m de altura e pesa 1.800 quilos. Uma bomba eólica garante o funcionamento do ar-condicionado sem consumo adicional de combustível.
Atualmente, informou Camargo, a engenharia da Embraer trabalha para adaptar o Ipanema ao combate ao incêndio. No hopper, que leva os defensivos agrícolas, iriam cerca de mil litros de água que poderiam ser lançados sobre o fogo. “Estamos tentando calibrar para que se tenha a maior lâmina d´água por metro quadrado para que seja eficaz”, informou.
Rita Casaro