Convocado pelas oito centrais sindicais brasileiras, aconteceu em todo o Brasil, em 11 de julho último, o Dia Nacional de Lutas com Greves e Mobilizações. A iniciativa teve o objetivo de levar para as ruas as reivindicações que clamam por solução junto ao governo federal e ao Congresso Nacional.
As bandeiras incluíam redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais; fim do fator previdenciário (coeficiente que diminui o valor do benefício levando em conta a expectativa de vida) e melhoria das aposentadorias; não à terceirização prevista no Projeto de Lei 4.330; destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e de 10% do orçamento da União para a saúde; transporte público e de qualidade; reforma agrária; e suspensão dos leilões de petróleo.
Em torno dessa pauta, aconteceu a mobilização que contou com paralisações durante todo o dia ou parte dele, protestos com interrupções de rodovias e atos de rua (veja abaixo). “Em 24 horas, houve no Brasil inteiro manifestações importantes de formas variadas, que envolveram pelo menos 11 milhões de trabalhadores. A pauta trabalhista hoje é nacionalmente visível”, avalia o consultor sindical João Guilherme Vargas Netto.
Como resultados mais imediatos das ações do movimento sindical, ele destaca o PL 4.330, da terceirização, que mesmo antes de 11 de julho havia sido retirado da pauta da Câmara dos Deputados. Além disso, afirmou, há compromisso do Congresso de derrubar o fator previdenciário, caso o governo não aceite a solução prevista no projeto substitutivo de autoria do deputado Pepe Vargas (PT/RS). Esse mantém a redução do benefício para quem deseja se aposentar sem a idade mínima, mas institui como alternativa as fórmulas 95 e 85, que somam a idade ao tempo de serviço, respectivamente para homens e mulheres, e eliminam o redutor.
Em reunião de avaliação do movimento no dia seguinte, 12 de julho, as centrais decidiram marcar para 30 de agosto o Dia Nacional de Paralisação, caso não haja resposta positiva por parte do governo às reivindicações.
Avenida Paulista
Palco de inúmeras manifestações promovidas pelo Movimento Passe Livre (MPL) e diversas outras iniciativas ao longo do mês de junho, a Avenida Paulista abrigou o ato das centrais na Capital, que contou com a participação da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), à qual o SEESP está ligado. Durante a atividade, que reuniu cerca de 7 mil pessoas, o presidente da entidade, Murilo Celso de Campos Pinheiro, que também dirige o sindicato, traduziu o significado da iniciativa. “Esse é um ato a favor do trabalho, da dignidade no emprego e do cidadão brasileiro. É uma luta de todos nós, brasileiros.”
Para Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), a mobilização foi “um alerta a todos os governantes, dos prefeitos à presidente Dilma, de que chegou a hora da pauta dos trabalhadores”.
José Maria de Almeida, da coordenação nacional da Central Sindical e Popular – Conlutas, foi na mesma linha: “O que os trabalhadores estão dizendo é que acabou a paciência. O governo Dilma tem muita presteza para atender o pedido dos bancos, do agronegócio, das grandes empresas, mas tem empurrado com a barriga as demandas da classe trabalhadora. Estamos aqui para dizer a Dilma, a Alckmin e aos prefeitos que não vamos mais suportar essa situação.” E concluiu: “Se esse protesto não bastar, o próximo passo é uma greve geral.”
O plano de uma paralisação nacional foi corroborado também pelo presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira (PDT-SP). “Hoje, milhões não foram trabalhar, outros foram para as ruas protestar. São manifestações pacíficas, com pauta única. Esperamos que sirvam para que a presidente possa atende essas reivindicações. Caso contrário, vamos trabalhar com a ideia de fazer outras e evoluir para uma greve geral no País.” Para o presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Wagner Gomes, se não houver mudança na atitude da chefe do Executivo a saída também pode ser essa: “Já estamos negociando essa pauta há dois anos com o governo e não sai do lugar. Vamos voltar a conversar, se não resolver, a tendência é marcar uma greve geral.” Presidente estadual da Nova Central Sindical (NSC), Luiz Gonçalves, também defendeu a paralisação nacional. “Se não formos atendidos, vamos chegar a uma greve geral com certeza.”
Nas ruas, para ficar
Independentemente do próximo passo a ser dado, os trabalhadores manterão a mobilização, afirmou Ubiraci Dantas de Oliveira, presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). “Essa luta que não começou hoje, também não para hoje”. Ele também destacou a importância da participação dos engenheiros na iniciativa: “A situação do desenvolvimento, especialmente no que diz respeito à tecnologia, está paralisada. Por isso a categoria é fundamental nessa luta e é muito positivo estar aqui, unida aos operários.”
Wagner Freitas, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), informou que um fracasso no esforço de negociação em torno do PL 4.330 pode desencadear novas mobilizações. “Se não chegarmos a um acordo, os empresários vão querer votar. Aí, vai de novo a nossa luta titânica para impedir que isso aconteça.” Para Gilmar Mauro, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), a tônica deve ser “nem um passo atrás nas conquistas”. Segundo ele, para tanto, é preciso “unificar a pauta coletiva e colocar povo organizado na rua”.
Por Rita Casaro, com colaboração de Fábio Pereira e Rosângela Ribeiro Gil
Um quadro das mobilizações pelo Brasil
Sudeste – No Estado de São Paulo, as manifestações começaram logo pela manhã com interdição de trechos das rodovias Anhanguera, Castello Branco, Raposo Tavares, Fernão Dias, Dutra, Mogi-Bertioga e a Cônego Domênico Rangoni. Em São Bernardo, as concentrações foram nas fábricas da Ford, Mercedes-Benz, Proema, Arteb, Sachs, Proxyon, Sogefi e Toyota. Os trabalhadores fizeram uma passeata e tomaram parte da Via Anchieta. A Avenida Goiás, em São Caetano, também foi fechada pelos trabalhadores da General Motors.
No Rio de Janeiro, seis centrais sindicais e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) organizaram uma manifestação. Paralisaram as atividades professores municipais e estaduais e funcionários dos Correios, que fecharam o Centro de Operações Postais, na Zona Norte.
Sul – Os ônibus dos municípios gaúchos de Porto Alegre, Viamão, Cachoeirinha, Gravataí e Alvorada não circularam durante a manhã. As agências bancárias e os Correios não funcionaram, assim como a maior parte das escolas de Porto Alegre.
A passagem nos pedágios foi liberada em pelo menos 14 praças do Paraná, devido a um protesto dos trabalhadores rurais do estado. Desde o começo da manhã, ruas e rodovias de Curitiba foram bloqueadas.
Centro-Oeste – No Distrito Federal, o MST ocupou a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para exigir a retomada dos assentamentos.
Em Goiânia, 40 sindicatos participaram do Dia Nacional de Lutas. Cerca de mil pessoas se reuniram na Praça do Bandeirante, no centro. Um grupo de 200 pessoas ocupou a sede da reitoria da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Anápolis.
Aproximadamente 12 mil pessoas se concentraram na Praça do Rádio, em Campo Grande (MS), para participar de um ato unificado.
Nordeste – Em Recife (PE), os protestos do Dia Nacional de Lutas se concentraram no complexo industrial portuário de Suape. As BRs 232, 116, 428, 194 e 101 foram ocupadas em alguns trechos.
Em Salvador (BA), diversas agências bancárias foram fechadas. A BR-324, principal rodovia entre capital e interior, foi bloqueada, assim como a Via Parafuso, que dá acesso ao Polo Petroquímico de Camaçari.
Em Fortaleza (CE), motoristas e cobradores bloquearam entradas e saídas de terminais de ônibus e manifestantes ocuparam avenidas de grande fluxo da cidade.
Norte – Em Manaus, 60% da frota de ônibus paralisaram suas atividades. Professores, estudantes e funcionários da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) bloquearam a entrada da instituição.
Grande parte das agências bancárias de Belém (PA) não funcionou. Membros de sindicatos e movimentos sociais se concentraram na frente do Palácio Antônio Lemos, sede da Prefeitura, para um ato unificado.
Fonte: Agência Sindical, com informações das centrais sindicais. Veja relato completo aqui