Com exposições sobre esses temas, a Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU) realizou no dia 15 de abril, na sede do SEESP, em São Paulo, o 1º Encontro da Profissional Universitária. A iniciativa foi promovida pelo Coletivo de Mulheres da entidade e fruto de reuniões realizadas nesse fórum desde sua criação, em 8 de março de 2013 – Dia Internacional da Mulher. Contou com a participação de profissionais das categorias abrangidas pela CNTU de todo o Brasil, entre as quais a dos engenheiros. Murilo Celso de Campos Pinheiro, presidente da confederação, saudou a iniciativa como uma busca por tornar cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas a inclusão e igualdade. Na sua concepção, “quando defendemos os direitos das mulheres, estamos defendendo todos os cidadãos”. Assim, ressaltou, “essa é uma responsabilidade de toda a sociedade”.
Compuseram a mesa de abertura diversas autoridades e personalidades, como o vereador paulistano Eliseu Gabriel (PSB); o secretário-geral nacional do Partido Pátria Livre, Miguel Manso; a presidente do PTB Mulher, Marlene Campos; a vice-prefeita de Diadema, Silvana Guarnieri, que preside a Delegacia Sindical do SEESP no Grande ABC; Dalva Chistofoletti, secretária-executiva da Associação Paulista de Municípios (APM); Cynthia Milhim, presidente do Fundo de Solidariedade de Franca e primeira-dama da cidade; Marta Livia Suplicy, presidente da Liga das Mulheres Eleitoras do Brasil (Libra); Raimunda Gomes, secretária de imprensa da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB); além de Gilda Almeida, vice-presidente da CNTU e coordenadora do seu Coletivo de Mulheres. Também prestigiou o encontro a deputada estadual Telma de Souza (PT).
Cenário desigual
A economista e pesquisadora do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Patrícia Lino Costa apresentou o tema “Mulher e trabalho”, discorrendo sobre a situação feminina no mercado e a construção da igualdade. A palestrante apontou dados que mostram o longo caminho a ser percorrido para tanto. Entre eles, a diferença salarial, com a mulher percebendo em média R$ 79,00 para cada R$ 100,00 ganhos pelo homem, apesar de ser mais da metade da força de trabalho. A taxa de desemprego também é mais elevada entre o gênero feminino e há mais dificuldades na ascensão profissional, com menos mulheres em cargos executivos, de gerência e supervisão. Entre as negras, a situação é ainda pior, como indicou Costa. Outro problema destacado por ela foi quanto à dupla jornada: “As mulheres dedicam 21 horas da semana com afazeres domésticos e os homens, 10 horas.” O cenário também é desigual quanto à distribuição entre as profissões abrangidas pela CNTU, com presença maior de mulheres em áreas ligadas a cuidado e menor nas tecnológicas, como engenharia. Na sua ótica, as negociações coletivas são o grande instrumento para se solucionar essas questões. Para tanto, enfatizou a necessidade de as mulheres ampliarem sua presença nas diretorias dos sindicatos – em que as diferenças também aparecem.
“Mulher e saúde” foi o tema abordado pela farmacêutica Clair Castilhos, pesquisadora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e secretária-executiva da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos. Ela apresentou contextualização histórica de como “as mulheres foram perdendo seus corpos dentro da sociedade patriarcal” e confinadas ao ambiente doméstico, para sua dominação. Mudança, conforme a pesquisadora, começa a ocorrer somente no século XIX, quando surge a mulher trabalhadora e a questão dos direitos reprodutivos, todavia restritos ao controle demográfico. Há uma série de avanços no século seguinte, fruto da luta do movimento feminista. “Os direitos reprodutivos passam a ser vistos como direitos humanos.” Castilhos destacou, contudo, que até 1983, quando se falava nos programas governamentais de saúde materno-infantil, o objetivo era que “o feto chegasse a bom termo”. Transformação efetiva se deu somente em 1994, com a realização da Conferência do Cairo. Evolução que seguiu até o começo da década atual. Uma série de iniciativas recentes, entretanto, sinaliza retrocesso, como o projeto de lei relativo ao “Estatuto do Nascituro, que tem em seu interior a Bolsa Estupro, ameaçando inclusive conquistas como o direito de aborto em caso de estupro e feto anencéfalo” – enquanto muitas mulheres continuam a morrer em clínicas clandestinas devido à não legalização do aborto. Castilhos destacou: “Voltamos à Idade Média na questão dos direitos reprodutivos da mulher.”
Sobre “Mulher e política”, a assistente social e chefe de gabinete da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), Muna Zeyn, lembrou que o voto feminino foi conquistado há 82 anos e “ainda hoje se diz que política não é para mulher”. No País em que essa parcela representa cerca de 52% da população e do Colégio Eleitoral, ela foi categórica: “É uma vergonha que haja apenas 9% de mulheres na Câmara dos Deputados e 12% no Senado Federal. Precisamos começar a nos empoderar para construir uma nova ordem social.” Assim, concluiu: “É importante termos muita consciência para promover essa transformação. Espero terminar 2014 com pelo menos 30% de mulheres no Parlamento.”
Por Soraya Misleh