Soraya Misleh
Como ocorre tradicionalmente desde 1987, o SEESP celebrou o Dia do Engenheiro – 11 de dezembro – homenageando aqueles que se destacaram durante o ano em suas áreas de atuação. Na data, foi entregue em solenidade realizada na sede da entidade, na Capital paulista, o prêmio Personalidade da Tecnologia 2009. Em sua 23ª edição, a iniciativa contou com a presença de aproximadamente 150 pessoas, incluindo autoridades e personalidades da área.
Compuseram a mesa de abertura, além do presidente do sindicato, Murilo Celso de Campos Pinheiro, o ex-reitor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e presidente da Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia, Hélio Guerra; o diretor atual dessa escola Ivan Falleiros e o eleito, José Roberto Cardoso, o qual é coordenador do CT (Conselho Tecnológico) estadual do SEESP; o vereador de Olímpia Luiz Antônio Moreira Salata, que preside a Delegacia Sindical em Barretos; além do presidente da Associação de Engenheiros Brasil-Alemanha, Edgar Horny, e do secretário adjunto de Esporte, Lazer e Turismo do Estado de São Paulo, Flávio Brízida.
Temas de grande importância ao Brasil, como pré-sal, empreendedorismo e a demanda por profissionais da categoria a que o País dê um salto qualitativo dominaram as falas na oportunidade. Não à toa. Como apontou Pinheiro, “o prêmio traduz o que o SEESP discute o ano inteiro. Em especial com o ‘Cresce Brasil’ (cuja edição atualizada foi distribuída no ensejo), pensamos naqueles que contribuem e apresentam propostas ao desenvolvimento nacional”. Cardoso explicou como se deu essa escolha: “Foi feita por uma comissão de alto nível, constituída por 34 pessoas.” Como resultado, foram indicados pelo CT seis nomes: Paulo Hilário Nascimento Saldiva (na categoria Ambiente/Sustentabilidade), José Roberto Bernasconi (Consultoria), Roseli de Deus Lopes (Educação), Paulo Assis Benites (Empreendedorismo), Fernando Leite Siqueira (Energia) e Almino Monteiro Álvares Affonso (Valorização profissional) – este último representado na ocasião por Emiliano Stanislau Affonso Neto, diretor do SEESP.
Cardoso lembrou que a preocupação inicial em 2009 foi com a educação, tema premente à engenharia brasileira. Na área, “são lançados no mercado algo em torno de 30 mil profissionais por ano e faltam continuamente cerca de 20 mil”. Segundo ele, o problema, patente e alertado pelo sindicato há anos, não está na oferta: são perto de 1.500 cursos e 150 mil vagas. Todavia, a evasão é surpreendente. “O rendimento é de 20% apenas. Isso não ocorre com profissão alguma.” Para ele, contribuição a esse resultado é dada no ensino médio. “Os vetores da carreira tecnológica – física, química, matemática – precisam ser bem dados.” Mas não basta: “As escolas de engenharia necessitam fazer algumas ações.”
Lopes foi indicada por sua contribuição nesse sentido. Ao ser agraciada, ela destacou o papel da informação na busca pela profissão. E foi mais longe: “Temos 50 milhões de estudantes na educação básica e muitos desistem às vezes antes de chegar ao ensino médio, porque estão destruindo sua criatividade.” Na sua concepção, isso acontece também nos cursos de engenharia. “É preciso aproveitar a tecnologia para propiciar ambientes mais criativos e divertidos. Em lugares como a Estação Ciência, a gente tenta mostrar que educação é muito bom. E com a Febrace (Feira Brasileira de Ciências e Engenharia, realizada na Poli), tenta demonstrar como nossos jovens são talentosos não só no futebol, mas na ciência e tecnologia. E podem ser úteis para resolver os problemas do País.”
Engenharia pelo desenvolvimento
Patologista, Saldiva lembrou, ao receber o prêmio, que foram os engenheiros que contiveram, por exemplo, doenças de disseminação hídrica, “com saneamento básico”. Agora, cabe-lhes garantir sua universalização, mobilidade urbana e toda a infraestrutura necessária a uma melhor qualidade de vida dos cidadãos. O planeta, reforçou ele, sofre com uma série de sintomas, e “a demanda terapêutica não está na medicina, mas na engenharia”.
Bernasconi enalteceu o papel da profissão diante das oportunidades colocadas ao País, entre elas com a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016. A primeira, observou, “é o maior evento midiático do planeta”, visto por milhões de pessoas em todo o mundo. E o Brasil tem a chance de promover transformações não só nas arenas em que ocorrerão os jogos, mas sobretudo em sua infraestrutura. “O País não pode se dar ao luxo de desperdiçar essas chances.” Para tanto, frisou, é fundamental “aumentar o coeficiente de engenharia”. Atitude empreendedora faz parte dessa receita e foi o que motivou a entrega do prêmio nessa categoria a Benites, que se comprometeu a dar ainda maior contribuição, trabalhando “pela qualidade de vida para transformar essa numa grande nação”.
Disso depende também garantir que a riqueza do pré-sal seja apropriada pelos brasileiros, a quem pertence. É o que ressaltou Siqueira, o qual aproveitou a homenagem para reforçar a luta em defesa do patrimônio recém-descoberto, “que pode abreviar as mudanças necessárias e ajudar o Brasil a sair da triste condição de ter 50 milhões de pessoas vivendo em condição de miséria”. Pode ainda, na sua ótica, estimular os jovens a entrarem na engenharia, “porque as perspectivas são fantásticas”.
Personalidades da Tecnologia 2009
Ambiente/Sustentabilidade
Paulo Hilário Nascimento Saldiva
Formado pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) em 1977, é doutor, livre-docente, professor titular em Patologia e pesquisador do Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental na mesma instituição. Dirigiu diversos serviços e divisões no Hospital das Clínicas e nos últimos dois anos publicou 36 trabalhos. É consultor ad hoc da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e membro do Comitê Assessor do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), na área de Biomédicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Empreendedorismo
Paulo Assis Benites
Engenheiro eletricista formado pela UMC (Universidade de Mogi das Cruzes) em 1990, é mestre e doutor em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo). Pertenceu ao quadro do Metrô (Companhia do Metropolitano de São Paulo) entre 1988 e 1995, atuando como assessor técnico do Departamento de Projetos Básicos e na unidade executiva do Programa Integrado de Transportes Urbanos. Atualmente é presidente da Trends Engenharia e Infraestrutura, empresa que fundou em 1995. É membro do Conselho Diretor da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) e da UITP (International Association of Public Transport). Possui diversos artigos técnicos publicados em revistas especializadas.
Consultoria
José Roberto Bernasconi
Engenheiro civil formado pela Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) em 1965, na qual foi professor entre os anos de 1970 e 1975, no Departamento de Estruturas e Fundações. É também advogado e já participou de diversas entidades de classe, como CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Upadi (União Panamericana de Associações de Engenheiros) e Instituto de Engenharia. Atualmente é diretor do Departamento da Indústria da Construção da Fiesp, além de estar à frente da Maubertec Engenharia e Projetos e do Sinaenco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva).
Energia
Fernando Leite Siqueira
Engenheiro eletricista formado pela Escola Nacional de Engenharia em 1969, iniciou sua carreira na Petrobras em 1971, na qual exerceu várias funções gerenciais até 1995. Reeleito presidente da Aepet (Associação dos Engenheiros da Petrobras), cargo que já exerceu por quatro mandatos, também está à frente do Conselho Fiscal da Petros (Fundação Petrobras de Seguridade) e é vice-presidente do Clube de Engenharia. Publicou recentemente o livro “La Batalla por el petróleo y el gas en America Latina”. Participa ativamente da campanha que defende os interesses da população brasileira no que diz respeito à exploração das reservas de petróleo na camada do pré-sal.
Educação
Roseli de Deus Lopes
Engenheira eletricista formada pela USP (Universidade de São Paulo) em 1987, é mestre, doutora e livre-docente do Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos na mesma instituição. Trabalhou em diversos projetos
de pesquisa e desenvolvimento de sistemas gráficos e técnicas de processamento de imagens aplicadas à medicina. Atuou no projeto e na implementação da Caverna Digital, primeiro sistema multiprojeção estereoscópico de cinco faces da América Latina. Hoje é diretora da Estação Ciência e faz parte do grupo de trabalho de assessoria do Projeto UCA (Um Computador por Aluno), do MEC (Ministério da Educação).
Valorização profissional
Almino Monteiro Álvares Affonso
Advogado formado pela Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) em 1953, possui longa carreira na vida pública. Foi ministro do Trabalho e Previdência Social do Governo João Goulart, sendo cassado pelo golpe militar de 1964. Viveu no exílio durante 12 anos, retornando ao Brasil em 1976. Entre os cargos que assumiu ao voltar ao País, o de vice-governador de São Paulo entre 1987 e 1991 e o de secretário dos Negócios Metropolitanos do Estado entre 1983 e 1986. É autor do projeto que deu origem à Lei nº 4.950-A/66, que estabelece o salário mínimo profissional dos engenheiros. Atualmente é assessor especial do Governador de São Paulo.