Em 21 e 22 de agosto, o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), mantido pelo SEESP, realizou em suas dependências, na Capital, o Seminário e I Feira Anual de Inovação de São Paulo. Entre os palestrantes, os apresentadores respectivamente dos programas Altas Horas e C.Q.C., das TVs Globo e Bandeirantes, Serginho Groisman e Marcelo Tas, além do artista Guto Lacaz.
Especialistas em inovação em suas áreas de atuação também ministraram palestras. Entre eles, Marcelo Frontini, do Bradesco, que abordou o tema em relação ao sistema financeiro, e Rogério Félix, da Saga, quanto ao mercado de games, destacando a formação e oportunidades nesse segmento no Brasil. Outro expositor, Paulo Mascarenhas, da MZO Interativa, centrou sua fala no uso de tecnologias da informação e comunicação (TICs) no ensino. José Marques Póvoa, diretor de graduação do Isitec, apresentou o conceito de engenharia da inovação – cujo processo seletivo para a primeira turma de graduação no instituto em 2015 será iniciado em 1º de outubro próximo. Segundo ele, a proposta é formar multiespecialistas, que poderão atuar em diversas áreas, numa perspectiva de aprendizado contínuo, como a realidade atual exige, diante da velocidade da inovação tecnológica.
Abrindo o evento, Groisman revelou sua ligação com o local em que está instalado hoje o Isitec. Ali, funcionou durante muitos anos o Colégio Equipe, onde estudou, o qual foi palco de grandes nomes da música popular brasileira durante a ditadura. “Aqui cantaram, nos anos 1970, João Bosco, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Luiz Melodia, um monte de gente. Os integrantes do Titãs, todos, estudaram nesse colégio, bem como jornalistas, diretores de cinema, políticos. A ideia é fazer um documentário sobre esse período”, revelou. Em uma escola que propiciava isso, oferecendo cursos de artes opcionais e abrindo suas portas às apresentações nos finais de semana, ele levava os artistas e produzia os shows. Na sua concepção, a instalação recente de uma escola que tem como diferencial a oferta de curso de engenharia da inovação guarda relação com o ambiente criativo e arrojado que vivenciou no Equipe e que contribuiu para sua carreira como apresentador.
Nas artes e na comunicação
Inovação e empreendedorismo foi tema da exposição de Célio Antunes, da Impacta Tecnologia, e de Mariana Juer Taragano, da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), bem como de Lacaz, que se debruçou sobre o assunto no que se refere às artes plásticas e à comunicação. Formado em 1974 pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de São José dos Campos, esse último apresentou sua trajetória, mostrando sua produção como artista multimídia, ilustrador, designer e cenógrafo.
Lacaz, que transita entre o design gráfico, a criação com objetos do cotidiano e a exploração das possibilidades tecnológicas na arte, apresenta, em todas as suas obras, humor, ironia e muita irreverência. Perfil encontrado, por exemplo, na intervenção urbana “Auditório para questões delicadas”, encomendada, em 1989, pela Prefeitura de São Paulo para homenagear o Bicentenário da Declaração de Direitos Humanos. O artista, durante três meses, se dedicou a criar um espaço flutuante com 25 cadeiras dispostas na superfície da água, no lago do Parque Ibirapuera. Ele lembrou que, no lançamento do trabalho, as cadeiras afundaram, o que o obrigou a refazer toda a estrutura e reapresentá-la. “Foi um trabalho em que me superei”, observou.
Outra intervenção inovadora, segundo Lacaz, foi a instalação “Eletro-Esfero-Espaço” para a 18ª Bienal de Arte, em 1986, que utilizava 26 aspiradores de pó. Com a sucção invertida, esses sustentavam no ar uma fileira de bolas de isopor, além de um tapete vermelho. Uma experiência individual, descreveu, sensorial em três dimensões: auditiva, visual e tátil. Utilizando ferramentas inusitadas, Lacaz afirmou que gosta muito do trabalho cinético, envolvendo mecânica e elétrica.
A inovação na comunicação esteve a cargo de Marcelo Tas. Engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP), para ele, tecnologia e inovação sempre estiveram presentes na vida das pessoas. Assim, discorda do pensamento que associa revolução tecnológica apenas ao que se faz na atualidade. “Precisamos olhar em perspectiva”, observou, citando o alemão Johannes Gutenberg, inventor da prensa mecânica móvel, no século XV, como o primeiro nerd da humanidade. Nessa linha, Tas também mencionou outro exemplo de intervenção inovadora, esta de 1945, com a publicação do artigo “Extra-terrestrial relays”, de Arthur Charles Clarke, na revista Wireless World, em que ele inspira a invenção do satélite.
Nos dias atuais, avaliou, existe uma “montanha” de informação disponível, em tempo real, que causa muito ruído. “Vivemos numa teia em tempo real, numa era que não tem volta e só se acelera.” Uma situação positiva, até porque, explicou, faz 100 anos que o homem quer ser móvel na sua comunicação a distância.
Por Soraya Misleh e Rosângela Ribeiro Gil