Lucélia Barbosa
Uma casa com área de 45m², com dois quartos, banheiro, sala e cozinha, ao custo de R$ 18 mil e montada em dois dias. Feita a partir de uma estrutura metálica resistente a corrosão, a moradia é vedada com fôrmas plásticas de polietileno de alta densidade, preenchidas com espuma de poliuretano, tornando-se uma peça leve, com isolamento térmico e acústico. Dentro dessas placas são colocadas a instalação elétrica e hidráulica e a fixação é feita com perfis de PVC (policloreto de vinila) nos sentidos vertical e horizontal, que garantem rigidez e impermeabilidade.
Após a montagem das placas, é realizado o acabamento interno em gesso, a aplicação de textura, pintura e até a colocação de revestimento cerâmico. Os demais materiais, como portas, janelas e louças, podem ser os convencionais de madeira ou alumínio.
A novidade, desenvolvida pela empresa cearense Impacto Protensão, está em processo de normatização pela Universidade Federal do Ceará, que testa um protótipo. Apesar disso, a inovação já está em uso em outros empreendimentos. “Em Fortaleza, já temos 150 unidades funcionando, entre elas várias salas de aula. Nosso objetivo é ajudar a diminuir o déficit habitacional do País, estimado em quase 8 milhões de moradias”, informa o engenheiro Joaquim Caracas, proprietário da companhia.
Antes de chegar à solução da “casa de plástico”, ele desenvolveu o “plasterit”. Feita 100% de plástico reciclado, é uma placa que substitui o compensado de madeira. Segundo Caracas, o molde de encaixe não requer mão de obra especializada, é leve e fácil de ser manuseado. “O que dois carpinteiros produzem hoje de compensado em 11 horas, dois serventes fazem em 20 minutos. Rapidez é a principal vantagem da tecnologia”, afirma. Outro aspecto favorável é a durabilidade e a falta de desperdícios. “Enquanto o madeirit sofre graves danos para ser desenformado e pode ser utilizado apenas 20 vezes, o plasterit é reciclável, não gera entulhos, pode ser moldado no formato que se deseja e tem até 300 usos”, garante o empresário. A questão ecológica também tem forte apelo na iniciativa: “Evitamos o desmatamento e a queima da madeira, reciclamos qualquer tipo de plástico que vem do lixo e reutilizamos no material produzido.”
A empresa usa o plasterit desde 2007 e já exporta para outras capitais do País, entre elas Rio de Janeiro e Curitiba. “Atualmente, são mais de 350 obras em andamento utilizando essa estrutura. Temos também três patentes no setor e mais nove em andamento”, informa Caracas.
Telha ecológica
Na mesma linha, a Telhas Leve, sediada em Manaus, criou um telhado fabricado a partir de Pet (polietileno tereftalato) reciclado. Conforme explica Luiz Antonio Pereira Formariz, um dos sócios do empreendimento, o processo começa com a limpeza do plástico que passa por várias lavagens. Em seguida, é moído e segue para as máquinas que o derretem e o inserem dentro dos moldes. Cada injetora elétrica leva 30 segundos para fabricar a peça, que pesa cerca de 6kg por metro quadrado, dez vezes menos que as telhas convencionais. Imitando o modelo romano de barro, pode ser confeccionada em várias cores e sua fixação é feita através de abraçadeiras de nylon.
Ainda de acordo com Formariz, o produto não resseca nem trinca, impede a ação de limo e fungos e suporta chuvas de granizo de pequena proporção e raios solares. “Elas estão preparadas para resistir a 85ºC, muito além da temperatura que normalmente encontramos na superfície dos telhados, que é de 50ºC”, informa. Segundo ele, a expectativa de vida útil da telha é de aproximadamente 40 anos, considerando que o Pet leva cerca de 300 anos para se degradar.
Diante de tantos benefícios, Formariz assegura que nem o preço mais elevado da telha plástica – R$ 35,00 o m2, contra R$ 19,00 (no mercado manauense) das convencionais – deve desestimular o consumidor. “Em compensação, nossa estrutura fica em R$ 15,00, enquanto a tradicional varia de R$ 65,00 a R$ 75,00. No telhado como um todo, há vantagem”, calcula.
Para ele, o ponto mais forte da inovação é a questão da sustentabilidade. “O mais importante é a preservação ambiental, que é hoje uma necessidade. A reciclagem é o futuro da humanidade.” Ainda conforme Formariz, utilizando a tecnologia desde 2005, a empresa produz 40 mil telhas por mês, com 50 toneladas de garrafas Pet adquiridas de várias cooperativas de catadores em Manaus, gerando cerca de 500 empregos indiretos. “Para reduzir custos e contribuir com o meio ambiente, tivemos a ideia de criar alguns pontos de coleta seletiva para reciclar as garrafas que iam para o lixo e
usá-las no nosso produto”, relata.