José Eduardo Villar Nassar
O relatório “Futuro climático da Amazônia”, do cientista Antônio Donato Nobre, chama a atenção para os possíveis efeitos devastadores advindos do desmatamento na Amazônia, com forte influência para a população do Brasil, destacando alguns ângulos da situação:
• a imensa capacidade que tem a floresta amazônica de contribuir para manter a umidade do ar, naquele bioma e em outras partes distantes;
• rebaixar a pressão atmosférica sobre toda a floresta, pois suga o ar úmido sobre o Oceano Atlântico para o interior do continente, mantendo o regime de chuvas. Temos lá uma imensa floresta adjacente ao oceano. Se fosse um deserto ao lado do oceano, as nuvens não iriam em direção ao continente, prendendo o deserto numa armadilha sem fim;
• Amazônia também exporta “rios aéreos de vapor”, que precipitam chuvas fartas a irrigar regiões distantes no verão do Hemisfério Sul.
No passado, o cientista Jonas Salk concluiu que “se todos os insetos desaparecessem da Terra, dentro de 50 anos, toda a vida na Terra acabaria, mas se todos os humanos desaparecessem da Terra, dentro de 50 anos todas as formas de vida floresceriam”.
O ser humano é praticamente dispensável no contexto da vida na Terra. Somos uma espécie que se aproveita do planeta para viver. Também somos a única capaz de danificá-lo, ao destruir a natureza.
A importância da Amazônia, segundo Antônio D. Nobre, nesse contexto, se dá por:
• trocar massivamente gases vitais com a atmosfera;
• ser celeiro da biodiversidade, embora só os índios soubessem disso até agora;
• nela, a água circula à semelhança do sangue no corpo humano, leva alimento e nutrição e retorna para ser renovada. O regime de chuvas amazônico é muito importante para a América do Sul e para o planeta, sendo talvez o mais poderoso.
A ciência sabe agora que as árvores atuam retirando água do solo para a atmosfera; são cerca de 600 bilhões de árvores que usam a luz do sol como energia. Num dia de sol, uma árvore grande transfere mil litros de água, a floresta toda transfere por dia para o ar cerca de 20 bilhões de toneladas de água. O Rio Amazonas transfere apenas 17 bilhões de toneladas por dia de água para o Oceano Atlântico. Há um verdadeiro rio de vapor de água sobre a floresta amazônica.
Essa realidade impõe o que o cientista chama de “paradoxo da sorte”: uma região na América do Sul, de Cuiabá a Buenos Aires e de São Paulo aos Andes, que deveria ser um deserto, como suas semelhantes no planeta, todas localizadas a 30° de latitude norte e a 30° de latitude sul. Mas não é desértica por ser ricamente irrigada pelo rio aéreo que nasce no Atlântico, evapora e flui pelo oceano verde da Amazônia, recebendo mais umidade, bombeada pelas árvores, e vem irrigar a região do “paradoxo da sorte”. É um poderoso rio a irrigar a América do Sul.
Também em razão disso a região equatorial do planeta não tem registros de furacões. Pois a poderosa sucção da umidade, do Atlântico pelo bioma amazônico, acelera o ar sobre ele e impede a organização dos furacões.
Como diz o relatório citado “... as florestas condicionam o clima que lhes favoreça, e com isso geram estabilidade e conforto, cujo abrigo dá suporte ao florescimento de sociedades humanas”.
José Eduardo Villar Nassar é engenheiro