Gestão e planos sustentáveis na agricultura são um caminho para enfrentar os desafios atuais, diante das crises hídrica e energética. Sob essa ótica, Arnaldo Jardim assumiu, em 1º de janeiro último, a Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. Engenheiro civil associado ao SEESP – como faz questão de frisar –, ele fala nesta entrevista ao Jornal do Engenheiro sobre os projetos para sua gestão à frente da pasta. Com longa trajetória na vida pública, o que inclui quatro mandatos como deputado estadual em São Paulo e três como federal, ele enfatiza a contribuição da engenharia e suas entidades representativas nessa trajetória, como demonstrado com o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE). Para Jardim, discussão fundamental à proposição de saídas de longo prazo, com a visão estratégica de continuidade do desenvolvimento nacional.
Qual o panorama da agricultura e abastecimento do Estado?
A pujança econômica do Estado teve na agricultura um fator indutor do seu desenvolvimento muito significativo. Nos últimos quatro anos, tivemos zero de crescimento econômico. A indústria cresceu menos cinco, serviços, menos dois, já a agricultura teve resultado positivo, o que impediu e deve continuar a assegurar que o desastre não seja maior em 2015, um ano difícil. A agricultura, portanto, tem historicamente um grande papel e conjunturalmente, nestes anos, continua mantendo uma vitalidade. Dos produtos agrícolas vem a sustentação da nossa balança comercial.
Quais os desafios à frente da Secretaria?
O grande desafio é mudar a imagem da agricultura, que apareceu, aos olhos da sociedade, como setor atrasado. A figura do Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato, passou a visão de que nosso homem do campo é indolente, pouco produtivo, um pouco preguiçoso, isso está longe de ser verdade. A nossa agricultura hoje é altamente desenvolvida. Temos, no Estado de São Paulo, 90% da colheita de cana de açúcar totalmente mecanizada. Essa agricultura tem nanotecnologia já utilizada como referência nos nossos rumos, nos novos cultivares. Queremos realizar um seminário específico com a participação do Isitec (Instituto Superior de Inovação e Tecnologia) sobre a necessidade de melhoria dos nossos equipamentos de irrigação, até por conta de uma contingência que surge com a escassez de água. Nossa atribuição é mostrar essa face dinâmica da agricultura, dar condições para que isso se amplifique e fazer com que esse grau de conhecimento chegue ao produtor, particularmente ao pequeno, que muitas vezes, por falta de informação ou recursos, não tem acesso tão rápido a esses avanços.
As crises hídrica e energética podem comprometer o abastecimento agrícola?
É uma situação muito desafiadora. Queremos ampliar a produção de energia a partir da biomassa. A segunda questão é mudar o padrão de transporte. No Brasil, o escoamento agropecuário se dá em grande parte por meio rodoviário, o desafio é ampliá-lo por hidrovias e ferrovias. Menos chuva significa menor produção e encarecimento do ciclo de vida. Poderíamos restringir a oferta de água, estamos trabalhando para que não chegue a esse ponto. Enquanto isso, algumas questões estruturais precisam ser feitas. Vamos buscar melhorar a eficácia e eficiência dos equipamentos de irrigação e estamos desenvolvendo algumas experiências piloto de um programa de recuperação das nascentes, em articulação com os municípios. Além disso, há em São Paulo um programa de regularização ambiental e estamos acelerando o cadastro das entidades para a recomposição de matas ciliares e de reserva legal, o que é importante para evitar assoreamento e, assim, garantir a qualidade da água. Estamos ainda pedindo a todos os nossos institutos de pesquisa que priorizem o estudo de cultivares que melhor produzem com escassez de oferta de água.
O projeto “Cresce Brasil”, na etapa atual, tem priorizado soluções nos setores hídrico e energético sob o mote de “não à recessão”. Como o senhor vê essa contribuição?
Vejo com o maior entusiasmo. O SEESP sempre procura todos os candidatos nas eleições e apresenta as propostas dos engenheiros no que diz respeito à retomada do crescimento. Beneficiei-me muito disso, um dos projetos que tive aprovado como deputado estadual foi inspirado e proposto por esse sindicato: o que determina o período que as empresas estatais de São Paulo controladas pelo governo devem liberar os seus funcionários engenheiros para atualização profissional. A FNE e o SEESP têm presença ativa em Brasília. Quando fui relator da política nacional de resíduos sólidos que disciplinou a questão do lixo, o sindicato foi muito importante. Quando debatemos sistemas de energia, o SEESP auxiliou e agora espero que nosso “Cresce Brasil” seja mais uma vez bem-sucedido, é importante para orientar políticas públicas de longo prazo. Na Secretaria, vou me apoiar muito nessas entidades para a discussão de temas relevantes que nos ajudem a promover a inovação tecnológica.
Por Soraya Misleh, com colaboração de Deborah Moreira e Priscila Silvério