Deborah Moreira
Com a evolução dos smartphones e tablets, existem aplicativos para tudo e para todos a um clique de distância. Na engenharia civil há desde opções gratuitas e versões de bolso de programas conhecidos, como AutoCAD, até os mais complexos, feitos exclusivamente para empresas, de técnicas construtivas a sistemas de gestão de projetos. De acordo com levantamento feito em 2014 pela AppFigure – plafaforma que reúne e analisa todos os dados de aplicativos existentes – o número para sistema Android cresceu 50% no ano passado.
Os chamados apps são basicamente programas de computador que têm por objetivo ajudar o usuário a desempenhar uma tarefa específica, em geral ligada a processamento de dados. Estudo sobre o mercado brasileiro, produzido pela International Data Corporation, encomendado pela Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes), aponta que o Brasil está em primeiro lugar no ranking de investimentos no setor de tecnologia da informação (TI) na América Latina, com 46% desse mercado que, em 2014, somou US$ 128 bilhões. Os softwares atingiram faturamento de US$ 11,2 bilhões, sem contar as exportações.
Somado a isso, cresceu a venda dos aparelhos. Segundo levantamento feito no ano passado pela Fundação Getúlio Vargas, o País conta com 306 milhões de dispositivos conectados à internet, dos quais 154 milhões são smartphones. Em 2015, as vendas (incluindo tablets) crescerão 8%.
O professor Edwin Cardoza, doutor em Engenharia de Produção e especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho, está de olho nesse nicho desde 2012. Com mais de dez anos de experiência em projetos de pesquisa e inovação, ele coordena a Startups IG Tech Sistemas, da Universidade Estadual de Maringá (PR), que desenvolveu o aplicativo Moblean. Trata-se de um sistema desenvolvido para monitorar os requisitos de Segurança e Saúde do Trabalho (SST) diretamente do canteiro de obras, disponível na PlayStore, em versão gratuita, e no site em versão paga. “Analisando o trabalho no canteiro de obras, me dei conta que ainda é tudo muito artesanal, feito com planilhas, em Excel”, conta o engenheiro.
Mais segurança e agilidade
Foi para agilizar os processos, fazer a coleta de dados com qualidade e rapidez e segurança que surgiu o aplicativo, que acabou focando na segurança do trabalho. Atualmente, com o app, é possível ter a dimensão real das necessidades. “À medida que o canteiro de obras vai se transformando, cada etapa se torna um processo e cada processo demanda itens, EPIs (equipamentos de proteção individual) que você tem que monitorar”, explica o professor.
Além disso, ele dá o tempo de execução, as sinalizações no canteiro, a necessidade de uso de máquinas e equipamentos específicos. E, em cada etapa, aponta três situações: verde para o que está correto, amarelo para o que ainda está insuficiente e vermelho para uma situação de risco de acidente. Outra possibilidade é a geração de relatórios, após a coleta dos dados, em campo, que são enviados para um sistema, além da estimativa de multa para determinada situação. O perfil da clientela são companhias que possuem certificados como ISO por estarem mais preocupadas em cumprir os protocolos. Ele lembra que a partir de 2016, com o Esocial, todos os empregadores terão que padronizar o envio de informações de seus empregados, o que provocará uma busca maior por aplicativos para esse fim. Uma das grandes queixas entre os desenvolvedores e consumidores dos produtos, entretanto, é a falta de universalização da banda larga, o que limita a possibilidade de uso dos apps.
Para dinamizar a relação com seus clientes, a SH Soluções, empresa de locação de fôrmas, andaimes e escoramentos, buscou uma desenvolvedora que criou o e-RV para confecção de relatórios de visitas a distância. “Tivemos muito problema com o cumprimento de prazos. Agora, com o aplicativo, melhorou muito o fluxo de informação. É possível até anexar fotos para mostrar ao cliente, em tempo real”, diz o engenheiro Leonardo Cardoso, da SH, que investiu até hoje R$ 70 mil no aplicativo. Ele continua: “Agora, o técnico vai ao canteiro com as mãos livres, só com o smartphone.”
O professor Marcelo Barroso, coordenador da graduação em Engenharia de Inovação do Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec), aponta que “esses recursos geralmente são oferecidos em módulos e favorecem o uso de smartphones e tablets por profissionais que estão nas obras, permitindo o controle da produtividade, perdas e materiais utilizados, melhor eficiência e a sustentabilidade dos empreendimentos”. Ele ressalta que é preciso vencer preconceitos e velhas fórmulas na formação: “Deve-se forçar, cada vez mais, mudanças na maneira de se educar em engenharia, preparar-se para o mercado, com presença crescente de inovações.”
Para o engenheiro civil Esdras Magalhães dos Santos Filho, diretor do SEESP, os aplicativos vieram para ficar. “Até bem pouco tempo eu não utilizava software para fazer cálculos. Agora, descobri um que superou qualquer expectativa. Nada supera a expertise, a experiência adquirida do engenheiro, mas quando precisar fazer um grande empreendimento, vou incluí-lo no orçamento para ganhar tempo e agilidade”, ressalta, referindo-se ao Volare 17, que permite a montagem de orçamentos a partir de composições de custo e insumos previamente cadastrados nas bases de dados do próprio software.
De acordo com a Pini, que desenvolve o produto, até o final de agosto estará disponível uma versão simplificada do aplicativo, que será utilizada 100% online, diretamente no navegador.