Rosângela Ribeiro Gil
A unidade federativa do País que mais tem investimentos em ciência, tecnologia e inovação (C T & I) é o Estado de São Paulo. Só em 2012, R$ 25 bilhões foram destinados a pesquisa e desenvolvimento (P&D), ou seja, 1,63% do Produto Interno Bruto (PIB) local à época, enquanto no Brasil todo se investiu o equivalente a 1,15% do PIB nacional – sem o Estado paulista, esse índice cai para 0,95%. A informação foi dada pelo diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Henrique de Brito Cruz, em palestra proferida na reunião do Conselho Tecnológico do SEESP, no dia 5 de agosto último, na sede do sindicato, na Capital. “Esses números mostram que planejar não é opcional, mas obrigatório no País. O nosso estado, por sua vez, mostra que tem recursos, o que não acontece em outras unidades federativas.”
Ele participa do grupo que há um ano está desenvolvendo o Plano Diretor C T & I de São Paulo – Horizonte 2020, junto ao Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia (Concite). O objetivo desse é buscar e otimizar as oportunidades para se aumentar o impacto social, econômico e científico das iniciativas que existem em São Paulo, que não são só estaduais, mas também federais e privadas, e articular melhor esse sistema em benefício da população paulista. “Temos mais alguns meses até chegar à versão final do plano”, aponta.
Graduado em Engenharia Eletrônica pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e ex-reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Brito Cruz informa que já se constataram, durante os trabalhos, algumas questões que precisam ser sanadas. “Identificamos muito claramente que uma grande restrição à formação de recursos humanos para a ciência, tecnologia e inovação no nosso estado se deve à limitação no número de pessoas que conclui, com bom aproveitamento, o ensino médio.” O que exige, argumenta, ampliar o trabalho em educação, especialmente a do ensino básico, “para termos mais ingressantes bem qualificados nos cursos superiores”.
Contribuição ao País
Outra questão identificada, observa o especialista, é que as pesquisas científicas das companhias, apesar do grande volume e dos benefícios a elas, não alcançam projeção internacional, apenas regional. “Ou seja, as empresas que operam no nosso estado devem buscar mercados mundiais, além do nacional.” A mesma situação é observada nas universidades estaduais, especialmente aquelas mais fortes em C T & I, para que se intensifique o impacto global de suas pesquisas. Ele declara que companhias espanholas aparecem muito mais no mundo com suas pesquisas do que as brasileiras. “Isso está mais ligado à estratégia das empresas, e não à capacidade dos profissionais”, esclarece. Nesse sentido, um dado já levantado na elaboração desse plano diretor mostra que o número de pesquisadores em São Paulo aumentou de 31.780, em 2001, para 57.075, em 2011, sendo a maioria formada por profissionais de engenharia, sem necessariamente ter mestrado ou doutorado.
Brito Cruz diz que o “mantra” que se tem no País de que as empresas investem pouco ou nada em pesquisa não é verdadeiro no Estado. Na realidade, é desse nicho que provém a maior fatia: dos R$ 25 bilhões aplicados em P & D em 2012, quase R$ 15 bilhões vieram da iniciativa privada, o que dá 59% do total. Todavia, ainda é um valor baixo, por exemplo, em relação aos Estados Unidos ou à China, cujo percentual chega a 80%.
O diretor da Fapesp apresentou um quadro de 2011 sobre os estados brasileiros em termos de recursos em pesquisa e desenvolvimento. São Paulo aparece em primeiro lugar com 71%; em segundo, com dez vezes menos investimentos, está o Rio de Janeiro, com 7%; seguido por Paraná, 6%; e Minas Gerais, 3%. Lembrando que um terço do PIB nacional provém deste estado, Brito Cruz destaca: “Se cuidarmos bem desse um terço e o fizermos funcionar mais eficientemente, já é uma contribuição para o País.”
O diretor da Fapesp observa ainda que as pesquisas científicas são fundamentais e integram o cotidiano dos cidadãos. “Quem usa telefone celular está se beneficiando de pesquisas feitas nos anos 1940, 1950 e 1960, por exemplo. Da mesma forma, quem toma vacina.” Portanto, como ressalta ele, ciência e tecnologia são parte essencial não só do desenvolvimento econômico, mas social, melhorando a qualidade de vida. “Todos os dias somos beneficiados por essas pesquisas.”