Lucélia Barbosa
Contribuir para a melhoria do ensino de engenharia e consequentemente ampliar a formação de mão de obra qualificada necessária ao desenvolvimento do País é uma das principais metas a serem atingidas com a criação pelo SEESP de uma IES (Instituição de Ensino Superior).
O projeto foi apresentado aos dirigentes do sindicato e a personalidades da área acadêmica, em 28 de abril, pelo seu coordenador-geral, Antonio Octaviano, com a participação de colaboradores e consultores da iniciativa, que está dividida em duas etapas. A primeira contempla um estudo de viabilidade e vai até o final de maio. De junho a outubro, o trabalho entra na fase denominada instrução do processo para encaminhamento da proposta ao MEC (Ministério da Educação), visando obter a autorização e o credenciamento para que a IES comece a funcionar, o que está previsto para 2011.
O objetivo da iniciativa é proporcionar um ensino de qualidade para formação e capacitação de profissionais com ênfase em inovação tecnológica nos níveis de graduação, pós-graduação lato e stricto sensu e na educação continuada. Outra meta importante é estabelecer o intercâmbio e a cooperação com instituições nacionais e estrangeiras, com a possibilidade de bidiplomação.
Será uma instituição privada, com parcerias nos diferentes segmentos da sociedade, atuação na educação continuada através da rede sindical instalada nas 25 delegacias do SEESP e nas 18 entidades filiadas à FNE (Federação Nacional dos Engenheiros). Algumas diretrizes para garantir a excelência serão a interação com empresas em programas de capacitação, pesquisas e serviços voltados à inovação e à competitividade, captação de estudantes mais qualificados, garantia de financiamento ao aluno, infraestrutura com laboratórios e métodos de ensino mais avançados.
Desafio
Em sua explanação, Octaviano apresentou um levantamento realizado pelo SEESP e pelo Instituto Lobo, consultoria especializada contratada pelo sindicato, sobre o ensino das engenharias no Brasil, que aponta a evasão como um dos principais problemas a ser enfrentado.
Segundo o diagnóstico, em 2008 havia 172.590 vagas, às quais ingressaram 134.387 alunos. No entanto, no mesmo ano, apenas 30.543 graduaram-se engenheiros. Outro dado importante é que apenas 50% dessas cadeiras nas escolas particulares são ocupadas. Nelas, o número de desistência é maior e nem 10% se formam. No Estado de São Paulo, por exemplo, os dados de 2008 mostram 59.641 vagas disponíveis, 29.091 ingressantes e somente 4.190 formados. Nas faculdades públicas, a situação foi um pouco melhor: ao todo, foram oferecidas 15.814 vagas, entraram 14.496 e concluíram 6.680. “Hoje a formação de engenheiros é um gargalo e essa evasão tem a ver com a qualidade e a metodologia de ensino. Portanto, é fundamental criar um curso modelo que sirva como referência no Brasil e que preencha esse nicho tecnológico”, acrescentou Octaviano.
De acordo com Maria Beatriz de Carvalho Lobo, vice-presidente do Instituto Lobo, a única forma de mudar esse quadro é fazer o acompanhamento cuidadoso do aluno. “No Brasil não temos o costume de acompanhar o que acontece com o estudante formado. É muito importante participar da sua inserção no mercado de trabalho e é isso que pretendemos fazer, participar da vida acadêmica do início ao fim. Esse será o nosso diferencial”, mencionou.
Para José Roberto Cardoso, coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e diretor da Poli/USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), a ideia é mais que pertinente. “A evasão nos cursos de engenharia da Poli é de 150 alunos por ano. Portanto, é muito importante melhorar o rendimento das escolas e adotar novas estratégias para acompanhar esses jovens com mais rigor. O SEESP está no caminho certo”, opinou.
Projeto antigo
Conforme Octaviano, a preocupação do SEESP com a área de educação não é novidade e pode ser facilmente comprovada através das inúmeras iniciativas voltadas ao tema, entre elas, publicações diversas, palestras em escolas e associações, cursos de curta duração, Programa Engenheiro Empreendedor e convênios com universidades. “Conquistamos ainda um acordo com a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), que prevê 12 dias de requalificação profissional sem prejuízo da remuneração, e a Lei Estadual 8.029/93, que também determina seis dias de qualificação por ano. O nosso estatuto já antevia essa iniciativa ao inserir em seu conteúdo a implantação de cursos especializados e a formação de mão de obra. Além disso, temos o Conselho Tecnológico e o projeto ‘Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento’ que apontam nessa direção”, concluiu.