Soraya Misleh
Eleita uma das 12 cidades que podem sediar jogos do mundial em 2014, a Capital paulista ainda não tem definição sobre o estádio a ser utilizado. Várias possibilidades têm sido cogitadas. Para Flávio Brízida, secretário adjunto de Estado de Esportes, Lazer e Turismo de São Paulo, a arena multiuso proposta pelo Palmeiras se situa em área com restrição de afluxo de pessoas (no bairro de Perdizes), mas é uma alternativa e traz conceito moderno de sustentabilidade, o que garantirá seu aproveitamento pós-Copa.
Com capacidade prevista para 45 mil espectadores e investimento de cerca de
R$ 300 milhões, segundo informações disponíveis no site do clube, o projeto começa a ser executado pela WTorre Engenharia, e o complexo deve estar concluído em 2012. O entorno também sofrerá adequações.
José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco-SP (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva, seção São Paulo), concorda que essa é uma alternativa, mas não para a atividade inaugural da Copa, dada a capacidade de público insuficiente. E não rejeita o Morumbi para abrigar disputas até as quartas de final – muito embora este tenha sido descartado oficialmente pela Fifa (Federação Internacional de Futebol) em junho último, sob a alegação de que seu proprietário, o São Paulo Futebol Clube, não apresentou as garantias financeiras para a realização das obras necessárias. “Aquela ideia de São Paulo ser sede da abertura com esse estádio demandaria reforma ampla e cara. Seria preciso rebaixar o campo em quatro metros para ampliar a capacidade para cerca de 65 mil, uma intervenção muito pesada, que requereria ainda drenagem da área.” Ele observa que o clube em questão apresentou nova proposta, menos custosa – em torno de R$ 250 milhões, contra os mais de R$ 600 milhões necessários anteriormente –, que não ultrapassaria dois anos para ser feita. Com essa, poderia se garantir visibilidade em toda a arquibancada, acessibilidade e outras melhorias em atendimento às exigências da Fifa. Na sua análise, infraestrutura de transporte também não seria problema. “Está previsto monotrilho na região e a inauguração da estação São Paulo-Morumbi do metrô (a 1.180m do estádio). Acho que deve se reexaminar a situação.”
Novas obras
Bernasconi não é contra fazer outros estádios, como o Piritubão, “mas não de afogadilho”. Ele pondera que o terreno de 5,5 milhões de metros quadrados é acidentado, coberto de vegetação. “Tem que fazer um plano diretor para a área, preparar o espaço, fazer projeto, obter licenciamentos, calcular o impacto ambiental. E quem bancaria esse empreendimento?” Para Brízida, a iniciativa privada poderia investir – inclusive com ajuda do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que abriu linha de crédito para possibilitar inversões em estádios para a copa. Dificuldade para tanto, contudo, é a denúncia feita pela mídia em 14 de julho de que a área onde se localizaria o estádio está contaminada por metais pesados e passando por recuperação, segundo relatório da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) divulgado em 2009. O que poderia inviabilizar essa opção, teriam alertado ambientalistas.
Se for para pensar em projetos novos, o consultor de engenharia urbana Luiz Célio Bottura, membro do conselho do Instituto de Engenharia, prefere retirar da gaveta uma solução antiga que havia apresentado para a cidade: a construção de um espaço multifuncional no centro da cidade, na região da Luz. “Além de revitalizar a área, fica em excelente localização, perto de hotéis e com toda a infraestrutura de transporte já disponível.” O arquiteto e urbanista Cândido Malta é outro que aponta alternativa: a construção de arena multiuso no terreno doado há anos para o Corinthians pela Prefeitura, ao lado do metrô Itaquera. Como avalia Marcelo Tessler, diretor da Tessler Engenharia, empresa responsável por elaborar o projeto, este deve ter em torno de 180 mil metros quadrados. Já há um estudo pronto, de autoria do arquiteto Eduardo de Castro Melo. “A obra duraria cerca de dois anos.” Ele estima investimento de R$ 400 milhões, e o estádio poderia abrigar 50 mil pessoas. Há ainda proposta para o clube em Guarulhos, em parceria do Banco Banif e Construtora Hochtief do Brasil. “O maior impacto seria quanto a obras viárias.”
Diante de tantas possibilidades, Bottura sugere a realização de um debate técnico para se indicar a melhor solução do ponto de vista da engenharia.