José Roberto Cardoso
No final do mês passado, o professor Marco Antonio Zago, pró-reitor de pesquisa da USP (Universidade de São Paulo), mostrou que o Brasil titulou 10,7 mil doutores em 2008, isto é 56 DO/Mh (doutores por milhão de habitantes). Este número parece ser expressivo quando comparado com resultados da América Latina, a qual titulou 13,3 mil no mesmo ano.
O Brasil é responsável por 80% dos doutores dessa grande parcela do planeta. O segundo mais produtivo da América Latina é São Paulo, com 4,7 mil e o terceiro, o México, com 2,3 mil.
Agora, excluindo os EUA, imbatível em qualquer indicador, se compararmos com países desenvolvidos da Europa e da Ásia, os índices brasileiros perdem de longe. Vejamos a Alemanha, que titulou, no mesmo ano, 24,7 mil, uma média de 300 DO/Mh, seguida do Japão, com 15,3 mil, com uma média de 120 DO/Mh.
Analisando o desempenho isolado de nosso estado, esse indicador atinge a média de 110 DO/Mh, bem próximo da França, com 130, e do Japão, com seus 120.
Esse desempenho do Estado de São Paulo está, sem dúvida, atrelado à excelência de suas universidades públicas estaduais e federais, as quais são apoiadas pela mais eficiente agência de fomento à pesquisa do País, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Como não somos uma ilha isolada, devemos pensar no todo e investir pesado na formação de novos doutores, para garantir a geração da tecnologia que tanto precisamos.
Os nossos jovens devem contemplar em suas aspirações a carreira de cientista, que nos parece esquecida, pois abrigamos apenas 1,7% dos cientistas do mundo, contra 61,8% da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
Para aumentar esse número, precisamos ter uma pós-graduação de qualidade, focada no doutorado e no pós-doutorado, cuja presença agrega um ganho sensível, e fortemente vinculada ao setor produtivo, que, apesar de inúmeros exemplos de sucesso em todo o mundo, ainda gera reações contrárias no setor acadêmico, como se fosse uma mácula.
Esses indicadores mostram, portanto, que não basta apenas a elevação do número de engenheiros qualificados que formamos. Para enfrentar o desafio do desenvolvimento, precisamos também nos preocupar com o topo da carreira, a “formação de quarto grau”, pois é aquela que garante a sustentação da tecnologia de um País.
Temos hoje um grande desenvolvimento, mas não fazemos mais os projetos desafiadores do passado. Fabricamos navios, plataformas de petróleo, aviões, trens, mas não somos os responsáveis pelos seus projetos, que são feitos no exterior sem a presença da inteligência nacional.
Que o trem de alta velocidade quebre esse paradigma, pois senão estaremos fadados a ser o grande mestre de obras do planeta.
José Roberto Cardoso é diretor da Escola Politécnica da USP e coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP