Soraya Misleh
“A maior manifestação da educação da história brasileira.” Assim o diretor do SEESP e da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), Allen Habert, sintetiza em seu artigo os atos públicos que ocorreram nesta quarta-feira (15 de maio), de Norte a Sul do País. Os protestos contra o contingenciamento de recursos à educação, ciência e tecnologia – nesta última área, os cortes situam-se em mais de 42% do orçamento – reuniram milhares de pessoas em todas as capitais, no Distrito Federal e em diversas outras cidades brasileiras.
Ato na Capital paulista reúne milhares de pessoas.
Em São Paulo, Habert – que estava lá – estima que 300 mil participaram da gigantesca manifestação, que cobriu cinco quarteirões da Avenida Paulista a partir do Museu de Arte de São Paulo (Masp) e seguiu até a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). A CNTU, que congrega a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) e seus sindicatos, havia soltado uma nota no dia anterior (14) em apoio aos atos contra os cortes que afetam o desenvolvimento nacional sustentável.
O contingenciamento vai na contramão do que propugna a federação em seu projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, o qual tem a adesão do SEESP. Em nota técnica para a edição “Novos Desafios” datada de março de 2014, Vahan Agopyan e Mário Sérgio Salerno, professores titulares da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), salientam que “quanto maior a participação dos profissionais envolvidos em ciência e tecnologia na força de trabalho, maior o PIB (Produto Interno Bruto) per capita. Tal relação positiva não chega a ser surpresa, visto que esses profissionais são fundamentais para o desenvolvimento tecnológico e para a criação de riquezas”.
Cartazes explicitam consequências de cortes.
Segundo alertaram as entidades científicas e ensino superior do País em manifesto conjunto datado de 1º de abril último, os cortes – definidos no Decreto nº 9.741, de 29 de março de 2019, assinado pelo presidente Jair Bolsonaro –, atingem em cheio a C, T & I no Brasil, “prejudicando a qualidade de vida da população e eliminando, por um longo período de tempo, a possibilidade de protagonismo internacional do País”. No documento, corroboram que tal contingenciamento inviabiliza o desenvolvimento científico e tecnológico propugnado pela FNE em seu “Cresce Brasil”. E frisam: “O MCTIC (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) já estava com um orçamento extremamente reduzido em 2019, devido aos sucessivos cortes dos últimos anos. As novas restrições orçamentárias atingem a integridade do programa de bolsas, fonte da formação de novos pesquisadores desde a criação do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).”
Diante desse quadro, no dia 15 de maio, docentes, alunos, políticos, lideranças de entidades científicas, de ensino superior, sindicais e populares levantaram a bandeira pela educação, pesquisa, C,T&I. Para Gilda Almeida, vice-presidente da CNTU, presente ao ato em São Paulo, foi só o começo e sinaliza para greve geral no dia 14 de junho. “A resposta dos estudantes, professores e população em geral é excepcional. Estudante quer estudar, para transformar o Brasil em um país desenvolvimento e justo”, concluiu.
Fotos: Soraya Misleh