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15/03/2021

Alexandra Leonello Granado: confiança e transparência na gestão do Metrus

Deborah Moreira
Comunicação SEESP

Quando assumiu a presidência do Metrus, instituto de seguridade social do Metrô de São Paulo, em dezembro de 2018, a advogada e administradora Alexandra Leonello Granado tinha um grande desafio: colocar as contas em dia do fundo de pensão, responsável pela previdência e plano de saúde dos 7.925 metroviários, sendo 338 engenheiros.

Em meio a pandemia do novo coronavírus, enquanto os planos de saúde amargam reajustes de dois dígitos, o Metrus teve redução de 25% nos custos nos últimos três anos, o que impactou em redução substancial na parcela de coparticipação dos contribuintes. Nas consultas, por exemplo, que antes era de 30, 40% passou para 10%.

 

 

Alexandra Leonello Granado divulgacaoAlexandra Leonello Granado / Fotos: Divulgação Metrus

De 2015 a 2018 presidiu o Conselho Deliberativo do Metrus, quando iniciou um longo processo de reestruturação e aprimoramento da governança, implementando processos de compliance (que garantem relações éticas, minimizam riscos, cumprem e fazem cumprir regras que detectam desvio ou inconformidade).

“Criamos comitês de investimento para registrar o racional das decisões, o código de ética, um trabalho de esclarecimento sobre governança e compliance. Também fizemos uma divisão da área de risco para evitar um conflito de interesses”, recorda a executiva que concedeu uma entrevista ao SEESP.

No mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, a primeira e única mulher a se tornar diretora na Companhia do Metropolitano de São Paulo, onde atua há 14 anos, lembra que "quando se fala em representatividade, ainda há muito espaço a ser conquistado”. Mas, enfatiza que estamos vivendo uma fase importante na busca de reconhecimento e equilíbrio nas relações de gênero.


Qual foi o contexto da sua ida para o Metrus?

São duas situações. No plano de saúde, o preço do Metrus tinha descolado da média de mercado. Havia um descontrole dos preços. Por isso, havia uma pressão dos aposentados que estavam com dificuldade de pagar as mensalidades e uma pressão da empresa que estava preocupada com o custo da saúde para explicar aos acionistas.


Antes disso já vinha tendo problemas?
Em 2013, 2014 começou a ter problemas com ativos e sofreu consequências de perdas na parte previdenciária. Além das perdas, o custo da saúde já apresentava um viés de forte alta. Houve aumento do plano de saúde, em 2017, quando atingimos o ápice. Na presidência do Conselho Deliberativo começamos um trabalho de reforma e reestruturação. De 2015 a 2018 trabalhei no aprimoramento da governança compliance e transparência do Metrus. Percebemos que era preciso atuar nesse segmento. Criamos comitês de investimento para registrar o racional das decisões de investimento, o código de ética, um trabalho de esclarecimento sobre governança e compliance. Fizemos uma divisão da área de risco para evitar um conflito de interesses.

E o que mudou quando você assumiu a presidência?
Na verdade, dei continuidade a essa transformação e aí trabalhamos bem forte para controlar a taxa de administração que vinha crescendo, acabamos reduzindo naquele ano 30% no orçamento, apresentando ganho na taxa de administração, que acaba sendo um detrator da rentabilidade. Quanto mais derrubar a taxa de administração, mais aumenta a rentabilidade. Também trabalhamos forte no controle das despesas de saúde, implementando um ERP (Enterprise Resource Planning ou sistema de Gestão Iintegrado), uma informatização parruda, um sistema de inteligência de controle de dados, e com isso conseguimos apresentar um controle das despesas da saúde.


E agora?
Agora, trabalhamos bem forte na transparência, em contar para o participante o que está acontecendo. Previdência e saúde são matérias complexas, então passei a fazer vídeos, lives explicando nossas ações como o processo de reestruturação dos investimentos, tiramos tudo que tinha baixa rentabilidade, vendemos lojas comerciais, ativos que não rentabilizavam o que era esperado, compramos fundos no exterior, fizemos fundos exclusivos e passamos a convidar os participantes a conhecer os comitês, as regras de governança. E os engenheiros foram importantes nesse processo. Conheceram os assuntos de perto porque sempre procuro os engenheiros, que têm escuta e representatividade na empresa.

Alexandra Leonello Granado metroO Sindicato dos Engenheiros é para nós o sindicato de uma parcela expressiva e importante. Não é um número tão alto de engenheiros, mas a importância na instituição é relevante por ser cargos decisórios. O SEESP tem sido um grande parceiro do Metrus na divulgação da transparência.

Quais os resultados efetivamente falando?
O ano de 2019 foi sensacional. Teve plano que alcançou 16% de rentabilidade. Em 2020, com a pandemia, ficamos com uma rentabilidade de 10%. Ou seja, quem contribui mensalmente com parte do salário na previdência do Metrus , está muito satisfeito com os rendimentos mensais. Isso em relação à Previdência. Agora, o plano de saúde é o maior desafio.

Como era e como está neste momento?

Antes, os participantes vinham reclamando dos valores que estavam muito acima da média de mercado e, com isso, cogitava-se até privatizar. Com a reestruturação que fizemos, tivemos uma redução de 25% nos últimos três anos no custo da saúde. Enquanto no último ano os reajustes da inflação dos planos de saúde chegaram a dois dígitos, nós conseguimos redução.

O maior desafio, no entanto, é o plano dos aposentados, que pagam integralmente suas mensalidades. Então, o controle de despesas é ainda mais essencial para essa parcela de beneficiários. Então estamos atuando muito forte nessa linha.

E como é feito esse controle?

Não tinha um controle eletrônico. Os prestadores só ligavam para checar se os participantes estavam em dia com a mensalidade e se eram da ativa. Agora, se um exame é solicitado, um sistema eletrônico faz a verificação se está duplicado. Além disso, o médico precisa justificar se houver necessidade de um novo exame. As cirurgias também passam por um pente fino para garantir que não ocorram gastos em duplicidade ou desnecessários. Isso evita fraude. As pessoas começaram a reclamar porque antes tudo era aprovado de cara. E teve muita reclamação do prestador. Descobrimos que muitos prestadores não estavam trabalhando com melhores práticas. Foi o que gerou descontrole.

Foi um momento muito difícil, mas crucial para a sobrevivência do instituto. Hoje, o participante se envolve muito mais e já entendem mais. O plano de saúde também depende muito da consciência do usuário, de usar bem o sistema. Não adianta ficar bravo com o instituto, porque os custos são todos rateados entre todos.

E isso certamente deu bons resultados?

Depois que isso ficou entendido foi só alegria porque melhorou a rentabilidade na previdência. Teve um ano que, em aporte extra [feito sempre no final do ano pelo contribuinte], além do aporte básico arrecadado ao longo do ano, conseguimos R$ 2,5 milhões. No ano passado, mesmo com a pandemia, tivemos um aporte de R$ 1,8 milhão. Acredito que foi muito por conta das regras de governança, que gerou confiança.


A partir de 1º de março houve uma redução substancial na parcela de coparticipação. Então, além de não haver aumento, houve redução. A coparticipação nas consultas que antes era de 30, 40% passou para 10%.


Quais as novidades para este ano?

Neste ano vamos inaugurar um ambulatório de medicina integrada, voltado para uma melhoria na qualidade da prestação da saúde. Quando se fala em saúde, se você gasta um pouco mais vale a pena pelo ganho na qualidade. Por isso que nem sempre quando vamos cotar cirurgia, o critério não é o que cobra menos, mas o que oferece a melhor relação custo-benefício, porque você escolhe gastar bem quando o assunto é saúde.

Alexandra Live Youtube

Qual a maior dificuldade enfrentada?

Foi e ainda é na comunicação. Como antes não havia controle dos gastos dos usuários, estranharam quando colocamos um limite e um controle nos gastos. Para que todas as mudanças fossem bem entendidas, criamos campanhas de esclarecimentos e até um canal direto com os metroviários no Youtube, onde faço muitas lives explicando os gastos. Tem live que tem 2.800 visualizações. A gente tem mais de 70 mil inscritos no Youtube, um caso de sucesso nas redes, por temos mais inscritos do que participantes. Como falamos de saúde, investimento, acabamos atraindo um público além. Também acredito que o fato da presidente do instituto fazer as live acaba chamando a atenção.

E o fato de ser uma presidente mulher, como você vê a questão da representatividade atualmente?
O Metrô é uma empresa bem masculina ainda. Mas já tem departamentos em que a participação é bem mais equilibrada, como o Jurídico, por onde passei. Agora, a mulher vem conquistando um espaço neste momento que nunca vi antes. A minha trajetória tem muito disso, de eu ter sido sempre a primeira em algo. No Metrô, fui a primeira diretora mulher. E a única até então.

Quando se fala em representatividade, você vê que ainda há muito espaço a ser conquistado. Quando se fala de conselho de administração, deliberativo, mercado financeiro, presidente de banco, somos ainda minoria. Tanto que quando uma mulher assume um cargo de CEO vira destaque.


Tanto que estamos agora aqui ...
Isso. Mas estamos vivendo uma fase importante nesse sentido. As empresas estão preocupadas e olhando para sua representatividade e o quanto isso impacta na imagem da empresa. Sem equidade de gênero, de raça, a empresa fica relacionada a uma visão de mundo muito limitada e ultrapassada, apegada ainda ao padrão do homem branco, médio. E, de fato, quando há mais diversidade, as empresas têm ganhos melhores. Os números mostram que traz resultado.



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Comentários  
# EngenheiroEMILIANO STANISLAU A 18-03-2021 10:31
Ótima entrevista e retrata o momento que estamos passando.
Parabéns ao brilhante trabalho que a Dra Alexandra e equipe vem fazendo.
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