Uma das maiores referências em cabos de qualidade, atendendo mercado nacional diversificado e já com exportações programadas.
Rosângela Ribeiro Gil
Oportunidades na Engenharia
Eles se formaram no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em 1984. Fritz Junginger, em engenharia de infraestrutura aeronáutica, uma espécie de engenharia civil com conhecimentos voltados para os aeroportos; e Abelardo Fraga, em engenharia eletrônica. Formados, cada um iniciou uma trajetória na profissão e aperfeiçoamento diferentes. Os dois profissionais, no início da década de 1990, num Brasil imerso em instabilidades econômicas, arregaçaram as mangas, perceberam a oportunidade que se avizinhava e criaram a Datalink, empresa inicialmente fornecedora de cabos coaxiais montados para equipamentos de VSAT, sistema de comunicação muito usado na época para interligar agências bancárias aos centros de processamento de dados dos bancos. Era o começo de uma grande empresa formada por e com talentos nacionais que deu certo. Hoje, ela tem um complexo industrial sediado na cidade paulista de Embu das Artes.
Junginger trabalhou alguns meses num fabricante de torres metálicas em Curitiba (PR), mas voltou para São Paulo para trabalhar numa empresa de cabos especiais localizada em Embu das Artes. Em 1987, ganhou uma bolsa da Fundação Krupp [atualmente ThyssenKrupp AG, é uma empresa cuja sede se localiza em Essen, na Alemanha. Constitui-se num dos principais grupos industriais do país, tendo se destacado na produção de aço, armas, munições e equipamentos] e foi para Munique trabalhar no desenvolvimento de conectores coaxiais e conectores para guias de ondas numa empresa especializada nestes produtos. “Foi um ano de grande aprendizado, que foi e continua sendo de muita importância para minha vida profissional”, lembra Junginger.
Já Fraga trabalhou como engenheiro de hardware e de sistemas de automação industrial em uma empresa multinacional, Rhône-Poulenc. Dentro da mesma empresa, também atuou na gerência da engenharia técnica da produção de plásticos e posteriormente como gerente industrial. Em 1992, montou a primeira empresa na produção de placas para computadores. “Sempre tive um espírito empreendedor, decidi sair de um emprego estável e com boas perspectivas de carreira num momento em que ainda o retorno de empreender não era tão alto. Era um bom emprego, mas ainda não um super cargo, nem havia obrigações familiares”, recorda.
Em 1993, os dois colegas de ITA voltam a se encontrar. À época, iniciava-se a instalação dos sistemas de telefonia celular no Brasil. “O Abelardo me fez uma visita para vender os serviços da empresa dele. Conversamos sobre uma oportunidade no mercado de telecomunicações e poucos meses depois recebemos o primeiro pedido do cliente. Tivemos a capacidade de ver as oportunidades e transformá-las em negócios viáveis”, diz Junginger. Fraga acrescenta: “Em pouco tempo tínhamos um protótipo e saí para vender em potenciais clientes. Depois de certos desencontros e dificuldades naturais, conseguimos que um cliente (na época ligado ao Bradesco e à Rede Globo) se impressionasse com a nossa proposta e nossos produtos.”
Os dois engenheiros estavam criando a Datalink. “Sempre tive o desejo de criar e gerenciar uma empresa. A Datalink foi a realização de um sonho que me trouxe e continua trazendo muita satisfação”, orgulha-se Junginger.
Logo a sede inicial no bairro de Campo Belo, região sul do município de São Paulo, ficou pequena para atender à crescente demanda por cabos e conectores e uma segunda casa foi alugada. Ali eram produzidos produtos de alta qualidade e tecnologia que logo conquistaram uma clientela muito exigente. Como exemplo, em 1995, a Datalink desenvolveu para a NEC do Brasil os cabos conectorizados para as ERB’s (estações rádio-base) do sistema de telefonia celular que começava a ser implantado no estado de São Paulo. Estes cabos acabaram virando o padrão das instalações em vários estados brasileiros.
Em 1998, com o programa de privatização das telecomunicações brasileiras, novos players internacionais (Nortel, Lucent etc.) chegaram ao Brasil e a Datalink passou a ser o fornecedor OEM dos mais variados modelos de cabos e chicotes elétricos para todos eles. Em 2003, a Datalink iniciou a fabricação de cabos coaxiais, que logo se tornaram referência nacional em qualidade e performance. Ao longo dos anos a linha de produtos e mercados foi sendo ampliada, sempre seguindo a filosofia de oferecer aos clientes produtos de alta qualidade, atendimento exemplar e foco na parceria de longo prazo.
Cavalo selado
Apesar da trajetória exitosa da empresa, os dois sócios garantem que não houve muito planejamento para a criação da empresa, mas que enxergavam a oportunidade que se apresentava, mesmo num momento nacional, como lembra Fraga, desafiador, com inflação alta, total imprevisibilidade, baixo atratividade para investimentos não financeiros. “Mas sempre achamos que com ideias inovadoras e foco no cliente poderíamos ser bem-sucedidos. A engenharia estava numa fase de transição entre um período de reserva de mercado para um regime de abertura do País para importação e aumento dos investimentos estrangeiros”, relata Fraga.
Fraga explica as mudanças ao longo das três décadas de vida da empresa: “Realmente, começamos com uma empresa de desenvolvimento e produção de conectores e montagem de cabos para a indústria de telecomunicações. Em 1997, vendemos 60% da empresa para uma empresa multinacional que atuava em área similar e queria se estabelecer no Brasil. Uma grande mudança na abrangência dos produtos e serviços, e na forma de se relacionar com os clientes.”
Todavia, em 2003, prossegue Fraga, a Datalink volta a ter 100% da empresa. “Decidimos ampliar o escopo e investimos em fabricar os cabos que antes comprávamos no mercado nacional e no exterior. Continuamos com o foco no mercado de telecomunicações, mas decidimos buscar atuar em novos mercados”, descreve.
Hoje, a Datalink atua de forma diversificada no mercado nacional, que abrange do agronegócio, até saúde e telecomunicações, passando por energia solar, automação etc. Para Fraga, "sempre fomos uma empresa com foco em desenvolver produtos e soluções para o cliente, com foco nas áreas de engenharia, desenvolvimento e inovação. Isto nos permitiu termos a capacidade de crescermos em novas áreas que necessitem de produtos de conectividade e cabos”.
Numa idade que já representa maturidade, a Datalink se projeta num mundo altamente inovador a partir das tecnologias emergentes. Junginger e Fraga se dizem conscientes de que onde existem grandes mudanças e dinamismo, também existem riscos, oportunidades e bons desafios. Nesse sentido, observam que as tecnologias de informação e comunicação (TICs) sempre foram geradoras de necessidade de infraestrutura, “onde nos inserimos”, diz Fraga.
O desafio, para eles, é sempre estar atualizado e preparado para atender demandas que estão sempre mudando. “A Datalink tem um programa de inovação na empresa que visa nos capacitar a estar sempre atualizados. Uma prova disto é que os produtos que vendemos hoje em sua grande maioria foram desenvolvidos em anos recentes, ou seja, estamos sempre lançando novos produtos que substituem as gerações anteriores”, aponta Fraga. Junginger reforça, informando que a empresa tem um programa de inovação bem ativo e “nossa equipe está constantemente buscando novas ideias de negócios junto a clientes, feiras, simpósios etc.”.
Para Fraga, os profissionais de engenheira precisam ter consciência de seus valores e desejos. Ele orienta: “Tentem sempre trabalhar em áreas, empresas, projetos que vão ao encontro destes valores e desejos. Em particular aos engenheiros, recomendo que tentem ter uma visão mais ampla da empresa e dos clientes. Não apenas ser um especialista na sua área, mas buscar alguma familiarização com assuntos e temas dos seus pares e clientes, como vendas, marketing, finanças etc.”
Para Junginger, o Brasil é um país onde há muito para fazer, por isso, entende que “fazer o que se gosta é um bom começo para ter sucesso e ser feliz na profissão”. Para quem quer empreender, ele diz que é necessário persistência e disposição para aprender e fazer de tudo. “Buscar algum tipo de diferenciação valorizada pelo mercado certamente também ajuda”, acrescenta.
Agilidade
Para Junginger, um dos méritos para chegar aos 30 anos da Datalink, sempre acompanhando as transformações do mercado, é ter agilidade para se adaptar às mudanças. Nesse sentido, ressalta ele, a empresa procura diversificar sua linha de produtos e mercados, tentando minimizar as flutuações e dar estabilidade à empresa.
“Nossa estratégia de trabalhar com produtos tecnológicos e de alta qualidade nos obrigou a investir muito em equipamentos modernos e em treinamento intensivo da equipe, o que nos afastou da grande concorrência e nos colocou na liderança de um mercado muito exigente. Quando olho para trás e relembro tudo que passamos, é inevitável um sorriso no rosto. A satisfação de ter melhorado a vida de muitas pessoas e contribuído para o crescimento do Brasil não tem preço”, comemora Junginger.
Outro diferencial, diz Junginger, é ter uma equipe muito especial, assim como é a cultura da empresa. “Temos um programa de treinamento muito bem elaborado que capacita a equipe para a excelência em todos os sentidos. Nossa equipe é nosso maior patrimônio e nosso maior orgulho”, diz, orgulhoso.
Projeto Sirius
A Datalink também tem participação no projeto do acelerador de elétrons Sirius, inaugurado em 14 de novembro de 2018, no Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP). Iniciado em 2012, o novo acelerador de elétrons é o maior projeto da ciência brasileira, uma infraestrutura de pesquisa de última geração, estratégica para a investigação científica de ponta e para a busca de soluções para problemas globais em áreas como saúde, agricultura, energia e meio ambiente. Será um laboratório aberto, no qual as comunidades científica e industrial terão acesso às instalações de pesquisa.
Junginger informa que a Datalink trabalha junto com a equipe do CNPEM há muitos anos. “Participamos do Sirius desde o começo, desenvolvendo junto com os técnicos deles os cabos especiais que este projeto grandioso requeria. A parceria foi tão proveitosa que fomos recomendados para fabricar os cabos de um projeto similar que está sendo construído na Austrália. Em 2021, fornecemos o primeiro lote e agora, em agosto de 2022, estamos produzindo outros cabos para eles”, relata.
Prof. Leopoldo Yoshioka
Escola Politécnica da USP