“Esta Marcha é para o irmão cansado de ser enquadrado voltando da escola, do rolê ou do trabalho, devido ao fato de ser sempre visto como suspeito, precisando provar que é trabalhador, muitas vezes para não ser morto.” Assim começa a convocação para a 2ª Marcha Internacional Contra o Genocídio do Povo Negro em São Paulo, marcada para a sexta-feira (22/8), com concentração a partir das 17h30, no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. São esperados milhares de participantes que já confirmaram presença nas redes sociais. A marcha também ocorrerá em outros 17 estados brasileiros e em 15 países das Américas, Europa e África.
O genocídio contra negros, em especial contra a juventude negra, vem sendo denunciado por diversas organizações do movimento negro. Segundo registros do Sistema de Informações de Mortalidade, contabilizados no relatório “Mapa da Violência 2012 A cor dos homicídios no Brasil”, entre 2002 e 2010, , morreram assassinados no país 272.422 negros, com uma média de 30.269 assassinatos ao ano. Só em 2010, foram 34.983. Já as taxas de homicídio de jovens brancos passaram, entre 2002 e 2010, de 40,6 para 28,3 – queda de 30,3% – enquanto a dos jovens negros cresceu de 69,6 para 72,0 – crescimento de 3,5%. O estudo foi realizado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, Flacso Brasil e Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, ligada à Presidência da República. O movimento negro denuncia que boa parte das mortes são provocadas por policiais.
Na noite de segunda-feira (18), representantes do movimento negro se juntaram à Ciranda Internacional da Comunicação Compartilhada e à Frente Palestina (que reúne diversas organizações e partidos políticos que atuam em defesa do povo palestino), na atividade “Levante contra o Genocídio – no Brasil, na Palestina, nas mídias livres”, realizada no auditório da Ação Educativa.
“É um estado que mata em nome de uma segurança. Genocídio é uma política de estado que atua inferiorizando um povo a partir do terrorismo vestido de política pública. O genocídio está apoiado no Estado e favorece uma determinada classe social”, exclamou Katiara Oliveira, do grupo Kilombagem, desmistificando a chamada democracia racial brasileira.
De acordo com a ativista, a marcha conta com apoio internacional, em países como França, Espanha, Portugal, Venezuela e países africanos. “A luta é internacional. A luta do palestino é a nossa luta. Vamos denunciar um estado que, por conta de sua ideologia de inferiorizar um povo, para manter a sua ordem, usam as mesmas armas aqui e lá”, completou Katiara Oliveira, que pediu ampla divulgação da atividade.
Para ela, “a esquerda está mobilizada para denunciar o genocídio palestino” mas ainda não despertou para a cobertura sistemática da criminalização da população negra. “A gente não vê nenhuma mídia de esquerda colocando o problema do genocídio negro brasileiro como um problema da humanidade”, comentou, referindo-se aos meios de comunicação que divulgam amplamente as pautas dos movimentos sociais.
Ketu Riahb, do Movimento Negro Unificado (MNU), criticou a construção que a mídia comercial tradicional faz do povo palestino, que sempre é retratado como “terroristas” e não contextualiza os acontecimentos. “Não dá para aceitar que Hamas é terrorismo. É na verdade a resistência palestina. O maior terrorismo hoje é de Israel. Somos solidário ao holocausto, mas agora quando se fala em genocídio na Palestina, eles contrapõem afirmando que é guerra. Como pode ser guerra se um dos lados não possui exército, não possui aviões. Não dá para aceitar isso. E a mídia, brasileira e internacional, trata dessa forma”, exclamou o ativista, que também é muçulmano.
Ele reforçou o convite para todos os presentes participarem da marcha, na sexta: “Nós já estamos marchando desde o momento em que pisamos neste país. Na sexta, dia 22, será um ato de resistência e a solidariedade é importante neste momento. Assim como conseguimos desmacarar a democracia racial, a tarefa que o movimento negro tem atualmente é provar ao mundo que o Brasil é, hoje, um país genocida”, salientou.
Deborah Moreira
Imprensa SEESP