O que ficou demonstrado, no último dia 15, com as imensas manifestações, é que o governo precisa reajustar o reajuste econômico pretendido ou, o que é melhor, abandonar de vez a estratégia seguida até aqui para um qualquer reajuste.
As ruas no domingo, em todo o Brasil, mais especialmente em São Paulo, foram tomadas pelas famílias e pelas multidões que desfilavam e que, em geral, deveriam apoiar o reajuste pretendido. Ao mesmo tempo em que a imensa maioria dos brasileiros que ficaram em casa é dos que sofrerão com o reajuste proposto e aplicado.
Portanto, é preciso abandonar o reajuste, dar um cavalo de pau no cavalo de pau e reconhecer, se há necessidade de um reajuste, que é fundamental garantir emprego, salário, direitos e desenvolvimento econômico, mesmo que uma desmoralizada agência de risco ou uma classe média desnorteada apontem o polegar para baixo. Por que não, por exemplo, corrigir a tabela do imposto de renda em 15% ou até mais?
As manifestações que emparedaram o PT e desnortearam os partidos de oposição continham tudo o que a nata da sociedade (como em um copo de leite gordo) agrega: individualismo, antipartidarismo, anticorrupção, moralismo, anticomunismo (como metonímia do antipetismo, sem guerra fria), antigoverno, e criatividade jocosa ou agressiva. Por ora e aos olhos de todo mundo, o verde e amarelo do novo dia 15 de março (democratização de 1985) engolfou o vermelho do equivocado novo dia 13 de março (comício das reformas de 1964).
Como se não bastasse dois ministros conseguiram fazer que as manifestações, que se dispersavam na hora do ângelus fossem retomadas às oito horas da noite.
É preciso, como dizemos em Minas Gerais, curar o queijo, deixando que o soro e a umidade o abandonem. Um pouco de tempo de reflexão sensata, autocrítica e de novo empenho de governar para todos, com discussão, com alianças e com medidas acertadas e queridas pela esmagadora maioria dos brasileiros.
* por João Guilherme Vargas Netto, consultor sindical