“A preservação da água é um dos maiores desafios da humanidade”. A frase dita pela coordenador do Núcleo Jovem Engenheiro do SEESP, Marcellie Dessimoni, neste Dia Mundial da Água, 22 de Março, vem após uma ponderação feita pela engenheira ambiental à Comunicação do sindicato. Para ela, mais do que refletir, é preciso agir. “Não temos mais tempo para discursos”.
Foto: Adriano Rosa/Agência Social de Notícias
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), até 2030 a demanda por água no mundo aumentará em 50%. Ao mesmo tempo, mais de 80% do esgoto produzido volta à natureza sem ser tratado. Somado a isso, estão as mudanças climáticas. Relatório coordenado pela Unesco - braço das Nações Unidas para a educação - afirma que grande proporção de água residual ainda é liberada no meio ambiente sem ser coletada ou tratada. Isso ocorre principalmente em países de baixa renda, que, em média, tratam apenas 8% das águas residuais domésticas e industriais, em comparação com 70% nos países de alta renda.
“Tivemos uma crise hídrica há bem pouco tempo aqui no estado. Precisamos planejar mais e melhor para que não haja escassez. É preciso ações que resultem na gestão dos recursos hídricos”, alertou Dessimoni, que esteve presente, na terça (21), do debate promovido por engenheiros e agrônomos em um encontro preparatório da categoria que levará suas discussões e propostas ao 8º Fórum Mundial da Água, que acontecerá entre 25 e 30 de março de 2018, em Brasília. O SEESP e a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) possuem representantes no conselho do Fórum Mundial da Água e participam do processo.
Atualmente, o Distrito Federal sofre com a escassez e enfrenta um racionamento de água, que impacta tanto a população urbana quanto a rural, que está utilziando técnicas de manejo de irrigação, convertendo o sistema convencional para sistemas poupadores de água, como bacias de retenção.
Ela ressaltou que os engenheiros devem ter total participação, sejam em grandes empreendimentos, com soluções mais complexas, seja no dia a dia. “São as soluções pequenas e simples que muitas vezes fazem uma enorme diferença”.
“Além de contribuir, se pensar em engenharia, quase tudo depende de água. E as tecnologias podem ajudar a diminuir o desperdício, que ainda é muito. Os recursos hídricos precisam de uma nova abordagem e a engenharia precisa participar em peso na busca de soluções”, afirmou.
Marcellie Dessimoni lembrou, ainda, dos Objetivo do Desenvolvimento do Milênio, redefinidos na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, quando foi adotado o documento Transforming Our World - The 2030 Agenda for Sustainable Development, cujo estrato é a definição dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável global para 2030.
“Como se adaptar e se preparar para alcançar esses objetivos. O Brasil, como país que possui uma das maiores reservas de aquífero, tem uma grande responsabilidade na busca dos ODS ”, lembra, referindo-se ao 6º e ao 14º objetivos que são “Água potável e saneamento” e “ Vida na Água”, respectivamente.
O coordenador de Implementação de Projetos Indutores da Agência Nacional de Águas (ANA), Devanir Garcia dos Santos, disse à Agência Brasil, que o País precisa discutir o reúso da água já que o recurso, apesar de abundante, não é distribuído uniformemente em todas as regiões do país. “Temos regiões que têm carência de água e que têm potencial de fazer reúso. Muitas demandas poderiam ser atendidas”, afirmou. A reutilização desse recurso também pode contribuir no tratamento de esgotos e dos efluentes domésticos. Dados da agência demonstram que em torno de 35% da população brasileira é atendida com tratamento de esgoto, concentrado nos grandes centros urbanos.
Já a ONU apontou que cerca de 1,8 bilhão de pessoas no mundo usam fontes de água contaminadas por fezes para beber, e, a cada ano, são registradas 842 mil mortes relacionadas à falta de saneamento e higiene, bem como ao consumo de água imprópria.
Pertencimento
A engenheira falou também de um novo olhar para a água, que “deve ser vista com um olhar de pertencimento” descrito pela bióloga Priscilla Morhy, conselheira da CNTU. “As pessoas não se sentem como parte da água. Eu tenho agua, bebo, utilizo para cozinhar, mas ela não faz parte de mim. No entanto, seu corpo tem 70% de água. O planeta é formado em sua maioria por água e qual o sentimento que nós temos em relação à água? Como nos relacionamentos com esse bem tão precioso”, indaga Marcellie Dessimoni, que completa: “O pertencimento é um sentimento mútuo. É você pertencer aquilo e aquilo também te pertencer. É um olhar mais profundo que muda a forma como trabalhamos a educação ambiental, por exemplo”.
Existe uma grande urgência no tema. "É preciso que as ações vão mais além da conscientização de seu uso, mas de sua importância para a nossa existência", concluiu.
Deborah Moreira
Comunicação SEESP