Soraya Misleh
Após a forte chuva que castigou a Capital e municípios adjacentes na noite deste domingo (10), deixou a cidade em alerta e culminou em pelo menos 11 mortes, a Prefeitura de São Paulo anunciou a criação de um comitê de gestão da crise, formado por secretarias, gabinete da administração e subprefeituras. Afirmou ainda que um efetivo de 5 mil funcionários está nas ruas para fazer frente ao problema. Lamentavelmente a situação alarmante não é novidade, tampouco as soluções e causas são desconhecidas. Ano após ano vêm sendo reiteradas por técnicos.
Ruas alagadas no bairro da Vila Prudente, na Capital.
(Foto: Reprodução - Amanda Perobelli/Reuters)
Em artigo publicado no Jornal do Engenheiro 523, de janeiro deste ano, intitulado “Mais manutenção, mais engenharia”, os diretores do sindicato junto à Prefeitura Carlos Eduardo de Lacerda e Silva e Frederico Jun Okabayashi destacaram: “É certo que no período de chuvas, como se repete ano após ano, a cidade enfrentará o caos com alagamentos e queda de árvores, causando grandes transtornos à população, com vítimas, inclusive fatais, e danos materiais de grande monta. Ou seja, se os fatos decorrentes de fenômenos climáticos são devidamente previsíveis do ponto de vista técnico, sobretudo do pleno conhecimento de onde se dão essas ocorrências, não se justifica a ausência de uma política de manutenção que proporcione a devida segurança e qualidade de vida à população.”
O SEESP discute e apresenta propostas ao poder público há tempos. Em fins de 2012, realizou um seminário em que se extraíram suas principais sugestões, elencadas em um documento entregue às autoridades à época. Eram elas: identificar os pontos de enchentes e alagamentos recorrentes nos últimos anos; verificar a situação da limpeza da rede de drenagem – bueiros, bocas-de-lobo, ramais, galerias e córregos e nas bacias onde os alagamentos têm sido recorrentes; avaliar a limpeza/desassoreamento dos piscinões e seu funcionamento em capacidade de reservação; discutir a flexibilização dos horários de coleta de lixo; instalar contêineres nas ruas onde são realizadas as feiras livres; apurar o mapa das áreas de risco de deslizamentos e disponibilizá-lo à sociedade; fazer diagnóstico da rede de semáforos; e discutir com o Governo do Estado e municípios vizinhos operação do sistema de comportas. Ao longo dos anos, especialistas ouvidos pelo SEESP salientaram a importância dessas ações, de investimento e planejamento para se prevenir e fazer frente a problemas enfrentados pela população paulistana – entre eles alagamentos e enchentes.
“Falta um olhar mais adequado do Prefeito sobre a cidade”, diz Carlos Eduardo de Lacerda e Silva. Conforme ele, um dos grandes problemas é o sistema de drenagem. “São três soluções: no mínimo dobrar o número de engenheiros e equipes de manutenção das redes nas subprefeituras, hoje muito insuficientes; obras de contenção das águas; e o aumento da carga dos rios Tietê e Pinheiros, um serviço que não pode ser interrompido.” Para o diretor do sindicato, a “solução de ponta” é assegurar mais engenheiros e equipes, “inclusive com novas tecnologias, hoje ainda não disponibilizadas pela Prefeitura. Falta, sobretudo, vontade política”.
Um efetivo maior de profissionais da categoria junto ao município é algo que vem sendo reivindicado como prioritário. Em maio de 2018, eram cerca de 500 engenheiros. A Prefeitura abriu naquele mês concurso público. Não obstante, disponibilizou apenas 118 vagas abrangendo profissionais de engenharia, arquitetura, agronomia e geologia em diversas secretarias. Investir em engenharia segue na ordem do dia. Enquanto isso, a Prefeitura continua a gerenciar crises que poderiam ser evitadas.
Itaim Paulista
No dia 12 de fevereiro último, mais uma vez os moradores do Itaim Paulista, na zona leste da capital, sofreram com ruas alagadas após uma forte chuva. A cena já é rotina do bairro há mais de 30 anos. Naqueles dias, as ruas ficaram muitos dias com inundação.
"Desde 2016 o Núcleo Jovem atua no Itaim Paulista para tratar das enchentes. Já foram mapeados problemas e soluções mais rápidas e práticas. não estruturais uma vez que já existe um projeto estrutural em andamento, em parceria com o BID, para a construção de parques lineares, durante toda a extensão Tietê. Então o Núcleo se focou em soluções práticas ao poder publico, como de educação ambiental e a criação de um aplicativo de emergência, e me parece que nada foi feito", conta Marcellie Dessimoni, coordenadora do Núcleo, que recebe a notícia com indignação.
A ação do núcleo, com propostas para as questões locais, resultou no Projeto Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento Itaim Paulista, publicado em uma edição especial, que foi entregue ao poder público.
"Ouvimos e debatemos as questões com os moradores que nos contaram que os governantes não tomam atitude. É difícil aceitar que neste ano continue tudo igual. O governo precisa mudar a postura, dar exemplo, mostrar que se é uma gestão que se propõe ser mais eficiente, precisa olhar para esses problemas da cidade que são recorrentes", completa.
(matéria atualizada às 15h20 em 13/3)