Deborah Moreira
Comunicação SEESP
As boas ideias não surgem do nada. Vêm, geralmente, depois de algumas ruins. Assim surgiu o aplicativo de coleta seletiva “Você Recicla” idealizado por Rodrigo Rocha Ventura, 32 anos, morador de Pindamonhangaba, interior paulista, onde se formou em Administração, em 2014, e em Tecnologia em Processos Metalúrgicos, em 2016. Até junho, foram coletados pelos catadores do app 2 mil e 300 quilos de materiais, a partir de 80 atendimentos realizados. O número de usuários cadastrados chegou a 700 e há planos de expandir para outras cidades ainda em 2019.
Fotos: Divulgação Você Recicla
Acima, da esquerda para a direita: Rodrigo Rocha, Abner Augusto e Gabriel Motta. Abaixo, na bicicleta, o coletor Alex dos Santos.
Do montante coletado, a maior parte é composta por papel (25,27%), metal (17,37%) e plástico (16,13%). Os demais são: óleo vegetal (14,52%); vidro (14,52%); e eletrônicos (12,37%).
Rocha, que finaliza neste ano um MBA em Finanças e Controladoria, contou ao SEESP como tudo começou e quais são os planos para expansão: “A ideia surgiu quando era aluno da Faculdade de Tecnologia, a Fatec de Pinda, e estávamos tentando criar um processo de certificação de sucata, numa empresa júnior, para agregar valor aos materiais das cooperativas e vender diretamente à indústria. Mas, foi um fracasso total. Foi quando observamos o cenário de resíduos domésticos, não somente nas cooperativas, mas também nas residências, na forma como as pessoas não fazem esse descarte. Enxergamos a demanda, o problema e passamos a desenvolver uma solução”.
Com o passar do tempo, a ideia inicial de retornar os materiais para seus fabricantes, qualificando-os e finalizando seus ciclos - logística reversa, prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos -, foi sendo substituída pelo atendimento mais na ponta da cadeia produtiva. Rocha lembrou que a partir daí começou a ser desenhado o aplicativo inspirado no Uber, em que as pessoas pudessem acionar o catador, agendando a coleta dos resíduos. A ideia era boa e, ao contrário dos demais colegas, Rocha quis dar continuidade. Então, montou uma nova equipe.
O aplicativo começou a funcionar pra valer há cerca de nove meses com uma equipe de cinco profissionais, além dos catadores: dois engenheiros ambientais, um técnico na área financeira, um desenvolvedor de tecnologia, e Rocha, que atua na área de negócios.
Como ele mesmo observou, a ideia inicial não decolou por haver resistência dos empresários que não enxergam, ainda, o lixo como oportunidade de negocio. Felizmente, a iniciativa vem rompendo essa barreira ao criar processos de compra desse material dos catadores e venda para a indústria. Algumas empresas locais, como a Novelis, já compram alumínio a partir do aplicativo, que tem como objetivo principal transformar a vida dos catadores que são chamados pela equipe do Você Recicla como coletores ou ainda, agentes ambientais.
“Os coletores estão se tornando agentes ambientais porque estão levando informação aos moradores, donas de casa, sobre quais as formas adequadas de descarte dos materiais. Também nos trazem informações que nos ajudam a melhorar o trabalho e a ferramenta”, revela um dos engenheiros ambientais do projeto, Gabriel do Rosário Motta, 32 anos.
Dos 600 mil catadores em todo o País, segundo pesquisa Cempre 2018 – Compromisso Empresarial para Reciclagem -, 20 deles estão cadastrados no Você Recicla. Um deles é Alex dos Santos, que circula pelo município do interior paulista com uma bicicleta projetada pela equipe para substituir a tradicional carroça. “Já estamos fazendo uma segunda versão melhorada, em parceria com a Fatec de Pindamonhangaba, com testes de resistência de materiais e de ergonomia. O intuito é fabricar em maior escala para facilitar o trabalho do catador, substituindo a carroça que é extremamente pesada e nada ergonômica”, explica Motta.
Com o protótipo em uso já é possível constatar que o catador roda maiores distâncias, em maior velocidade e potencial de carga, aumentando o volume coletado. Santos conta que, o que antes levava metade do dia, agora faz em mais ou menos uma hora e meia e com mais conforto. “Quem sabe a ideia inspire outros municípios”, arrisca Motta.
Já de acordo com levantamento do Cempre, apenas 3% do material descartado é reciclado em todo o País e somente 1227 municípios possuem coleta seletiva. “Os números estão contando uma história para nós. A partir daí, enxergamos quais os melhores caminhos para percorrer. E é o que estamos fazendo. Por isso cheganos até a bike como solução”, observa o engenheiro ambiental.
Indagado sobre qual papel da engenharia na criação da ferramenta, Gabriel Motta lembra que ela é inerente ao processo, tanto para desenvolver a ferramenta, quanto para entender os dados e, ainda, na produção das estratégias, como a bicicleta. “Também atuamos com segurança do trabalho entregando aos coletores equipamentos de proteção individuais, os EPIs, como luvas, e dando formação sobre o uso deles e sobre os tipos de materiais. Também há orientação para os deslocamentos com mais segurança e conforto com as carroças", comenta.
Expansão
Até agora, a região atendida é o município de Pindamonhangaba. No entanto, há planos de expansão ainda no segundo semestre deste ano para cidades maiores, vizinhas, como São José dos Campos, Taubaté e Jacareí. Depois, para as capitais. “Estamos desenvolvendo algumas soluções para nos tornarmos mais robustos e chegar com força na capital paulista e outras, no início de 2021, mais ou menos”, revela o administrador e idealizador do app.
Para entrar no aplicativo, hoje, é preciso ter uma conta no Facebook. Questionado sobre a segurança dos dados dos usuários, uma vez que plataformas como o Facebook já reconheceram falhas na privacidade dos dados, Rocha adiantou que ainda neste ano será lançada uma nova versão, disponível também para outras cidades e com a opção de cadastro único com e-mail. “Usamos o Facebook porque precisava ser algo rápido, barato, simples e que trouxesse segurança aos usuários. Mas, já estamos trabalhando numa versão atualizada”.
Conheça o aplicativo clicando em Você Recicla.