Comunicação SEESP
Aconteceu nesta quarta-feira (16/12) a 17a. Jornada da Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados (CNTU), que teve como tema central "2022: Brasil mudando de pele". Transmitida pelo canal online da entidade no Youtube, a atividade de pré-lançamento do Bicentenário da Independência e da Semana de Arte Moderna de 2022 reuniu ao longo do dia palestras, plenária e posse do Conselho Consultivo da confederação, além de entrega do Prêmio Personalidade Profissional àqueles que se destacaram nas áreas de atuação das federações e sindicatos filiados à CNTU (Engenharia, Odontologia, Economia e Farmácia) e em Interesse público.
À abertura, Murilo Pinheiro, presidente da confederação – que também está à frente do SEESP e da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) –, destacou o caráter democrático do evento e sua seriedade na discussão de questões de real importância para todos os brasileiros e o mundo. "Neste momento de segunda onda da pandemia, temos que ter o equilíbrio, a compreensão que juntos podemos sair desses problemas talvez muito mais fortalecidos", frisou, ressaltando ainda os ataques às entidades sindicais e sociedade civil organizada por parte do governo.
"Nossa luta continua, nosso espaço continua. Vamos batalhar para, cada vez mais, representar a sociedade. Venham juntos! Vamos fazer da nossa CNTU a confederação que todos queremos. Boa sorte a um dia fantástico que teremos", concluiu.
A abertura reuniu ainda o diretor da entidade e coordenador do evento, Allen Habert, e os representantes de entidades filiadas à CNTU (economistas, odontologistas, farmacêuticos e economistas de São Paulo).
Bicentenário da Independência
Na primeira mesa de debates, a 17a. Jornada da CNTU apontou caminhos ao pré-lançamento do Bicentenário da Independência em 2022. Habert lembrou ao início que 16 de dezembro marcou a comemoração dos 14 anos de existência da confederação, que reúne federações, 60 sindicatos de profissionais de nível universitário. E, a partir da posse de 66 conselheiros consultivos na plenária que ocorreu no mesmo dia, 1.700 integrantes do “Conselho das Mil Cabeças”. A perspectiva é chegar ao final de 2022 com 22 mil membros.
A partir de cima, da esq. p/ a dir., Paulo Estevão Cruvinel, Allen Habert,
Mayra Juruá, Celso Amorim e Mariluce Moura. (Reprodução Youtube)
"Brasil mudando de pele é uma provocação para reconstruir a Independência do Brasil e concluí-la junto a essa equipe muito especial, para que, com suas luzes, possamos atravessar esse deserto desta terra em transe que estamos passando", frisou ele. Nessa direção, destacou que é missão da CNTU buscar, junto às "melhores inteligências coletivas do País", entregar um Brasil "melhor do que a nossa geração recebeu. É disso que se trata quando se pensa no Bicentenário da Independência".
Um dos graves problemas a serem superados nesse sentido é a desigualdade social, como apontou Habert e ratificou o embaixador e diplomata Celso Amorim, que lembrou o recorte de gênero e classe predominante. Para ele, a Independência é "um processo, uma construção". E é fundamental o autorreconhecimento dos brasileiros, além de retomar as lições de 1922 – ano da Semana de Arte Moderna – e ter visão de futuro.
"Espero que iniciativas como essas nos animem a fazer de 2022 um ano de comemoração, senão de recuperação total, pelo menos de belos projetos, como, aliás, aconteceu em 1922", pontuou Amorim.
Participaram ainda dessa mesa de debates a jornalista Mariluce Moura, fundadora do Ciência na Rua; a economista Mayra Juruá, assessora técnica do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE/MCTI); o engenheiro Paulo Estevão Cruvinel, professor e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); e o economista e escritor Paulo Nogueira Batista Jr., professor e pesquisador da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (EESP-FGV).
Semana de Arte Moderna de 2022
O pré-lançamento da Semana de Arte Moderna de 2022 foi também pauta no evento. Sob a coordenação de José Carrijo Brom, diretor da confederação e presidente da Federação Interestadual dos Odontologistas (FIO), a mesa contou com a participação da arquiteta e urbanista Erminia Maricato, coordenadora do BR Cidades; do sociólogo, poeta, especialista e curador em políticas culturais Hamilton Faria; do compositor, saxofonista e escritor Livio Tragtenberg; do cineasta Silvio Tendler, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ); do dramaturgo e ator José Celso Martinez Corrêa, diretor do Teatro Oficina; e do arquiteto e urbanista envolvido no projeto de revitalização do Bixiga, Massafumi Yamato.
Da esq. p/ a dir., a partir de cima, José Carrijo Brom, Livio Tragtenberg, Silvio Tendler,
Erminia Maricato, Hamilton Faria, Massafumi Yamato e José Celso Martinez Corrêa.
(Reprodução Youtube)
Erminia Maricato saudou o tema central da 17a. Jornada da CNTU – "2022: O Brasil mudando de pele": "Não dá para continuar com a mesma pele. O mundo está mudando e o País também. Temos a necessidade de reinventar a democracia brasileira, renovar, reconstruir."
Ela lembrou que hoje 85% da população brasileira se encontrar na área urbana, cujas desigualdades sociais têm o peso de 388 anos de escravidão, mais de 400 anos de hegemonia agrária exportadora e 322 anos de dominação colonial. Na sua ótica, portanto, "nessa luta pela redemocratização", é fundamental considerar a importância "das cidades, do poder local, do território".
"Quero aqui defender a unidade das forças progressistas, democráticas", enfatizou, afirmando o papel essencial da CNTU como parte dessa articulação, em que é necessário "construir a disputa de narrativas". "Precisamos fazer um movimento paulofreiriano à ampliação do conhecimento, reconhecimento da realidade brasileira, porque é muita ideia fora do lugar, fake news. Levar campanha de informação aos bairros, igrejas, praças, mas ter um esforço especial em direção aos jovens", propugnou a coordenadora do BR Cidades. E foi categórica: "As cidades importam. Precisamos falar com o nosso povo."
José Celso Martinez Corrêa trouxe a ideia de uma modernidade que retorne às origens, incorporando a "cosmovisão dos indígenas, fazendo essa antropofagia se despojando de uma série de porcarias. Construir uma sociedade mais ligada à natureza, que está sendo assassinada neste momento, sobretudo com esse desgoverno". Nessa conjuntura, ele lembrou da "destruição de todo o aparelho cultural brasileiro". Não obstante, vaticinou: "A cultura está viva. Temos que fazer uma grande mudança ecológica, sempre de baixo para cima." Nessa situação de pandemia e racismo, nas suas palavras, é mister acordar para outra maneira de ser moderno.
Homenagem
Ao encerramento, foi entregue o Prêmio Personalidade Profissional. Em sua 10ª. edição, foram agraciados: Marcel Domingos Solimeo (em Economia), Marcelo Knörich Zuffo (Engenharia), Geraldo Lucchese (Farmácia), Moacir Tavares Martins Filho (Odontologia) e Ailton Alves Lacerda Krenak (Interesse público) - conheça a trajetória de cada um clicando aqui.
Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), Zuffo desenvolveu o ventilador pulmonar emergencial de baixo custo – Projeto Inspire –, juntamente com seu colega Raúl González Lima, premiado pelo SEESP neste ano como Personalidade da Tecnologia em Saúde. Por essa razão, enquanto recebia a homenagem da CNTU, obteve a notícia de que ambos foram nomeados “humanos do ano” – “Humans of the Year” – pela revista norte-americana Vice, que conta 380 milhões de usuários no mundo e tradicionalmente promove a honraria, a cada ano, a cientistas, engenheiros e visionários que estão mudando o mundo para melhor.
Zuffo, que em 2006 recebeu do SEESP o Prêmio Personalidade da Tecnologia em Inovação Tecnológica, destacou no evento da CNTU o papel fundamental da engenharia como “promotora do bem-estar e qualidade de vida”. A despeito disso, como frisou, a profissão vem sendo muito desvalorizada nos últimos anos, “literalmente desmontada no País”. E apontou: “A globalização foi longe demais, matou empresas essenciais, desempregou milhares de engenheiros no Brasil e o mundo nunca antes precisou tanto desses profissionais. Com a pandemia tem problemas como fabricar seringas e gelo seco a menos de 70º.C para a conservação das vacinas, logística. A humanidade está se deparando com um cenário que não cabe somente aos profissionais de saúde, verdadeiros heróis, lidar. É também um grande problema da engenharia.”
Foi assim que ele e González encararam o chamado feito pela diretora da Poli-USP, Liedi Bernucci, à chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil, em março último, de que era necessário ajudar a sociedade no enfrentamento da situação. “Primeira mulher a comandar a Poli, essa visionária falou que era preciso fazer alguma coisa. Raúl veio à minha sala e propôs: ‘Vamos projetar e fabricar ventiladores. Vamos juntar esforços e fazer do zero’. Era uma quinta-feira e no sábado tínhamos o primeiro protótipo funcionando. Convocamos alunos e se formou um grande movimento coletivo da engenharia nacional e também no campo da medicina, farmácia, direito, odontologia, veterinária. Mais de oito faculdades se juntaram na USP. Em 100 dias tínhamos projetado ventiladores, softwares, hardwares.”
Uniram-se, como Zuffo relatou à homenagem, quase 100 voluntários da Marinha do Brasil – hoje, no total, há mais de 250, incluindo alunos, funcionários e pessoal de outras instituições. A isso somou-se uma rede de doadores individuais e empresariais para equipar os laboratórios da universidade, que agora superam 1.300.
O resultado, segundo contou, foi o respirador pulmonar emergencial de baixo custo pronto, funcionando e devidamente testado em animais e humanos – em 40 pacientes do Instituto do Coração (Incor) – no mês de agosto deste ano.
“É uma tecnologia 100% nacional e espero que em meados de janeiro tenhamos mais mil ventiladores fabricados e distribuídos”, salientou, contando com a chegada de uma contribuição da China. “Essa é a engenharia 5.0”, concluiu.
De cima para baixo, da esq. p/ a dir., Moacir Tavares, Marcel Domingos Solimeo, Paula Bortolini (que
apresentou os homenageados), José Carrijo Brom, Ronald dos Santos, Murilo Pinheiro, Pedro Afonso Gomes,
Ailton Krenak, Geraldo Lucchese e Marcelo Zuffo. (Reprodução Youtube)
Liderança indígena, ao receber o prêmio em Interesse público, Ailton Krenak saudou o movimento plural representado pela confederação e homenageou os profissionais da saúde, engenheiros e outros que atuam em prol do interesse coletivo e social em sua fala.
Ele observou que o governo atual tem afrontado a Constituição, a alta cidadania e a ciência. "É uma ofensa", considerou, para todo esse conjunto, assim como para o povo indígena, que enfrenta consequências de desastres ambientais como a ruptura da barragem da Samarco, às margens do Rio Doce.
"A alta política do Estado ainda está doente e é genocida contra o povo indígena, racista e xenófoba. E aqui vi o engajamento social [contra isso], a preocupação com o SUS [Sistema Único de Saúde] e com as graves desigualdades", salientou. Ao encerrar, expressou solidariedade "a todos aqueles que vão virar o ano em luto", lembrando a perda de muitos "parentes e amigos" vítimas da pandemia de Covid-19.
Murilo destacou que o prêmio é um agradecimento à contribuição dada pelos indicados ao País. E convidou os laureados a integrarem o Conselho Consultivo da entidade para que "possamos mostrar cada vez mais nossa atuação nas questões relevantes do País e estarmos presentes na sociedade brasileira".
Assim, conclamou: "Vamos juntos lutar por um Brasil melhor, que tenha democracia, participação, buscar crescimento e desenvolvimento e, através disso, diminuir as desigualdades."
Também participaram do encerramento os presidentes José Carrijo Brom (Federação Interestadual dos Odontologistas - FIO), Ronald Ferreira dos Santos (Federação Nacional dos Farmacêuticos - Fenafar) e Pedro Afonso Gomes (Sindicato dos Economistas no Estado de São Paulo - Sindecon/SP).
Confira a 17ª. Jornada da CNTU na íntegra no Youtube da CNTU.