SEESP – Nota pública
A cratera na Marginal e a necessidade imperativa de bons projetos, fiscalização pública e Engenharia de Manutenção
O lamentável acidente na obra da Linha 6 – Laranja do metrô, ocorrido na terça-feira (1º/2), na Marginal Tietê, causa enorme perplexidade especialmente por se tratar de um empreendimento de infraestrutura com enorme repercussão na vida da população e na atividade econômica da Cidade de São Paulo e do Estado.
Mesmo com as causas específicas do desastre ainda desconhecidas, já vem à tona uma série de questões que apontam para falhas de planejamento e execução. Conforme técnicos de larga experiência indicam, não houve o cuidado necessário para se realizar a escavação com o shield, o popular Tatuzão. Isso deveria ter sido feito, conforme as regras, a distância bem maior do interceptor de esgoto existente no local e de pleno conhecimento dos responsáveis pelo trabalho. Além dessa precaução básica, recomenda-se nesses casos, segundo especialistas, reforçar a galeria com injeção de cimento, tubo de aço ou estacas raiz. Na ausência desses cuidados, mesmo não havendo o choque, a trepidação causada pelo equipamento em proximidade perigosa à tubulação pode ter ocasionado seu rompimento com as consequências que já se conhece: transtornos, prejuízos e mais atrasos. Felizmente, não houve vítimas.
Também gera preocupação que na parceria público-privada com a empresa espanhola Acciona não esteja previsto qualquer acompanhamento por parte do corpo técnico do Metrô, detentor de conhecimento e expertise incontestáveis para garantir qualidade ao projeto e à execução, zelando inclusive pelo bem-estar dos trabalhadores segundo as normas de engenharia de segurança.
Possivelmente, o melhor seria que, dada a complexidade da obra que prevê 15 estações e escavações que chegam a 50 metros de profundidade, fossem os engenheiros da companhia os responsáveis por projetá-la e realizá-la diretamente, como foi reivindicado pela comunidade do bairro de Brasilândia, que aguarda o acesso ao transporte de alta capacidade desde 2013 e já teve a expectativa frustrada pelo consórcio anteriormente contratado e descartado.
Contudo, ainda que se insista no modelo de privatização para a expansão da infraestrutura, não se pode abrir mão de fiscalização de interesse da sociedade, o que remete à importância da Engenharia de Manutenção. Para que essa seja efetiva, é necessário que sejam instituídos, nas três esferas administrativas – municípios, estados e União – órgãos cuja função seja atuar na prevenção e correção de problemas de estruturas, edificações, vias, frotas, redes, instalações e demais bens físicos estatais, assim como daqueles a cargo da iniciativa privada, mas com função pública.
Mais que a identificação de culpados pela cratera aberta numa das principais vias da maior cidade do País, espera-se que o episódio sirva para que se corrijam os erros cometidos e que o Estado assuma seu papel de planejador e fiscalizador, com o devido protagonismo da área tecnológica.