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17/10/2023

Engenheira encontra na consultoria porta aberta à diversidade de atuação

Jéssica Silva – Comunicação SEESP

 

A Engenharia de Segurança do Trabalho tem um vasto campo de atuação. Torna-se ainda indispensável em qualquer atividade laboral quando computadas as estatísticas assustadoras – no Brasil, em 2022, foram mais de 612 mil acidentes com mais de 2 mil mortes, de acordo Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho.

 

A especialização, regulamentada em 1991, capacita o profissional a desenvolver como atividade primária projetos para a prevenção de riscos nas atividades de trabalho com vistas à defesa da integridade da pessoa humana – Leia no Mapa da Profissão, organizado pela área de Oportunidades na Engenharia do SEESP.

 

Eng Anne Eng de segurança 450Anne Michelle dos Santos Reis, engenheira de segurança do trabalho com especialização também em avaliações e perícias de engenharia. Fotos: Acervo pessoalPara Anne Michelle dos Santos Reis, a demanda pela profissão somada à diversidade de atuação lhe possibilitou vasto crescimento e desenvolvimento. Formada em Engenharia Ambiental, ela buscou na pós-graduação a porta que precisava para entrar no mercado. “Comecei a trabalhar com consultoria, adquiri uma bagagem profissional muito bacana. Aprendi a lidar com o público no trabalho de educação e conscientização da cultura de segurança”, ela conta.

 

A engenheira atuou no setor de transportes, mineração, eletricidade, indústria e logística, e busca atualmente novas possibilidades. “Ainda não passei pelo ramo hospitalar, ou químico, por exemplo, que são outras realidades”, diz.

 

E para quem pensa que na área não é possível “engenheirar”, como diz Reis, é justamente o oposto. Em entrevista ao SEESP ela conta os projetos de destaque em que atuou, como a elaboração de uma vestimenta de proteção contra cargas elétricas, e as oportunidades e desafios que apareceram dentro do escopo da Engenharia de Segurança do Trabalho.

 

O que a motivou a se especializar em Engenharia de Segurança do Trabalho?

Eu me formei em Engenharia Ambiental, em 2007, porque amo a área. Porém, em São Paulo, não encontrei muitas oportunidades na época, então já engatei na especialização em Gestão Ambiental, Saúde e Segurança do Trabalho, pela Universidade São Marcos e, dois anos depois, na pós-graduação em Engenharia de Segurança do Trabalho, pelo Centro Universitário Nove de Julho. Foi onde me encontrei profissionalmente. Pude ver que trabalharia com as duas áreas em conjunto, ambiental e de segurança, lidando com pessoas e meio ambiente, produção limpa, desenvolvimento sustentável. E aí também que tive um leque muito maior de oportunidades para trabalhar na engenharia. Quando saí da especialização, comecei a atuar com consultoria, o que deu um input na minha carreira, adquiri uma bagagem profissional muito bacana. Aprendi a lidar com o público no trabalho de educação e conscientização da cultura de segurança, do trabalho organizacional. Eu lidei com processos operacionais diversos, era uma vasta troca de experiências.

 

Como é o trabalho na área de consultoria?

Eu atuava desenvolvendo ferramentas e análises de riscos. E em cada organização tudo muda. Trabalhei no MetrôRio, na Vale, cada uma com um cenário diferenciado e até crítico no aspecto de segurança do trabalho e meio ambiente. Às vezes um recém-formado pode pensar que em consultoria não vai “engenheirar” de fato, mas eu aconselho a todos considerarem a área, é uma escola, a possibilidade de conhecer diversos setores, desenvolver competências como a comunicação, porque você vai lidar com público operacional e a alta direção, em treinamentos, palestras. Nessa fase, eu prestei um serviço para a Eletropaulo e depois dessa atividade, que foi um sucesso, eles me chamaram para trabalhar como engenheira de segurança. Foi um desafio gigantesco, era um ambiente formado quase 100% por homens, mais de 35 técnicos, boa parte bem mais velhos do que eu. Foi desafiador ter que provar minha capacidade por ser mulher, mas fui aprendendo a lidar com a operação e a diretoria. Consegui agregar algumas lideranças que se tornaram parcerias de outros trabalhos, fui recebendo muito apoio, pois eles viram que o que eu realizava ali era para melhorias, foi uma experiência de muito crescimento profissional.

 

Nessa fase, você também cursou uma especialização voltada a perícia, certo?

Sim, fiz a pós em Engenharia de Avaliações e Perícias, pelo Nove de Julho nessa época, o que me ajudou muito para montar laudos investigativos e ocorrências, algo como montar um laudo técnico, mas que qualquer profissional possa entendê-lo. Não empenhei ainda atividade específica desse mercado, mas é mais uma possibilidade. Se um juiz precisa resolver um determinado caso, por exemplo, ele pode chamar um engenheiro com essa qualificação para compor a equipe técnica, é bem interessante.

 

Qual projeto que atuou que mais marcou sua carreira?

Na Eletropaulo, tínhamos um problema recorrente em relação ao risco elétrico com arco voltaico, e desenvolvemos uma vestimenta para proteger o eletricista durante a atividade dele. Na época, por volta de 2016, era um processo novo para eles e a vestimenta utilizada não era adequada, não protegia o suficiente. Então elaboramos uma nova roupa, em parceria com a DuPont e um grupo da Universidade de São Paulo (USP).

 

Eng Anne Eng de segurança 5A engenheira Anne, durante atuação na Eletropaulo

 

 

Eng Anne Eng de segurança 1e Usiminas

 

 

Qual sua avaliação do mercado de trabalho de Engenharia de Segurança?

É muito dinâmico. Vão se alterando as legislações, cada setor tem sua regulamentação, sua norma. Depois da Eletropaulo, trabalhei na Usiminas, onde vivenciei uma realidade industrial. Após isso, fui para a área de logística, na Droga Raia, um outro universo. E nessa ocasião, eles não tinham estrutura alguma de segurança do trabalho, iniciei um projeto praticamente do zero. Foram cerca de dois anos trabalhando com a cultura de segurança do trabalho organizacional, desde a alta direção até a base. Fiquei responsável por um dos maiores galpões, em Guarulhos, e ainda Ribeirão Preto, Embu das Artes e São José dos Pinhais. Foi muito interessante conhecer toda a parte de logística, é um grupo bastante jovem, que lida com empilhadeiras, plataforma elevatória, diversas máquinas e todos os riscos atrelados. A Engenharia de Segurança do Trabalho tem um campo de atuação muito amplo, ainda não passei pelo ramo hospitalar, ou químico, por exemplo, que são outras realidades. O que não muda é o norteamento por meio das Normas Regulamentadoras (NRs), é um guia. Já o que deveria mudar é a cultura de segurança do trabalho, que, pela sua importância, poderia ser uma disciplina nas escolas. Das dificuldades que temos no dia a dia, a mais frequente é lidar com as pessoas, para que elas absorvam a conduta de prevenção.

 

Eng Anne Eng de segurança 3O que precisa ser feito para reverter essa situação?

Se houvesse esse trabalho desde a primeira educação, não seria algo tão pesado para o engenheiro de segurança, tão maçante. Muitas vezes, as pessoas não enxergam a segurança como deveriam, como algo de proteção à integridade física e até mesmo ao próprio trabalho. O Brasil ainda está engatinhando nessa cultura. As NRs estão ficando defasadas, precisam ser revistas e ampliadas. Os gestores ainda insistem em fazer pouco caso da importância das medidas preventivas e, se as normas não simplificam ou abrangem diretamente aquele negócio, nós, profissionais da área, temos que penar ainda mais. A NR 35, por exemplo, que foi recentemente atualizada, ficou muito boa. Já a NR 10 ficou mais enxuta, abre margem para as empresas acatarem ou não. O engenheiro de segurança deve se pautar pela NR, pela legislação municipal, orientação do corpo de bombeiros e mais instrumentos como esses para desenvolver seu trabalho.

 

A tecnologia e inovações são bem-vindas na Engenharia de Segurança?

Sim, são ferramentas. A indústria 4.0 trata disso, não é a substituição do trabalhador, mas a criação de um posto de trabalho mais seguro, que pode até evitar acidentes fatais. O problema é que muitos empresários não querem investir, não veem que a inovação traz melhorias, diminuindo a exposição dos trabalhadores a riscos, auxiliando a ergonomia nas atividades. A saúde ocupacional também é, muitas vezes, deixada de lado. São poucas as empresas ainda que dão a devida ênfase à saúde ocupacional, que é extremamente importante. O próprio trabalhador deve ter consciência de que as medidas são para sua segurança, e sabemos que isso é difícil. Muitos acidentes graves acontecem dentro de casa, vimos muito isso durante a pandemia. Por fim, a comunicação entre operação e gestão deve ser melhorada. Quem está na linha de frente tem que ter espaço para falar quais dificuldades enfrenta. 

 

O que você indica como qualificação e aprimoramento aos engenheiros que estão ingressando no mercado?

Indico qualquer especialização em gestão ambiental, algo focado em meio ambiente, produção de energia limpa. Como soft skill, recomendo que o engenheiro trabalhe sua comunicação, faça algum curso nesse sentido. Não tem como escapar, você tem que lidar com diversos públicos, níveis e setores, tem que ter uma boa comunicação. E se antenar das inovações, das atualidades da área de Segurança e Saúde no Trabalho, parte de ergonomia para cada setor, e se aproxime da Saúde Ocupacional.  

 

 

 

 

 

 

 

 

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