No dia 24 de agosto, a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) completa 120 anos de existência. Pioneira no estado, nos seus primeiros anos, contava com quatro cursos de graduação – Engenharia Civil, Industrial, Agrícola e o anexo de Artes Mecânicas. Atualmente, são 17, que somam 4.500 estudantes. A trajetória em prol da profissão e do desenvolvimento nacional – que tem lhe rendido várias homenagens, incluindo uma pelo Seesp em 15 de maio último – é contada ao Engenheiro nesta entrevista pelo atual diretor da Poli, José Roberto Cardoso.
Conte um pouco da trajetória da Poli.
A Escola Politécnica foi fundada em 1893, não por um estado ou o imperador, mas por um homem chamado Antônio Francisco de Paula Sousa. Ele tinha o sonho de criar uma escola de engenharia a exemplo das que cursou na Alemanha e na Suíça. Sua primeira tentativa foi frustrada, ele voltou para a Europa e após o seu retorno pela segunda vez ao Brasil, percebeu que isso só seria conseguido mediante ações políticas. Envolveu-se na política, foi deputado e até ministro de Governo do Floriano Peixoto. Com essa influência, conseguiu fundar a escola em 1893 e foi diretor dela por 23 anos, até o seu falecimento, em 1917. Seu objetivo, ao criá-la, era dar suporte tecnológico à indústria paulista que estava nascendo, suprindo-a de profissionais competentes. Esse DNA segue com o politécnico até hoje. É uma relação antiga da escola com o setor produtivo, talvez seja a que tem mais projetos de cooperação com indústrias no estado de São Paulo e no Brasil. Nos seus quadros, trabalhou muita gente importante, professores que mudaram a cara do País. A Poli foi escola de oito governadores e 11 prefeitos da cidade de São Paulo. Ela tem uma influência política muito grande. Não existe obra ou projeto importante neste País em que a Poli não esteve presente, desde as grandes barragens, a implantação da primeira linha de metrô no Brasil, a primeira transmissão em corrente contínua. Até hoje isso ocorre. Estamos agora envolvidos com o submarino nuclear, com uma série de atividades da exploração de petróleo em águas profundas. Nestes 120 anos, pretendemos refletir sobre a nossa existência, não só sobre a importância da Poli para a sociedade como formadora de quadros na área tecnológica, mas também de opinião e de políticas públicas para a melhoria da sociedade. Promovemos recentemente uma mudança na estrutura curricular que se tornou paradigma a todas as escolas de engenharia nacionais. Também lançamos há uns dez anos um vasto programa de internacionalização e no período, mais de 1.500 estudantes da Poli foram para o exterior. Neste ano, enviamos 200 alunos para fazer cooperações de tempo curto e até duplo diploma.
Qual a estrutura da escola hoje?
Hoje absorve anualmente 820 alunos vindos do ensino médio nos seus 17 cursos de engenharia de graduação. Temos também 11 cursos de pós-graduação, em todos os ramos de conhecimento. A Poli é responsável por aproximadamente 20% de toda a geração de conhecimento na área de engenharia no Brasil. São 4.500 alunos de graduação e aproximadamente 2.500 de pós, algo em torno de 50 laboratórios de pesquisa, alguns de visibilidade internacional. Em 2012, a escola colocou um braço em Santos, na região do pré-sal, para oferecer um curso de Engenharia do Petróleo mais perto das empresas que estão explorando a Bacia de Santos. Ela tem essa particularidade de sempre estar avançada em relação aos acontecimentos, sobretudo tecnológicos, para que essa proximidade facilite o relacionamento da indústria e da universidade à realização de pesquisas de ponta.
O relacionamento universidade-empresa é uma defesa do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”. Na Poli, então, é uma realidade e parte de sua história?
Sem dúvida. Além de termos essa presença grande na sociedade, em especial junto às empresas, também temos uma participação política. Vários professores nossos têm participado das ações do Seesp e da FNE, sobretudo do projeto “Cresce Brasil”, de extrema relevância. Alertou muito, por exemplo, os governos estadual e federal sobre a falta de engenheiros. Na nossa estimativa, estamos formando algo em torno de 40, 45 mil para uma demanda de 60 mil.
E como a Poli tem contribuído para formar mais engenheiros?
Quando assumi, em 2010, absorvíamos 750 alunos por ano. Com o curso de Engenharia do Petróleo em Santos, apareceram mais 70 vagas. E tem agora no Conselho Universitário uma proposta nossa para abertura de outro curso de Engenharia de Computação, com mais 50 vagas. Se for aprovado, absorveremos quase 900 alunos por ano, o que chegará ao nosso limite físico. Aí o jeito seria a USP criar outra escola de engenharia no interior.
Na reforma curricular feita, o que está colocado?
Temos que formar engenheiros o mais generalistas possível, para que, agregado a um ambiente de criatividade e inovação, consigam encarar os desafios da sociedade atual, atuar em todas ou numa grande quantidade de áreas para facilitar primeiro a empregabilidade e segundo, a inovação. Essa é a tendência mundial. Os nossos alunos agora vão ter mais mobilidade. Aquele que ingressa na Engenharia de Produção, por exemplo, poderá fazer um trabalho de formatura na Engenharia Elétrica.
O Seesp, com apoio da FNE, criou o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec). Como o senhor vê uma parceria da Poli com essa nova escola?
Essa parceria já ocorre desde o nascedouro do Isitec. Fomos um dos primeiros entusiastas de sua criação, porque sabemos que uma instituição de engenharia liderada pelo sindicato vai ser de boa qualidade, pois ele sabe da necessidade de se ter uma boa formação em nosso país. (Por Soraya Misleh)
Fonte: Jornal Engenheiro, Edição 135, da Federação Nacional dos Engenheiros