A Comissão Nacional da Verdade (CNV) resgatou a biografia do líder camponês José Porfírio de Souza, responsável pelo único movimento rebelde bem-sucedido no meio rural no período republicano, o conflito de Trombas e Formoso, em meados da década de 1950, no Norte de Goiás, um dos principais alvos da ditadura de 1964.
Foto: Comissão Nacional da Verdade
Audiência Pública sobre a Luta Camponesa de Trombas e Formoso, no detalhe, acima, José Porfírio
Em audiência no sábado (15/3), em Goiânia, dirigentes de entidades civis, que conviveram com Porfírio, e seus descendentes, se alternaram na tribuna da Assembleia Legislativa de Goiás para recontar a história do conflito armado de Trombas e Formoso e exigir do governo a localização dos restos mortais de José Porfírio, caçado entre 1964 e 1972, preso e, em junho de 1973, incluído na lista de desaparecidos políticos.
Figuras de um Brasil urbano que contribuem para recontar a história de Porfírio, ou Zé Profiro, como era chamado pelos posseiros, e, assim, entender a conturbada década que culminou no golpe civil-militar de 1964 e, mais tarde, nos conflitos armados que marcaram os anos de chumbo. Porfírio é conhecido por lutar pela reforma agrária, bandeira associada à época ao comunismo e incluída entre as justificativas do golpe civil-militar.
Ele liderou o movimento armado que venceu as milícias paramilitares, jagunços e forças da Polícia Militar, entre 1955 e 1957, nos municípios goianos de Formoso e Motividiu do Norte, conquistando parte das terras devolutas que os grileiros queriam tomar dos posseiros. Em 1962, Porfírio elegeu-se deputado estadual, o primeiro do país de origem camponesa e, com o golpe de 1964, mergulhou na clandestinidade quando passou a organizar focos de guerrilha rural e impor resistência ao militarismo.
Principal alvo dos órgãos de repressão, informações dão conta e que Porfírio teria sido preso em dezembro de 1972, no Maranhão, na Operação Mesopotâmia, organizada pelo Exército para eliminá-lo. Levado para o Pelotão de Investigações Criminais (PIC) do Comando Militar do Planalto, em Brasília, foi solto em junho de 1973 para então desaparecer na rodoviária da capital federal.
Inúmeras prisões no norte goiano foram realizadas, entre elas a de seu filho de 17 anos, Durvalino, que foi torturado barbaramente e, depois, com transtornos mentais, internado num hospital psiquiátrico de Goiânia, onde desapareceria sem deixar vestígios.
"Ele foi um líder rural autêntico”, diz a ex-militante comunista Dirce Machado da Silva, presidenta da Associação dos Lavradores de Trombas/Formoso, enviada à região em 1954 pelo PCB para dar orientação política ao líder dos posseiros, durante a audiência.
“Os militares tinham muito medo do Porfírio”, afirma o presidente da Associação dos Anistiados Políticos de Giás (anigo), Marcoantônio Dela Côrte. O militante testemunhou encontros de Porfírio com Francisco Julião, organizador das Ligas Camponesas, e com o líder comunista Gregório Bezerra, com que tentou estabelecer pontos de guerrilha em Goiás.
A audiência foi encerrada com a frase do jornalista e militante da luta de Trombas (GO), Sebastião de Abreu: "não vamos parar de lutar. Queremos que os militares devolvam os restos mortais de José Porfírio".
Imprensa - SEESP
Com CNV