Parceria da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Milho e Sorgo, de Minas Gerais, com a Agência Nacional de Águas (ANA) permitiu a execução de levantamento inédito sobre o uso da água na agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil. Os resultados mostraram que, em 2013, o Brasil possuía quase 18 mil pivôs centrais, perfazendo uma área de aproximadamente 1,2 milhão de hectares.
Foto: Manoel Albuquerque Filho
Mapeamento da agricultura irrigada por pivôs aprimorou as estimativas de demandas de água
A aplicação do mapeamento aprimorou as estimativas de demandas da água – tanto no cálculo quanto na espacialização. "Tais resultados estão alimentando, por exemplo, os Planos de Recursos Hídricos em elaboração, os Estudos de Bacias Críticas e de Demandas de Água e os Relatórios e também Informes e Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil", aponta o especialista em recursos hídricos da agência reguladora, Thiago Henriques Fontenelle.
O trabalho em questão se baseia na tecnologia "Integração Google – SIG, Servidores de Mapas", desenvolvida pela Embrapa Milho e Sorgo, e combina informações de satélite e a digitalização no Google Earth. A identificação das áreas irrigadas é feita usando imagens do satélite Landsat8, da agência espacial norte-americana, NASA, e também utiliza tratamento dessas imagens para evidenciar os equipamentos de irrigação.
"Os estudos mostraram que existe concentração de uso de pivôs nas bacias dos Rios São Francisco, Paranaíba, Grande e Paranapanema (respectivamente, em torno de 350 mil, 300 mil, 100 mil e 90 mil hectares). Essas regiões estão localizadas em área densamente povoadas e com alto índice de industrialização, fatores que ocasionam um maior consumo de água", explica a pesquisadora Elena Landau, que coordenou a pesquisa, juntamente com o pesquisador Daniel Pereira Guimarães, ambos da Embrapa Milho e Sorgo (MG).
De acordo com a pesquisadora, Minas Gerais é o estado que apresenta a maior concentração de áreas irrigadas por pivôs (aproximadamente 370 mil hectares), seguido pelos estados de Goiás, Bahia, São Paulo e Rio Grande do Sul (respectivamente, com cerca de 211 mil, 192 mil, 169 mil e 76 mil hectares). "Nessas áreas é alta a demanda pelo consumo de água para irrigação bem como para a geração de energia e abastecimento para consumo humano", aponta Landau.
A metodologia havia sido usada com êxito em trabalho de gerenciamento dos recursos hídricos feito para a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais, possibilitando implementar o projeto estruturante IrrigaMinas.
O gerenciamento dos recursos hídricos é uma ferramenta utilizada para amenizar os conflitos pelo uso da água. "Apenas em Minas Gerais existem mais de 50 bacias hidrográficas nas quais foram estabelecidos conflitos pelo uso da água. O gerenciamento pode ser feito pelos produtores rurais, pelo governo, por comitês de bacias hidrográficas e outros interessados", explica o pesquisador Daniel Pereira Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo. Ele cita um bom exemplo de controle, realizado na Bacia do Rio Entre Ribeiros, em Paracatu, cidade do Noroeste Mineiro. "Lá os próprios irrigantes já se organizaram para gerenciar o consumo de água. Em épocas de escassez eles fazem a opção de reduzir o consumo", diz.
O georreferenciamento das áreas irrigadas permite identificar as áreas plantadas com o uso das imagens dos satélites Aqua e Terra (Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer - Modis). "A compatibilização das bases de dados referentes à agricultura irrigada com as bases municipais do IBGE e as bacias hidrográficas da Agência Nacional de Águas torna-se um poderoso instrumento de monitoramento e gerenciamento do uso da água na agricultura irrigada, além de fornecer subsídios para a avaliação da safra agrícola", diz Guimarães.
Irrigação brasileira
A crise hídrica que vem ocorrendo no Brasil está causando impacto na economia e na qualidade de vida da população. Como a agricultura irrigada utiliza-se de cerca de 70% das águas derivadas dos recursos hídricos, a atividade muitas vezes é apontada como responsável pela crise de água.
Daniel Guimarães, da Embrapa Milho e Sorgo, considera essa visão simplista e sem sentido. "Precisamos enxergar o ciclo da água na natureza e notar que a água está em processo contínuo de transformações, em que grande parte retorna para o espaço pelo processo de evaporação da água contida no solo e transpiração das plantas", diz o cientista.
O pesquisador ressalta que nesses períodos de forte estiagem, as altas temperaturas e os baixos índices de umidade do ar contribuem para aumentar as perdas de água para a atmosfera e reduzir a água disponível nos solos. "Na realidade, as atividades humanas impactam diretamente a natureza e precisam ser redirecionadas de forma a permitir o desenvolvimento sustentável. No caso da agricultura irrigada, trata-se de uma atividade que permite ganhos expressivos em produtividade e a consequente redução da área antropizada", complementa. A área antropizada é aquela onde ocorrem transformações no meio ambiente (solo, relevo, vegetação, regime hídrico) por consequência da atividade humana.
No entanto, Guimarães explica que tudo isso requer o uso eficiente da água de irrigação e que a consolidação do Brasil como celeiro de alimentos do mundo passa, obrigatoriamente, pela expansão dessa atividade no país. "Apesar de nossa vasta extensão territorial e condições climáticas favoráveis, o Brasil ainda ocupa uma tímida posição no que se refere à área irrigada, perdendo até para países de clima árido, como Paquistão e Irã. Enquanto nossa área irrigada situa-se atualmente na casa de seis milhões de hectares, nos Estados Unidos supera 25 milhões de hectares e ultrapassa 60 milhões de hectares irrigados na China e Índia", pontua. A política do governo é dobrar a área irrigada no país até 2020, mas essa expansão requer análises criteriosas que permitam o gerenciamento dos recursos hídricos de forma a minimizar os conflitos pelo uso da água e as questões ambientais.
Fonte: Assessoria de Comunicação da Embrapa