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CursoCampinasdentroA Delegacia Sindical do SEESP em Campinas recebeu, pela segunda vez, 30 engenheiros que participaram do curso “SPDA – Sistemas de Proteção Contra Descargas Atmosféricas”, realizado nos últimos dias 19 e 20 de março pela empresa Termotécnica Para-raios, de Belo Horizonte.

O curso foi ministrado pelo engenheiro eletricista José Barbosa, atualmente gerente de Engenharia da empresa, que é referência nacional no ramo de para-raios e vencedora de todas as edições do Prêmio Qualidade concedido pela Revista Eletricidade Moderna. Barbosa é membro da comissão que revisa a norma NBR5419: 2005 da ABNT.

Entre os temas que foram expostos estão: proteção de edificações contra raios de acordo com a NBR 5419 da ABNT; cálculo da necessidade de proteção; apresentação de métodos de dimensionamento (Franklin, Eletrogeométrico e Gaiola de Faraday); determinação do número de descidas e espaçamentos; malha de aterramento e Equipotencialização; demonstração de aplicativos; exercícios práticos de dimensionamento de SPDA; sistema de proteção dentro do concreto armado – SPDA Estrutural;

 

Marta Adriano
Delegacia Sindical de Campinas




O programa Jornal do Engenheiro (JE), na TV, desta semana, traz assuntos importantes para a inovação, a sustentabilidade e o desenvolvimento da sociedade brasileira. Na entrevista especial, o engenheiro mecânico e físico Sokrats Novickis fala sobre a diferença entre geração e cogeração de energia elétrica, e quais as vantagens para ambientais e econômicas desse último sistema, que ainda é pouco difundido no Brasil.

Novickis, que é um dos professores de curso sobre o tema no SEESP, explica que a na cogeração de energia utiliza o calor, que é desperdiçado na geração, no aquecimento de água e nos aparelhos de ar refrigerado em grandes centros comerciais – como shoppings –, hotéis, edifícios residenciais e também em indústrias.

O sistema, que utiliza gás natural, mobiliza várias áreas da engenharia, como a mecânica, de processos, civil e elétrica. No curso que está sendo ministrado pelo sindicato, além desses profissionais, podem participar técnicos mecânico-elétrico, gerentes e proprietários de estabelecimentos comerciais ou residenciais e também administradores. Os interessados devem entrar em contato pelo telefone (11) 3113-2641 ou pelo e-mail Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.">Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.. Associados do sindicato têm valor diferenciado.

Isitec
O presidente do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, traz a boa notícia de que está tudo preparado para que o Instituto Superior de Inovação e Tecnologia (Isitec) inicie suas atividades já no segundo semestre deste ano. Aguarda-se, informa, apenas a publicação do credenciamento da escola do sindicato pelo Ministério da Educação (MEC). “Todos os passos necessários para isso já foram percorridos. E tivemos a aprovação das nossas instalações físicas, do curso, da grade curricular, dos professores. Ou seja, estamos prontos para formar profissionais com qualidade para o País”, destaca o dirigente.

O objetivo do sindicato ao constituir o Isitec é ser referência do ensino de engenharia no País, pensando em inovação, crescimento e desenvolvimento de acordo com as demandas do mercado nacional. “Queremos formar profissionais para as empresas e não para a academia”, observa.

Cidades
A reportagem especial mostra os preparativos para a 5ª Conferência Estadual das Cidades, que acontecerá entre os dias 26 e 28 de setembro próximo, cujo tema será “Quem muda a cidade somos nós – Reforma urbana já”.

O JE na TV vai ao ar, na Capital paulista, sempre às terças-feiras, a partir das 19h, ou no mesmo dia e horário pela internet (neste link). E nas demais cidades paulistas e de outros estados confira a programação aqui.

 

Rosângela Ribeiro Gil
Imprensa – SEESP




Wigley-MarkdentroNova York está acabada, sentencia Mark Wigley [foto ao lado]. Um dos principais pensadores do futuro das cidades, o arquiteto neozelandês e diretor da Escola de Arquitetura, Planejamento e Preservação da Universidade de Columbia defende que a cidade americana onde mora e que por muito tempo foi o centro do mundo é hoje como o seu avô: “Você o ama, ele é cheio de sabedoria, mas não é o futuro”.

Para Wigley, curador da histórica exposição “Deconstructivist architecture”, em 1988 (leia mais aqui), é na América Latina, mais precisamente no Brasil, que residem as grandes transformações urbanas.

É por isso que há pelo menos uma década Wigley vem com frequência ao Rio. Nesta semana, passou pela cidade para visitar o Studio-X, braço da escola de Columbia que ele fundou na Praça Tiradentes há dois anos. Lá, arquitetos do mundo inteiro e outros profissionais são convidados a discutir o que é a cidade do futuro. Wigley também se reuniu com o governador Sérgio Cabral e seguiria para São Paulo, onde planeja criar um laboratório do Studio-X.

A rede de arquitetos, projeto que inventou em 2008, começou em Nova York, depois foi a Pequim, Amã, Mumbai, Rio e, neste ano, inaugura sedes em Joanesburgo, Istambul e Moscou. A filial carioca, porém, é a que ele considera a mais vibrante. Em entrevista ao GLOBO, Wigley falou das diferenças entre Rio e São Paulo — comparando-as a um casal antigo, que conhece as fraquezas do companheiro —, disse que as duas serão uma só, numa das megalópoles que o mundo verá surgir até 2050, e que o grande desafio será lidar com as pessoas mais velhas.

O senhor é um dos grandes pensadores do futuro das cidades. O que já concluiu?
O futuro das cidades não está na Europa ou nos Estados Unidos, mas na América Latina, no Leste Asiático, no Oriente Médio e na África. As grandes cidades se transformaram em laboratórios de mudanças. Em 2050, teremos 7 bilhões de pessoas vivendo em cidades, 9,3 bilhões ao todo no mundo. Estamos falando de algo daqui a duas gerações, a cidade dos nossos netos. E ninguém sabe o que isso significa. É o maior experimento da história da Humanidade.

Foi por isso que Columbia veio ao Rio?
Se quero entender o que está acontecendo nas cidades, preciso estar na América Latina. Em qual país? Que país vive sonho e realidade? o Brasil. Mas Rio ou São Paulo? Não tinha certeza, mas acreditava no Rio. Não posso esquecer São Paulo, é claro. Como esquecer uma cidade de 20 milhões de pessoas (número de habitantes da região metropolitana)? De qualquer forma, Rio e São Paulo vão em breve ser uma cidade só, uma única megalópole. Estando no Rio, podemos pensar em São Paulo. Se tivesse instalado o Studio-X em São Paulo, será que poderíamos pensar no Rio? Acredito que não.

Por que não?
Geograficamente, o Rio é como Nova York, como Mumbai, uma cidade no limite do continente, que é sempre um lugar de trocas. E o Rio sempre foi experimental. As cidades são um tipo de organismo biológico que cresce incrivelmente rápido. Acredito, por exemplo, que sabemos melhor o que significa viver em Marte do que o que é viver em cidades. E a cidade do futuro está vindo na nossa direção rapidamente. Se quero entender isso, preciso olhar para a América Latina, para Rio, Mumbai, Pequim.

E as grandes cidades como Nova York?
Nova York está acabada. É uma cidade bonita, mas, se há cem anos era um modelo cosmopolita, de uma nova forma de vida, hoje, já não é. Nova York é agora como seu avô: você o ama, ele é cheio de sabedoria e experiência, mas ele não é o futuro. Provavelmente Mumbai e Rio são hoje para o mundo o que Nova York foi há cem, 200 anos. Mumbai parece impossível e, há cem anos, Nova York te fazia perguntar: como é possível ter tanta gente, tantos sonhos, tantos idiomas? Na América Latina, vive-se hoje esse tipo de transformação.

Quando optou pelo Rio para abrir o laboratório da Universidade de Columbia no país, já sabia da “rivalidade” entre Rio e São Paulo?
O que aprendi sobre Rio e São Paulo é que são como um casal que está junto há muito tempo. Eles podem explicar os problemas de seus parceiros muito, muito bem. Rio diz que São Paulo pensa que é o centro do universo, que tudo é dinheiro e poder. É verdade, aliás. São Paulo diz que Rio é muito praiana, tem prazer demais. É verdade também. Rio e São Paulo criticam a si mesmas, mas como um casal antigo, eles não podem imaginar a vida um sem o outro.

E o que o senhor acha sobre as duas?
Entre elas, criou-se um bom sistema. Uma (o Rio) realmente dá ênfase à criatividade, o que é típico de sua geografia. Cidades às margens da água, onde novas pessoas, novas ideias e materiais sempre chegam, são espécies de laboratórios onde novos conceitos urbanos se desenvolvem. No começo do século XX, Nova York agiu como um modelo brilhante e hiperinfluente de uma vida baseada em estruturas horizontais e verticais. Esse lugar agora é do Rio. Quando se vive no centro da Terra, como em São Paulo, você precisa criar a imagem de que você é o mundo. Acho que essa combinação de vocações de Rio e de São Paulo é ótima.

O senhor defende que as duas vão virar uma cidade só. Como isso vai ocorrer?
Sim, em 2050, provavelmente Rio e São Paulo serão uma só. Isso não é uma metáfora. Se você olhar o crescimento das duas cidades, verá que estão se aproximando. Teremos infraestrutura urbana contínua entre ambas. Esse velho casal será uma única megalópole. Nesse momento, será ainda mais incrível estar no Rio. Estaremos no centro de uma das grandes formações urbanas da Humanidade.

O que e como serão as megalópoles?
Nos últimos 50 anos, especialistas em cidades vêm discutindo o que é e quando virá essa megalópole. E ela vai se tornar uma realidade provavelmente aqui. Talvez também em partes da China, em Boston e Washington... Teremos seis ou sete espaços com 50 milhões de pessoas. Lembre-se de que hoje, na China, uma cidade de 1 milhão de pessoas em cinco anos, passa a ter 10 milhões de pessoas e, em 20, chega a 25 milhões.

Que problemas teremos nessa cidade do futuro?
Considerando que a expectativa de vida das pessoas vai em direção aos cem anos, até mesmo no Brasil, quer dizer que, em 2050, 2 bilhões de pessoas vivendo em cidades terão mais de 60 anos. Se olharmos nossas ruas, verá que não pensamos a cidade para pessoas mais velhas. Pensamos nos jovens? Também não. A cidade foi desenhada para pessoas que trabalham, para a idade de trabalho, entre 22, 25 anos até os 65 anos. Então, eu diria que questões como envelhecer e ter saúde serão mais críticas.

E como solucioná-las?
Não sabemos ainda, mas isso é estimulante. Odeio o conceito de “cidade sustentável”. É uma contradição. Quando se diz isso, é como dizer: vamos criar cidades que não causem problemas. Mas os arquitetos são treinados para ver nesses problemas oportunidades. Uma cidade é um lugar para se reclamar.

O que o senhor achou da vitória do arquiteto japonês Toyo Ito no Pritzker Prize, no último domingo?
Acredito que Ito é uma escolha maravilhosa para o prêmio. Sempre que ele faz um prédio, joga fora ideias velhas. Ele nos faz ver através de novos olhos. Ele não abandona o Modernismo, mas o reinventa. Ele nos faz pensar, e essa é a maior responsabilidade do arquiteto.


Imprensa – SEESP
Fonte: O Globo Online – 22/03/2013




OziresSilvadentroCom 82 anos completados em 8 de janeiro, Ozires Silva desafia estereótipos. Bem-humorado, tempera avaliações negativas com brincadeiras que desarmam até os alvos da crítica. Com múltiplos interesses, é capaz de citar de memória números de universos tão diferentes como o valor movimentado pela indústria de aviação no mundo ou o número de alunos em escolas privadas no Brasil.

Ministro de Infraestrutura no governo Collor — na época em que os considerados notáveis foram chamados a dar fôlego a um Planalto acossado —, lançou o telefone celular no Brasil numa chamada, do Rio, ao então colega da Justiça, Jarbas Passarinho. Coronel da Aeronáutica, é tão ligado à inovação que tem um prêmio com seu nome. Fundador da Embraer como empresa estatal ligada às Forças Armadas, defende com energia o desapego do Estado das atividades econômicas.

Veja, a seguir, reprodução, na íntegra, de entrevista concedida ao jornal Zero Hora, do Rio Grande do Sul.

Zero Hora — O governo brasileiro parece ter descoberto agora a importância da infraestrutura...
Ozires Silva -
Sério? (risos) Eu gostaria de ter essa certeza, porque o governo está sem estratégia, é muito errático. De manhã, talvez chegando ao Planalto, a nossa presidenta (acentua o "a" final, comentando: 'é lei, né?') tem uma ideia, explode naquilo, todo mundo começa a correr, mas até de tarde... Por outro lado, o setor privado está prontinho para participar da infraestrutura.

ZH — Está prontinho?
Ozires -
Está prontinho. Claro que as condições atuais têm de ser alteradas. Tem de haver certeza da continuidade do programa, porque qualquer obra de infraestrutura tem um largo prazo não só de planejamento, de construção como tem o problema da operação e, infelizmente, o Brasil se tornou um país caro. Então, tem essa preocupação, mas como sou otimista de um modo geral, qualquer coisa que se faça em infraestrutura no Brasil é absolutamente essencial. Está tudo dilacerado.

ZH — Por que chegamos a esse ponto? Faltou planejamento, investimento?
Ozires -
Sinceramente, aqui no Brasil inventaram uma expressão que é muito válida, a chamada vontade política. No fundo, nós cometemos um erro de origem: o governo se apossou do país. Hoje, o governo federal é o dono do Brasil. Embora a Constituição no seu artigo primeiro, parágrafo único, diga que todo poder emana do povo, mas isso não é cumprido. Tudo precisa de autorização governamental. Eu vivi nos Estados Unidos durante meu curso de pós-graduação e vi isso com muita clareza. Lá, o que não está escrito pode ser feito. Aqui no Brasil, o que não está escrito tem de escrever para ser feito. Essa é uma diferença fundamental. Significa que tem de haver iniciativa do governo para qualquer coisa que a gente faça. Por outro lado, hoje tem uma parafernália legal que o próprio governo se enrola nela. Nos EUA, tem um negócio que eu apreciava bastante, a cada período se fazia uma desregulamentação. Estamos precisando disso, dar aos cidadãos alguns direitos que nós perdemos.

ZH — Esse é um fenômeno recente?
Ozires -
Veja, quando era governador de São Paulo Mario Covas lançou o Rodoanel. Sabe quando foi? Não precisa pensar muito, foi em 1998. Hoje, não chegou à metade. Em 1998, os chineses começaram o primeiro Rodoanel em torno de Pequim. Sabe quantos rodoanéis existem em Pequim hoje? Seis. todos concêntricos, todos prontos. Tudo aqui é feito com uma lentidão enorme por causa dos atritos que o governo coloca. Tenho certeza de que não tem interesse nenhum em retardar as coisas. Só que colocaram tal liame em torno disso que fica uma complicação.

ZH — Quando se fala em China, não só pessoas do setor público, mas também da área privada demonstram uma certa invejinha...
Ozires -
Invejinha, não invejona.

ZH — Mas o cidadão chinês não paga um preço por essa agilidade?
Ozires -
Hoje, se você olhar a vida humana, duas coisas ressaltam: comunicabilidade e mobilidade. Na comunicação, ainda temos alguma coisa, com severas críticas, mas temos. Quando eu era ministro, lancei o telefone celular, em 1990. Fui processado pelo sindicato da Telebrás, esse negócio todo, quando o Brasil tinha 2 milhões de telefones. Na semana passada, a Anatel divulgou que temos 262 milhões de telefones. Eu pensava que a gente tinha de dar um telefone para cada brasileiro, hoje tem gente que tem dois, três. Isso mostra que o Brasil tem uma demanda saudável por tudo que se coloca, inclusive de infraestrutura. Não há problema de mercado, que tem profunda demanda por esses dois itens, em particular na mobilidade. Eu sempre trabalhei com aviação. Sabe quantas cidades no Brasil são atendidas por transporte aéreo? 120, para 5,5 mil municípios. E por que? Por atrito com o governo. Em 1993, o Clinton mandou uma mensagem para o Congresso desregulamentando a aviação nos EUA. A primeira frase da exposição de motivos que ele fez ao Congresso é de colocar até em lápide: 'a aviação é um recurso natural fundamental para o desenvolvimento dos EUA'. E mandou brasa na desregulamentação. Sabe o que aconteceu? A aviação americana captou 40% do mercado mundial. Sabe o que significa isso? O transporte mundial no ano passado produziu US$ 3 trilhões de receita, e US$ 1,2 trilhão foi para os EUA, inclusive nosso.

ZH — Já que o senhor trouxe o assunto, o que há de errado com as empresas aéreas brasileiras, que passam por um momento meio complicado...
Ozires -
Você é extremamente delicada falando em momento meio complicado (risos). Nos últimos anos, a demanda cresceu dois dígitos, mas só se voa para 120 cidades, que coisa horrível. O David Neeleman, que criou a Azul, me perguntou: 'Por que o governo exige um estudo de viabilidade para uma nova rota? Se não der certo, ele me compensa do prejuízo? O risco é meu'. O que está errado é que há regulamento demais. Você não consegue dar um passo sem ter um carimbo de um órgão governamental qualquer. Minha filha agora comprou uma franquia para ginástica. Ela está há dois meses lutando para criar uma empresa. O Doing Business do Banco Mundial, diz que na Nova Zelândia cria-se uma empresa em 45 minutos. No Brasil, em 152 dias.

ZH — Esse problema é desse governo, dos últimos governos?
Ozires —
Não, isso vem de longe. É um problema cultural. Mas é aquela história: precisamos de líderes que quebrem essa cultura. Têm de fazer algo para que esse entulho do passado seja modificado. Em novembro de 1990, eu era ministro e tem um cara lá na Esplanada dos Ministérios que leva os decretos para serem coassinados pelo presidente da República. Um dia, chegou na minha mesa e tacou um decreto para eu assinar. Eu olhei e disse: 'esse eu não assino'. Ele me disse: 'mas o presidente já assinou'. Eu respondi: 'Ah, me dá esse troço aqui'. Fui lá no Planalto e disse ao presidente: 'O senhor tem coragem de assinar o decreto número 100 mil'. Chamamos o ministro-chefe da Casa Civil, o Coimbra, debatemos, assinamos o decreto número 1. A Dilma já assinou o número 7 mil. Estamos com 107 mil decretos. Precisamos parar de fazer medidas provisórias. Se eu tivesse intimidade com a Dilma, diria 'só assina nova lei revogando outra'. Temos de começar a pensar em desregulamentar, dar liberdade maior para o cidadão. Inovação só surge em clima de liberdade.

ZH — Mas agora que o governo admitiu que precisa de investimento privado, foi para o Exterior oferecer oportunidades em infraestrutura, dá para apostar que as obras saem do papel?
Ozires -
A gente aplaude, e olha, há dinheiro no mundo para tudo quanto é projeto bom que aparecer. Mas nas condições que temos no Brasil, há um risco muito grande, há muito medo. Mas temos de fazer nosso dever de casa, que é reduzir os requisitos e começar a levar bons projetos. Em energia, transportes, comunicações e até em infraestrutura humana, estamos falando de educação, em que também estamos lá atrás.

ZH — E vai haver interesse internacional em projetos num momento em que a imagem do Brasil no Exterior já não está tão brilhante?
Ozires -
Mesmo assim. Eu estava ontem em um hotel aqui no Brasil em que mais da metade dos hóspedes era de estrangeiros do mundo inteiro. E esse pessoal não está brincando. Há muito interesse. Mas nós criamos uma imagem negativa que temos de eliminar, de complicação, de não cumprir prazos e regras. Os governos precisam levar em consideração que estabilidade das regras é fundamental. Ninguém vai colocar um dinheirão em obras de infraestrutura se as regras forem modificadas ao longo do jogo. Isso já poderia ter ocorrido com outros presidentes, mas se a Dilma perder a caneta vai ser uma beleza (risos).

ZH — O senhor menciona a falta de infraestrutura humana, e o Brasil vive um momento de falta de mão de obra qualificada, em que engenheiros, por exemplo, são disputados.
Ozires —
Essa é uma boa notícia, a demanda por engenharia nas universidades tem crescido. O Brasil tem seis engenheiros por mil habitantes, a França tem 35. Estamos formando por mil habitantes dois engenheiros por ano. A esmagadora maioria dos estudantes hoje está nas escolas privadas, cerca de 80%. As escolas públicas em média não aumentam vagas há 10 anos. Os 20% nas escolas oficiais não pagam nada. Os das escolas privadas pagam impostos, as doações são tributadas e as empresas, quando pagam treinamento, sofrem penalização do INSS de pagar encargos sociais. Por que isso? A Constituição diz que todos são iguais perante a lei, mas os 80% da escola privada não são iguais aos 20% da escola pública.

ZH — Mas o que se faria para equalizar a situação, desmontar a estrutura pública?
Ozires -
Mexer na legislação. Fazer como se faz no mundo inteiro. Fiz uma pesquisa e não encontrei nenhum país que tribute a educação. Quando fiz a pergunta a um australiano, ele não entendeu. Achou um disparate tão grande que não entendeu. Nós temos de fazer essas contribuições. Ou a gente investe em educação ou os brasileiros vão perder a competição para o mundo.

ZH — E dá tempo de correr atrás disso?
Ozires —
Tempo não dá, mas agora não temos alternativa. Até que a presidente Dilma está trabalhando nesta área, até bato palma. Ela endossou uma visita que o reitor do ITA fez ao MIT para fazer uma parceria sólida e está ajudando nisso pessoalmente. Palmas para ela. Agora, precisa expandir isso. Não pode ser uma palma simples, tem de ter uma multidão aplaudindo. Vejo na nossa presidente uma boa intenção, mas não basta a intenção. É um bom ponto de partida, a boa intenção, mas tem de avançar.

ZH — Quando o senhor menciona o mercado de aviação e o ITA, é inevitável pensar na Embraer e na bem-sucedida história da empresa e da transição de um ambiente muito regulado para um papel de mercado. Qual é o segredo?
Ozires —
Temos um exemplo perfeito de como investir em educação dá certo. Fiz um trabalho chamado Transformando o País pela Educação e mandei para o Congresso, para a presidência da República, para o Ministério da Educação. Precisamos ter a coragem de enfrentar o problema da educação e limpar esses canais todos. Não vejo por que o governo tem de controlar tudo, impõe currículos nas escolas, faz um para o Rio Grande do Sul igualzinho ao do Piauí. Não vai dar certo. É preciso colocar a educação como a real prioridade brasileira. No mundo global, não podemos cometer o desperdício de ter uma entidade brasileira caminhando na direção de outra entidade brasileira. O que caracteriza a China e a Coreia do Sul hoje é toda a nação fazendo força na mesma direção. Aqui não, você tem o governo como atrito. O governo chinês conseguiu de alguma forma criar uma mentalidade de que todos os chineses têm de estar engajados para fazer da China uma vencedora. Como o brasileiro é patriota, atenderia a uma chamada nessa direção: vamos fazer do Brasil um país vencedor.

ZH — Mas não falta democracia e melhores condições de trabalho na China?
Ozires -
O que é democracia? Só porque eles não tem governo eleito pelo povo? A democracia tem de chegar no cidadão. Aviões corporativos, que aqui é considerado produto de luxo, tem na China o maior comprador do mundo. O governo lá pode ser considerado totalitário, mas é como a Igreja. Quem vai eleger o papa, são os católicos? Não, e a Igreja não pode ser considerada comunista pode? (risos). O fato de ter um governo que não é eleito não descaracteriza uma democracia. Eu diria que a China é uma democracia produtiva, eficiente, que está vencendo.

 

Imprensa – SEESP
Fonte: Zero Hora – 18/03/2013
Foto: Fernando Gomes/Agência RBS 




gleyrosaConsta do programa de governo do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, apresentado durante a campanha eleitoral, a intenção de rever o sistema de inspeção veicular, repleto de problemas, deixado pela gestão anterior. Agora, o novo chefe do Executivo paulistano estuda o que fazer.

Ninguém atentou para o fato de que os carros novos estão saindo de fábrica com garantia de motor de pelo menos três anos, desde que sejam feitas revisões nas concessionárias a cada seis meses ou 10 mil km. Tais verificações, que são pagas, muitas vezes não checam a emissão de CO, CO2 e HC, pois vários veículos, embora tenham passado por esse processo, não são aprovados na inspeção.

O cliente indignado que voltar à concessionária para se queixar terá como resposta que essa só verifica os itens indicados pelo fabricante, que não incluem os que são vistoriados na inspeção veicular. O compromisso com o meio ambiente deve ser de todos, logo fabricantes e concessionárias deveriam checar tais itens, proceder as correções necessárias e fornecer ao proprietário um selo de revisão. Com isso, a Prefeitura não precisaria se preocupar em testar automóveis com até três anos de uso.

Quando a fábrica vende um veículo, o faz dentro dos padrões aceitáveis de emissão de poluentes. Nada mais justo que, ao garantir que o motor funcione regularmente mediante revisões periódicas, também assegure que esse continue a trabalhar de forma a ser aprovado em testes ou inspeções feitos por qualquer órgão de controle. A proposta é técnica e traz um ganho para todos. O meio ambiente agradece.

* por Gley Rosa é diretor do SEESP


Imprensa - SEESP




MiltonLourençodentroCom o avanço competitivo da China no mercado global, Estados Unidos (EUA) e União Europeia (UE) decidiram deixar para trás algumas divergências históricas e discutem um tratado que tem por objetivo principal eliminar barreiras para a circulação de bens e serviços entre os dois blocos. Não é preciso ser especialista em comércio exterior para concluir que, para o Brasil, esse acordo acena com perspectivas sombrias, pois, se quiser colocar seus produtos nesses dois blocos, terá de se adequar a padrões que, com certeza, não favorecerão a competitividade de nossos produtos.

E como juntos EUA e UE representam, praticamente, a metade do produto mundial bruto, isso equivale a ficar de fora da maior zona de comércio do planeta ou se adaptar às normas e imposições que serão estabelecidas para aquelas nações que não gozarão de nenhuma preferência. Ou seja: é adaptar-se ou morrer.

Seja como for, a verdade é que o Brasil, nos últimos anos, não soube construir parcerias sólidas e duradouras com mercados de peso no mundo. Há dez anos, o governo brasileiro trabalhou decisivamente para levar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) ao fracasso no modelo proposto pelo ex-presidente George W. Bush e ainda comemorou o fato como se fosse um grande feito. Resultado: enquanto a China tratou de esquecer divergências ideológicas para vender àquele país cada vez mais, o comércio exterior brasileiro com os EUA foi reduzido a menos da metade do que era na década de 1990.

O que sobrou? Sobrou apenas o Mercosul, um bloco que está longe dos horizontes idealizados há 22 anos, quando da assinatura do Tratado de Assunção. Hoje, o Mercosul aparece em franca decadência, pois, se em 1998 absorveu 17,4% das exportações brasileiras, hoje absorve menos de 10%. E a tendência é de um retrocesso ainda maior.

O comércio entre os países do Mercosul representa cerca de 12% das exportações totais dessas nações, o que é uma média muito baixa, se comparada com a registrada na UE, de 65%, e no Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), de 70%. É que a Argentina, por exemplo, passou a trocar o Brasil pela China e outros parceiros que julgou mais interessantes. E continuou a impor barreiras à entrada de produtos estrangeiros, em especial brasileiros, sempre que razões de política interna recomendavam a medida. Quer dizer: se união aduaneira implica responsabilidades e direitos recíprocos, entre os quais a livre circulação de mercadorias, o Mercosul já perdeu sua essência há muito tempo.

O Mercosul, porém, serviu, ao menos como pretexto, para impedir que o Brasil, ao contrário de Chile e México, assinasse isoladamente acordos de livre comércio com outros países e blocos. O resultado é que, nos últimos tempos, o País assinou apenas três acordos de preferências tarifárias com mercados pouco expressivos: Índia, Israel e Palestina. Já as negociações do Mercosul com a UE, depois de muitas rodadas, voltaram à estaca zero, depois que as concessões oferecidas foram consideradas insuficientes por ambos os lados. Afinal, como oferecer concessões aos europeus se não há livre comércio nem entre Brasil e Argentina?

De tudo isso, o que se conclui é que o Brasil precisa urgentemente repensar o lugar que quer no concerto das nações, sob o risco de ser atropelado pelas transformações que estão acontecendo em vários lugares do planeta.

* por Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC)


Imprensa - SEESP




PortuguesAté o final do século 21, os oito países falantes de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) terão uma população de 350 milhões de pessoas – 100 milhões a mais que os atuais cerca de 250 milhões (dos quais mais de 190 milhões são brasileiros).

A conta é de Eugénio Anacoreta Correia, presidente do Conselho de Administração do Observatório da Língua Portuguesa, que funciona em Lisboa. Segundo ele, o número crescente de falantes do idioma é um dos fatores que aumentam o “potencial econômico” da língua.

Em sua opinião, a tendência demográfica - junto com a ascensão econômica de Angola, Brasil e Moçambique, bem como fatores culturais (como a música) e a Copa de Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos Rio 2016 – explicam o “boom do interesse” mundial pelo português, ao falar do aunento da procura por cursos de português em países não lusófonos.

Correia encerrou,  nesta quinta-feira (28/02), o 1º Congresso Internacional da Língua Portuguesa, organizado pelo observatório e pela Universidade Lusíada. O adiamento no Brasil da obrigatoriedade da nova ortografia para 2016 (decidido pela presidenta Dilma Rousseff em dezembro passado) em nada afeta a expansão do idioma, na avaliação de Correia.

“Eu não dou tragédia nenhuma a isso”, disse, se expressando de modo peculiar aos portugueses. “Não é drama nenhum. O acordo não pode ser imposto, tem que ser absorvido pela sociedade e isso precisa de tempo”, defendeu em entrevista à Agência Brasil.

Segundo ele, “o que o Brasil fez foi um adiamento do prazo para terminar o processo, mas não interrompeu o processo”, salientou. Para Correia, o governo brasileiro postergou a obrigatoriedade “por razões técnicas”, tais como a necessidade de preparação de livros didáticos e professores.

“O Brasil é um continente. As dificuldades regionais, as assimetrias, a preparação de pessoas, a preparação de manuais em um país que tem a dimensão e a variedade do Brasil são muito grandes. Entendo perfeitamente que por razões técnicas possa ter havido necessidade desse adiamento”.

O adiamento da entrada em vigor do acordo ortográfico no Brasil alimentou os críticos portugueses às regras de unificação da escrita do idioma. É comum em Portugal escritores e colunistas publicarem textos em jornais e revistas com a observação de que não seguem as regras do acordo. “Utilizar isso como argumento antiacordo não é bom para ninguém”, assinalou Eugénio Anacoreta Correia.

“O português hoje não é de Portugal, mas 'também' é de Portugal. Nós temos que acrescentar o 'também'. A grande riqueza que temos na Comunidade de Países da Língua Portuguesa [CPLP] é exatamente a partilha de uma coisa comum. Para que a língua seja de todos, todos temos que ceder", finalizou.

 

Imprensa – SEESP
Informação da Agência Brasil




Linxiu ZhangEnquanto não resolve seus maiores desafios – tais como emissões de gases, degradação ambiental e envelhecimento populacional (até 2050 mais de 25% terão acima de 65 anos) –, a China investe na educação para alcançar o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza.

Nas regiões mais pobres, como a zona rural do noroeste do país, a evasão escolar chega a alcançar os 40%. Para investigar as causas do fenômeno e criar possíveis soluções, o governo chinês tem investido em projetos de intervenção.

Um exemplo é o Rural Education Action Project (REAP), coordenado pela economista Lingxu Zhang (foto ao lado), professora e diretora adjunta do Centro de Política Agrícola Chinesa.

“Quando constatamos que os estudantes de áreas rurais pobres estavam abandonando a escola, buscamos investigar os possíveis fatos que os estariam levando a isso”, disse Zhang na 7ª Conferência e Assembleia Geral da Rede Global de Academias de Ciências (IAP), evento organizado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) no Rio de Janeiro.

Em princípio, o projeto passou a subsidiar recursos para os pais manterem filhos na escola. Observou-se que a taxa de abandono escolar dos alunos que recebiam o auxílio – embora se mantivesse – era menor do que daqueles que não recebiam o benefício. O principal motivo para a evasão, segundo Zhang, era a pressão econômica.

“Vimos que o problema era a área na qual as famílias moravam”, disse Lingxu Zhang à Agência FAPESP. “As famílias de agricultores tiravam seus filhos da escola para trabalhar nas fazendas. Hoje em dia, na China, 60% das pessoas que vivem nas zonas rurais trabalham em áreas de pequenos cultivos, onde a produção é manual e em pequenas extensões de terra.”

O país, segundo ela, precisa melhorar sua produtividade agrícola. “A ciência agrária precisa ser mais bem desenvolvida. Se não melhorarmos a educação, não conseguiremos desenvolver tecnologia agrícola. A China não alcançará o desenvolvimento sustentável se não tiver pessoas bem educadas”, disse a economista, lembrando que cerca de 20% da população no país vive abaixo da linha da pobreza.

Outro dado verificado no projeto: um terço dos alunos das 30 escolas pesquisadas sofria de anemia, decorrente de uma merenda escolar baseada somente em grãos ou em noodles, composta de poucos vegetais ou carne. Ou seja, sem vitaminas ou proteínas.

“Convidamos médicos para examinar as crianças e descobrimos que a incidência de anemia entre elas era alta, o que fazia com que seu rendimento escolar fosse baixo. Passamos então a fornecer suplementos multivitamínicos”, contou Zhang, também pesquisadora do Instituto de Ciências Geográficas e Pesquisas de Recursos Naturais e membro da Academia Chinesa de Ciências, afiliada à IAP.

Depois de implantado o programa de nutrição, a situação se reverteu. “Foi a primeira intervenção antianemia do país. Vimos qual era o impacto das vitaminas sobre os alunos, por meio da melhora no rendimento escolar. Quanto melhor a educação, maiores serão as chances de conseguirem melhores empregos e salários”, disse.

Conhecida como terra dos baixos salários, sendo assim atraente para indústrias estrangeiras, a situação da China parece estar mudando, depois de uma sucessão de conflitos trabalhistas que atingiram grandes companhias multinacionais instaladas no país (algumas se mudando para outros países, como Índia e Vietnã) e resultou no aumento da remuneração dos empregados, segundo Zhang.

Em relação à oferta de mão de obra, também existe diferença entre os jovens migrantes rurais que entraram no mercado de trabalho recentemente e as gerações anteriores. Mais bem educados e informados, eles exigem melhores condições de trabalho e salários mais elevados.

Tudo isso tem desencadeado um debate que divide opiniões: de um lado os que acreditam no fim da era da mão de obra barata e, de outro, os que sustentam que ainda há um longo caminho a ser percorrido até que a China perca a fama de país de empregados mal pagos.

De acordo com Zhang, está chegando ao fim a era dos salários baixos na China, embora lembre que a mão de obra menos qualificada ainda recebe menos que US$ 1,2 a hora.

“Para fazer a hora trabalhada chegar a uma média de US$ 10, por exemplo, tem de haver um implemento na educação. Ao lado da questão climática e ambiental, esse é um dos nossos maiores desafios. Mas a China pode superá-lo”, disse.

Ações das academias
A 7ª Conferência e Assembleia da IAP, que tem como tema "Ciência para a Erradicação da Pobreza e o Desenvolvimento Sustentável", reuniu mais de 130 cientistas de diversos países no Rio Othon Palace Hotel, em Copacabana, nos dias 25 e 26 de fevereiro.

O objetivo do evento, realizado a cada três anos e que ocorre pela primeira vez na América do Sul, é mostrar como a ciência pode contribuir para enfrentar os desafios globais.

No dia 23, a FAPESP recebeu a visita de uma delegação de membros de um comitê consultivo da IAP e do InterAcademy Council (IAC) chamado Development Advisory Committee (DAC).

O DAC tem dois co-chairs: Francisco Ayala, da Universidade da Califórnia em Irvine, e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, que presidiu a reunião.

"O objetivo do DAC é auxiliar IAC e IAP a montarem uma estratégia de arrecadação de fundos para as atividades das entidades, que são atividades de aconselhamento baseado em ciência para questões de relevância internacional", disse Brito Cruz.

 

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Informações da Agência Fapesp




Dudley HerschbachCom uma palestra intitulada “Glimpses of Chemical Wizardry” (Vislumbres da Magia da Química), o norte-americano Dudley Herschbach (foto ao lado) – ganhador do prêmio Nobel de Química de 1986 – deu início às atividades de um simpósio que reúne esta semana grandes nomes da ciência mundial em São Carlos, no interior de São Paulo.

Herschbach ministrou a aula inaugural do curso de bacharelado em Química do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da Universidade de São Paulo (USP), quando apresentou três “parábolas moleculares” com o intuito de mostrar algumas das coisas espetaculares que a ciência é capaz de fazer.

Em uma das histórias, intitulada “A vida em turnê no interior das células”, Herschbach falou sobre técnicas avançadas de microscopia com super-resolução desenvolvidas por Xiaowei Zhuang, pesquisadora da Universidade Harvard, que permitem, por exemplo, estudar a interação entre células e a expressão de genes em tempo real.

“A ciência faz coisas que realmente pareciam impossíveis antes de acontecerem. De vez em quando, alguém, em alguma parte do mundo, faz algo mágico e muda as coisas. É maravilhoso saber que você faz parte disso. É parte da recompensa da ciência que você não tem na maioria das profissões”, disse Herschbach à Agência FAPESP.

Graduado em Matemática pela Universidade Stanford, Herschbach fez mestrado em Física e em Química, além de doutorado em Físico-Química pela Universidade Harvard, onde hoje é professor.

“Fui o primeiro da minha família a ir para a universidade. Ofereceram-me uma bolsa para jogar futebol [norte-americano], mas acabei trocando por uma bolsa acadêmica, pois o técnico havia me proibido de frequentar as aulas de laboratório para não me atrasar para os treinos. A verdade é que eu achava a ciência muito mais fascinante”, contou.

Nos anos 1960, o cientista conduziu experimentos pioneiros com a técnica de feixes moleculares cruzados para estudar reações químicas e a dinâmica dos átomos das moléculas em tempo real. Por suas pesquisas nesse campo, recebeu em 1986 – junto com o taiwanês Yuan Lee e o canadense John Polanyi – o Nobel de Química.

Os resultados foram de grande importância para o desenvolvimento de um novo campo de pesquisa — o da dinâmica de reação — e proporcionaram um entendimento detalhado de como as reações químicas acontecem.

“Quando olho no espelho, ao me barbear, percebo que ganhar o Nobel não mudou nada em mim. A única diferença é que as pessoas ficaram mais interessadas no que tenho a dizer. Convidam-me para palestras e entrevistas. E isso acabou me transformando numa espécie de embaixador da ciência”, disse Herschbach.

Poesia em sala de aula
Durante toda a apresentação, Herschbach combateu o mito de que ciência é algo muito difícil, reservado para os muito inteligentes. “Costumo ouvir pessoas dizendo que é preciso ser muito bom em matemática para ser um bom pesquisador, mas a maioria dos cientistas usa a mesma matemática que um caixa de supermercado. Você não precisa ser bom em tudo, apenas em uma coisa, achar um nicho”, afirmou.

Ao comparar a ciência com outras atividades humanas, Herschbach disse que, em nenhuma outra profissão, você pode falhar inúmeras vezes e ainda ser aplaudido quando consegue fazer alguma coisa certa. “Um músico pode tocar quase todas as notas certas em um concerto e ser criticado por ter errado apenas algumas”, comparou.

Herschbach contou que costumava pedir a seus alunos que escrevessem poemas para lhes mostrar que é mais importante se preocupar em fazer as perguntas certas do que encontrar a resposta certa.

“Isso, mais do que resolver equações, é como fazer ciência de verdade. Ninguém diz se um poema está certo ou errado e sim o quanto ele é capaz de abrir seus olhos para algo que parecia ordinário, fazer você enxergar aquilo de outra forma. É assim com a ciência. Se você faz pesquisa de fronteira, coisas novas, é muito artístico. Quero que os estudantes percebam que eles também podem ser feiticeiros”, concluiu.

O Simpósio em Homenagem ao Prof. Daniel Kleppner “Física atômica e áreas correlatas”, que termina no dia 1º de março, é promovido pelo Centro de Pesquisa em Óptica e Fotônica (Cepof) de São Carlos, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) financiados pela FAPESP.

O objetivo do encontro é prestar uma homenagem ao físico norte-americano Daniel Kleppner, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que receberá o título de professor honorário do IFSC-USP.

Além de Herschbach, amigo de Kleppner desde os tempos da graduação, outros quatro ganhadores do Nobel também participam do evento: Serge Haroche (Nobel de Física 2012), David Wineland (Nobel de Física 2012), Eric Cornell (Nobel de Física 2001) e William Phillips (Nobel de Física 1997).

 

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Informação da Agência Fapesp




Miguel Ángel QuintanilladentroA apropriação cidadã da cultura científica envolve o trabalho de vários agentes, como professores, pesquisadores e jornalistas, na difusão de temas de ciência e tecnologia (C&T). Apesar de as notícias do setor não serem tão populares nos meios de comunicação como as de esportes, por exemplo, os dispositivos tecnológicos e as campanhas emblemáticas ajudarão a aumentar essa popularidade.

Isso é o que afirma o professor espanhol Miguel Ángel Quintanilla (foto ao lado), diretor do Instituto de Estudos de Ciência e Tecnologia (eCyT, na sigla em espanhol) da Universidade de Salamanca (Usal) e da Fundação Centro de Estudos de Ciência, Cultura Científica e Inovação (3CIN).

Catedrático em Lógica e Filosofia da Ciência na Usal e professor honoris causa pela Universidade de Valparaíso (Chile), Quintanilla foi secretário de Estado de Universidades e de Pesquisa, entre 2006 e 2008, e é um dos organizadores da Empirika, Feira Ibero-americana da Ciência, Tecnologia e Inovação, evento internacional, bienal e itinerante inaugurado em 2010 na Espanha e que foi realizado em 2012 em São Paulo e Campinas. 

Com larga experiência na articulação de atividades interdisciplinares e interinstitucionais, trabalhando com pesquisa e difusão de temas situados na intersecção entre filosofia, ciência e tecnologia, ele falou com exclusividade para a Agência FAPESP (Fundo de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo) sobre seus estudos em cultura científica, sobre a crise no sistema de C&T na Espanha e as perspectivas para pesquisas conjuntas com universidades paulistas, que reproduzimos a seguir.

Agência FAPESP – Suas linhas de pesquisa envolvem filosofia, estudos sociais da ciência, comunicação pública da C&T e cultura científica. Nesta área, especificamente, o senhor propõe a criação de um centro de estudos na Universidade de Salamanca voltado também para a profissionalização da difusão da cultura científica. Como seria esse centro e qual seria seu objeto de estudo?
Miguel Ángel Quintanilla –
A cultura científica nada mais é do que a inserção, cada vez maior, da ciência, da tecnologia e das inovações nos mais diferentes âmbitos do nosso cotidiano. E mesmo a difusão da cultura científica como profissão já está presente. O que precisamos é unificar as ações desses diferentes agentes, pois há diversos tipos de difusão. Há, por exemplo, a dos professores, feita ainda na escola primária ou secundária. Os jornalistas que atuam na cobertura da ciência são especializados na divulgação de temas científicos e os próprios cientistas também são escritores científicos. O que queremos potencializar é um enfoque diferente. É um tipo de profissional muito importante, mas poucas universidades ou centros de pesquisa têm escritórios especializados em cultura científica. É uma das muitas fronteiras que necessitamos ultrapassar.

Agência FAPESP – Sua sugestão seria a de unificar as ações de difusão, feitas originalmente por diferentes tipos de divulgadores científicos?
Quintanilla –
Mais do que unificar, é fazer junto. O que está claro é que a difusão da cultura científica se faz de diversas formas e em muitos níveis, pois há muita gente envolvida nessa profissão, com ações distintas, mas que compartilham uma mesma visão sobre a importância de difundir a cultura científica. Sobre a clássica pergunta, se um profissional da cultura científica deve ser um cientista especializado em jornalismo ou um jornalista especializado em ciência, posso responder, pela minha experiência, que tanto faz. Eu não poderia definir um único perfil de expert da cultura científica, salvo no sentido de que o profissional deve ter formação e capacidade para entender a cultura científica e uma visão de como fazer a cultura científica, que eu chamo de cívica.

Agência FAPESP – Como fazer para que a apropriação social da ciência – no sentido de alargamento da participação cidadã nas questões de C&T – se transforme em um processo efetivo na sociedade, a partir da difusão?
Quintanilla –
O objetivo é a apropriação por parte dos cidadãos. Falo de cidadãos, porque são pessoas que devem se apropriar da cultura científica, e não uma sociedade abstrata. Para isso, não há receitas mágicas. Creio que uma linha fundamental é a da educação cívica, obrigatória, básica, geral, para toda a população, que incorpore de forma muito mais ativa a cultura científica como parte da educação formal. E não apenas em áreas como matemática, física ou química, mas de forma muito mais transversal, que abarque todos os níveis e aspectos da educação. Penso que a educação precisa estar muito mais centrada em um esforço para a cultura científica por parte dos cidadãos.

Agência FAPESP – E como isso seria possível? O senhor tem um exemplo? Quintanilla – Isso requer uma reforma educacional, e há iniciativas nesse sentido. Isso passa pela educação formal, mas é necessário fazer de uma maneira transversal, envolvendo todos os níveis. É preciso normalizar a presença da cultura científica com todos os níveis de exigência nos meios de comunicação, tradicionais ou novos. Precisamos assumir ativamente a responsabilidade de fazer com que a informação científica nos meios de comunicação, jornais, televisão, internet seja tão frequente quanto é a cultura esportiva. Porém, ainda estamos muito longe de uma realidade como essa. Estamos longe, mas vamos avançar.

Agência FAPESP – Como conciliar diferentes pontos de vista para uma apropriação social da ciência?
Quintanilla –
Tentando construir um modelo de cultura científica cidadã, para que os demais atores envolvidos entendam qual é o núcleo fundamental de sua tarefa. Esta é a perspectiva da cultura científica. Ela ajuda a capacitar os cidadãos para os mecanismos de ciência e tecnologia, de forma a fazer com que possam tomar decisões sobre questões de interesse público envolvendo ciência e tecnologia ou que delas dependam.

Agência FAPESP – E isso independentemente de serem cientistas.
Quintanilla –
Exatamente, propondo-se responsáveis por isso. Ainda que não sejam cientistas, é preciso que estejam capacitados para dialogar com cientistas, enquanto os cientistas devem estar capacitados para conversar com todos os cidadãos. O importante é que os cidadãos que não trabalhem com ciência entendam como funciona o processo de produção da ciência, e os cientistas precisam ter em conta que, desse modo, todos os cidadãos vão valorizar o esforço para aumentar o conhecimento por parte de quem faz as pesquisas. Funciona como uma engrenagem e que se autoalimenta.

Agência FAPESP – Então a divulgação científica e a participação cidadã interferem nesse processo de produção da ciência?
Quintanilla –
Os cidadãos influenciam na produção da ciência. A questão é se isso é feito de maneira consciente, com informações e instrumentos adequados, com objetivos predefinidos e racionais, ou de forma cega, por meio de simples mecanismos de mercado ou de procedimentos gerais de participação política indireta e de voto de diferentes programas eleitorais dos partidos políticos.

 

Agência FAPESP – O senhor tem mencionado a intenção de criar um programa de estudos científicos na Universidade de Salamanca. O que seria e como funcionaria esse programa?
Quintanilla –
Trata-se de um curso para professores. Poderíamos chamá-lo de “Ciência para Cidadãos”. Creio que teremos tudo pronto para colocá-lo na rede até o final do primeiro semestre de 2013. O programa estará aberto a todos e terá um caráter disciplinar. Seria fantástico se, em breve, pudéssemos adaptá-lo para oferecê-lo também em uma versão em português.

Agência FAPESP – Esses investimentos estão sendo afetados pela atual crise na Espanha?
Quintanilla –
A crise econômica não abarca apenas a Espanha, mas todo o conjunto de países europeus, de forma mais acentuada em alguns, como no caso espanhol. Evidentemente, a crise também não atinge apenas o financiamento às pesquisas, mas nessa área se sente com mais rigor o corte de verbas, pois diminuíram substancialmente as subvenções públicas para as atividades e instituições científicas. Particularmente, creio que o sistema possa aguentar por algum tempo essa situação, que afeta todos os setores na Espanha, mas o sistema espanhol de ciência e tecnologia é robusto o suficiente para se reerguer, caso a crise seja controlada e debelada rápido. O que não sabemos é quanto tempo essa crise vai durar e por quanto tempo o sistema será afetado pela falta de verbas.

Agência FAPESP – A FAPESP realizou em dezembro de 2012 o simpósio Fronteras de la Ciencia, na Espanha, no qual foram discutidos diferentes aspectos sobre a produção científica dos dois países. Como o senhor vê a possibilidade de intercâmbio entre pesquisadores brasileiros e espanhóis e que resultados isso pode trazer para o desenvolvimento da ciência produzida no Brasil e na Espanha?
Quintanilla –
Na Espanha, ficamos muito impressionados com o dinamismo e com a força do sistema científico do Brasil, especialmente das instituições de ensino e pesquisa localizadas no estado de São Paulo. A oportunidade de desenvolvermos projetos conjuntos e de estreitarmos nossos laços para uma maior colaboração científica é muito importante para nós. Além disso, temos já experiências prévias muito satisfatórias. No caso específico do Instituto de Estudos da Ciência e da Tecnologia e da Fundação 3CIN, alimentamos grandes expectativas de que possamos concretizar, já nos próximos meses, vários programas de colaboração. Isso, tanto no campo da pesquisa como da divulgação de ciência e da tecnologia.

 

Imprensa – SEESP
Informação da Agência Fapesp




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