Veículos elétricos e autônomos, mobilidade digitalizada e compartilhada estiveram em pauta no dia 12 de agosto último durante o seminário intitulado “Redefinindo a mobilidade”, sediado no SEESP, na Capital. Realização desse sindicato, por meio de seu Conselho de Transporte e da Mobilidade Urbana e em parceria com a União Internacional dos Transportes Públicos (UITP) – Divisão América Latina, o evento reflete a inserção da entidade paulista nas grandes discussões ao desenvolvimento de políticas públicas, como as voltadas à mobilidade urbana.
A afirmação foi feita na ocasião por Edilson Reis, diretor do SEESP. Ele citou como carro-chefe o projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, iniciativa da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), à qual o sindicato é filiado, que reúne proposições também ao segmento. Personalidade que conta inúmeras contribuições nesse sentido, o engenheiro e especialista na área Adriano Murgel Branco, que faleceu aos 87 anos de idade em 23 de dezembro último, foi homenageado no ensejo.
À abertura, o coordenador do Conselho Tecnológico do SEESP e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Cardoso, salientou a premência de as universidades e institutos de pesquisa se engajarem na discussão acerca de inovações tecnológicas voltadas à mobilidade urbana. Presidente do Instituto de Engenharia (IE), Eduardo Lafraia propugnou, nessa direção, pela união de esforços “para ajudar o desenvolvimento de São Paulo e do Brasil”. Ao encontro do que defende Murilo Pinheiro, presidente do SEESP e da FNE, o qual ressaltou: “Estamos de mãos dadas.”
Apresentados por Ailton Brasiliense Pires, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), dados dão conta do tamanho do desafio para se alcançar o resultado almejado. Segundo ele, 25 milhões de veículos compunham a frota nacional em 2002; hoje são 100 milhões. “Significa mais congestionamento, mais poluição, mais acidentes. Os custos com isso passaram de R$ 100 bilhões por ano. Na Região Metropolitana de São Paulo, somente em 2017, 4 mil pessoas morreram em decorrência da poluição atmosférica.” Para Brasiliense, é preciso redirecionamento dos subsídios governamentais ao transporte público para assegurar maior acessibilidade e aumento da qualidade de vida.
O deputado estadual Ricardo Madalena (PL-SP), engenheiro civil e coordenador da Frente Parlamentar em prol do Transporte Metroferroviário, observou que somente em São Paulo são 1.200 veículos a mais por dia. E ratificou: “É necessário discutir uma mobilidade urbana melhor para nós, usuários” – o que incluiria a adoção de inovações tecnológicas.
Tendências
Como lembrou Jurandir Fernandes, coordenador do Conselho de Transporte e da Mobilidade Urbana do SEESP e presidente da UITP – Divisão América Latina, as tendências mundiais na área foram apresentadas em Estocolmo, na Suécia, entre 9 e 12 de junho último, durante o Congresso Mundial da União Internacional dos Transportes Públicos. Com base em comparativo dos anos de 2015, 2017 e 2019 (dados da UITP), ele apontou que se confirmam quatro grandes vertentes em mobilidade urbana: carros elétricos, evolução das fontes e armazenagem de energia, seja através de células de hidrogênio, seja via baterias; veículos autônomos e conectados a novos serviços; digitalização; economia de compartilhamento (em que as pessoas diminuem o uso solitário do carro) e de assinatura (em que seria oferecido, por exemplo, ao usuário um pacote de serviços). Fernandes completou: “Inteligência artificial tem que estar na ordem do dia.”
Segundo Roberto Berkes, engenheiro da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), levantamento aponta a existência de 425 mil ônibus elétricos no mundo. Desses, 421 mil encontram-se na China. Na América Latina são apenas 333, a maioria em Santiago, Chile. Diante da tendência exponencial, ele foi categórico: “É preciso mudar o paradigma.” E sugeriu, como programa de transição, o uso de frotas mistas em que gradativamente se passe do diesel para o elétrico. Já Roberto Labarthe, diretor do grupo CCR, e Flávio Chevis, diretor da Addax, focaram modelos de “financiamento” do setor, como a adoção de pedágio urbano, entre outros.
Ao final, foram apresentados projetos de marketing voltados à mobilidade urbana, premiados durante o congresso da UITP em Estocolmo, por Milena Braga, diretora do Grupo Auto Viação ABC; e Roberto Sganzerla, especialista em marketing no setor de transporte público. Eleonora Pazos, diretora da UITP – Divisão América Latina, lembrou que tais iniciativas se inserem no Programa Melhores Práticas de Mobilidade Urbana da entidade, criado em 2015. Sua coordenadora, Valeska Peres Pinto, concluiu: “O Brasil tem muitas ilhas de excelência e de organização. É preciso mostrar e difundir as boas experiências, que podem ser replicadas, ajustadas e adaptadas.”
Por Soraya Misleh