Antiga bandeira do sindicato, a engenharia pública pode ser contemplada com a Lei nº 11.888/08. Não obstante não tenha sido regulamentada, essa entrou em vigor em 24 de junho último. Institui a assistência técnica pública e gratuita para a construção de habitação de interesse social. O tema tem sido objeto de eventos regionais promovidos pelo SEESP, em conjunto com outras entidades e órgãos.
Somente neste mês, foram dois: um em Bauru e outro em Jacareí, respectivamente nos dias 5 e 25. Na primeira cidade, além de assistência técnica, foi abordada em seminário a questão da regularização fundiária. A iniciativa reuniu representantes de 41 cidades da região, num total de mais de 250 pessoas. O prefeito Rodrigo Antônio Agostinho Mendonça prestigiou a atividade. Em Jacareí, foram cerca de 100 participantes de todos os municípios abrangidos pela delegacia do sindicato na localidade. Entre as autoridades, os deputados federal Paulo Teixeira (PT), estadual Marcos Martins (PT/SP) e o prefeito Hamilton Ribeiro Motta.
O SEESP vem propondo nessas oportunidades que a lei federal seja implantada nos municípios paulistas via Promore (Programa de Moradia Econômica). Além disso, preocupado com a sustentabilidade, tem feito gestões para que os projetos contemplem sistema de aquecimento de água através de energia solar. Presente a ambos eventos, a Caixa Econômica Federal, gestora dessas operações, ficou de analisar a efetividade dessa proposição.
O Promore foi criado pelo sindicato em Bauru em 1988 e funciona hoje também em Rio Claro, Ribeirão Preto, Campinas e Piracicaba. Sua instituição se dá mediante convênio com a Prefeitura local. Em Jacareí, existe há cerca de 12 anos o ProLar, um convênio entre a administração municipal e a Associação dos Engenheiros, que tem atuado em conjunto com o SEESP. Ali, deliberou-se ao final do evento pela constituição de um grupo de trabalho formado por representantes de ambas entidades para encaminhar a proposta de adequação do programa já existente à Lei 11.888, em sintonia com o Promore.
Adequação
O Ministério das Cidades vê com bons olhos a iniciativa do sindicato, como destacou Marcelo Barata, técnico da Secretaria Nacional da Habitação, vinculada a esse órgão: “O Promore é referência nacional.” Para orientar as cidades à obtenção de recursos do FNHIS (Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social) de acordo com o que preconiza a lei, ele informa que o Ministério prevê a adequação de manuais.
Na sua ótica, essa captação é um gargalo a ser resolvido. “Nos anos 2007 e 2008, o fundo dispunha de cerca de R$ 50 milhões e a performance (dos municípios) foi baixa. Imaginamos que a lei deve induzir a preparação de propostas.” Embora ainda não tenha a confirmação de quanto será destinado à habitação de interesse social neste ano, ele acredita que a cifra deve ser repetida. “O FNHIS deve receber propostas a partir do final de julho, começo de agosto. Esperamos ainda para 2009 duas seleções, inclusive para assistência técnica.” Contudo, Barata alerta: para usufruir da Lei 11.888, as cidades terão que criar até 31 de dezembro próximo seus conselhos municipais de habitação de interesse social, que farão a gestão dos fundos locais, aos quais serão repassados os recursos federais. Além disso, até o final de 2010, devem criar seus planos habitacionais.
Regularização fundiária
Deve conversar com a assistência técnica a regularização fundiária. Nessa área, a grande novidade é a aprovação na Câmara dos Deputados, em março último, da Medida Provisória 459, que institui o programa “Minha casa, minha vida” e dispõe sobre a regularização fundiária de assentamentos urbanos. Trata em um de seus capítulos, conforme explica Carlos Augusto Ramos Kirchner, vice-presidente da Delegacia do SEESP em Bauru, do “usucapião administrativo”. Após cinco anos de construção do imóvel, converte-se seu registro. “O prefeito legitima a posse.” Isso sem precisar passar por outra instância.
Segundo Maria Ester Lemos de Andrade, da Diretoria de Urbanização e Assentamentos Precários da Secretaria de Habitação do Ministério das Cidades, o instrumento vem a facilitar muito esse processo. Ainda conforme ela, a urbanização de assentamentos precários conta com grandes investimentos previstos no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), contudo, os municípios não têm conseguido acessar os recursos, por não terem projetos. Como Barata, ela reconhece que o Ministério pode ajudá-los na elaboração de seus planos habitacionais.
Apoio técnico e auxílio às ações de regularização fundiária às cidades paulistas podem vir ainda do Programa Estadual de Regularização de Núcleos Habitacionais, o “Cidade Legal”, resultante de decreto governamental editado em agosto de 2007. Segundo o seu secretário executivo, Silvio Eduardo Marques Figueiredo, esse é seu objetivo – e a custo zero para as localidades. Ele afirma que o “Cidade Legal” foi implantado em 2008 e já conta com cerca de 170 municípios conveniados. Por seu intermédio, “mais de 1,2 milhão de moradias estão em fase de regularização”. O tamanho do problema, contudo, ainda é uma incógnita. “Os núcleos só são conhecidos a partir do convênio dos municípios com o Estado.”
Soraya Misleh