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ENTREVISTA - Sindicalismo mostra força e maturidade

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Rita Casaro


Acompanhando há décadas a luta e a organização dos trabalhadores, o analista e consultor político João Guilherme Vargas Netto aponta o atual momento como bastante positivo para esse que é o principal movimento social brasileiro. Em entrevista, ele falou sobre as batalhas que têm sido travadas para se garantir avanços salariais e sociais. Vargas Netto destaca ainda o papel dos engenheiros e do conjunto da mão de obra qualificada que se organiza na CNTU (Confederação Nacional dos Trabalhadores Liberais Universitários Regulamentados) nessa empreitada.


Qual a conjuntura atual do movimento sindical?
A conjuntura econômica e social brasileira continua positiva, apesar das dificuldades lá fora. No País, a grande tarefa da sociedade, dos trabalhadores e do movimento sindical é fazer com que a crise não nos atinja e, ao enfrentarmos as pressões negativas eventualmente criadas por ela, conseguir introduzir elementos de projetos de médio e longo prazo. O movimento atravessa uma fase em que essa preocupação de enfrentar e criar alternativas mais duradouras começa a tomar pé. Uma primeira tarefa que foi bem resolvida e que ajuda de maneira extremamente forte o movimento a persistir é a vitória prática e ideológica no campo dos aumentos reais de salários. Além de conseguir o forte reajuste do mínimo, que tem peso quase incomensurável na economia do trabalho no Brasil, manteve ganhos salariais reais fortes em todas as grandes categorias. Hoje, os adversários do salário estão com a viola no saco. Essa é uma fase boa, em que o movimento atua com seu caráter positivo.


Como está se dando o enfrentamento da crise?
O movimento sindical procura enfrentar aquilo que analisa como grandes desequilíbrios no quadro positivo. O primeiro que identifica é o juro alto, que provoca de maneira generalizada, exceto para o rentista, situações adversas aos interesses do crescimento econômico e do desenvolvimento social com distribuição de renda. O movimento tem se unido contra os juros altos e tem obtido, em concordância com a área econômica do governo, quedas continuadas da taxa selic, que ainda merecem ser aceleradas. Outra situação de desequilíbrio é a resistência de setores patronais a se adaptarem a tudo aquilo que chamamos de trabalho decente. Nesse aspecto, um grande exemplo é o esforço que foi feito pelo movimento sindical para regularizar e garantir os direitos dos trabalhadores nas grandes obras de construção civil. Há um ano, houve verdadeiras explosões sociais de milhares de trabalhadores. O movimento sindical, que num primeiro momento foi até surpreendido pela violência das manifestações, soube recuperar as suas posições e conseguiu junto ao governo e empresários o estabelecimento de protocolos que garantissem o respeito aos direitos desses operários. Vale destacar que isso tem se dado à base da resistência continuada nos setores em que há a tentação da exploração desenfreada. Outro desequilíbrio é o que, associado ao juro alto, põe em perigo o setor industrial. Esse tema é controverso. Temos no Brasil situações de desindustrialização setorialmente localizadas e outras em que há industrialização. No entanto, como fenômeno mais geral, a desindustrialização aponta numa direção negativa. Não adianta pensar no problema atual, é preciso encontrar alternativas para médio e longo prazo.


Isso demonstra que está mantida a unidade do movimento?
No esforço de enfrentar os juros, os destratos patronais e a desindustrialização, o movimento sindical tem, com inteligência, procurado reconstruir a sua dinâmica unitária, construída na Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, realizada em junho de 2010, em São Paulo). Este ano teremos em São Paulo, na Praça Campos de Bagatelle, o 1º de maio que será o mais unificado possível. Concomitantemente, está programada uma série de manifestações em vários estados com o tema da luta contra a desindustrialização. Essas estão sendo organizadas de comum acordo com setores empresariais e devem ajudar também na reconstrução da unidade do movimento.


E como está a pauta trabalhista no Congresso Nacional?
Nesse aspecto, temos tido dificuldades. Os grandes temas, como redução da jornada, controle e eliminação da terceirização, fim do fator previdenciário não têm tido o desenvolvimento compatível com as necessidades do movimento.


Nesse quadro, qual é o papel do movimento sindical dos engenheiros?
Avulta o papel exigido do movimento sindical dos engenheiros. Isso por três razões fundantes. Em primeiro lugar, o movimento é maduro suficientemente para ter a sua estratégia própria. O grande exemplo nacional que nos orgulha é o projeto "Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento", lançado em 2006 pela FNE (Federação Nacional dos Engenheiros). Depois, os engenheiros no Brasil são parte integrante do movimento sindical com naturalidade, as grandes negociações são também atributo da categoria, que tem relação com o conjunto do movimento. Por fim, há um elemento de necessidade. Por exemplo, como uma das formas de enfrentar a desindustrialização, foram criados conselhos de competitividade e comissões setoriais, que discutirão os temas específicos de diversas áreas e subáreas da economia. Que dirigente sindical, levando em conta a necessidade de constituição de 30 comissões, não exigirá a presença dos engenheiros nesse processo? 


E isso vale para o conjunto dos profissionais ligados à CNTU?
O grande tema atraente é o Brasil Inteligente (campanha lançada pela confederação em 2011). Temos que enfrentar a crise com medidas de curto prazo e construir o longo prazo. Para tanto, há consenso sobre o que se chama de qualificação produtivista, que significa inovação, mas também formação, capacitação. Essas profissões da formulação, do pensamento estão todas convocadas e são participantes inegáveis de um processo como esse. Seja no momento curto prazo, quando se enfrenta a pisada no pé, seja no do planejamento do passo, o conjunto de pensamento, experiência e ação sindical dos profissionais de formação universitária é essencial.




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