Após enfrentar turbulência no segundo semestre do ano passado, em decorrência da crise financeira global, as vendas no setor foram retomadas ainda em 2008. Balanço sobre o período é feito pelo presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Jackson Schneider: “Até setembro de 2008, o mercado interno de veículos de passeio demonstrou vigor.” Nos dois meses subsequentes, como informa ele, houve queda na produção média mensal de 300 mil unidades.
“Em outubro, foram 297,3 mil; em novembro, 197,5 mil; em dezembro, o ponto mais baixo, devido a férias coletivas e outros instrumentos legais, 96,6 mil.” Com a recuperação a partir daquele mês, continua ele, em janeiro, a produção voltou a subir, “chegando a 186,1 mil veículos”. Apesar de ressaltar que a retomada não se compara às notícias auspiciosas no período anterior (janeiro-setembro) e se aplica a veículos de passeio, visto que o mercado de caminhões vem apresentando fraco desempenho, Schneider admite: o breve período de baixa não impediu que a indústria automotiva fechasse o ano com resultados positivos. Segundo ele, 2008 findou com dois recordes em relação a 2007: de produção, com expansão de 8% (3,21 milhões de veículos), e no mercado interno, de 14,5% (2,82 milhões). Já as exportações não acompanharam esse crescimento, pelo contrário. “Terminamos 2008 com embarques de 727,3 mil unidades, queda de cerca de 8% em relação a 2007.”
A recuperação no setor foi impulsionada por medidas como a liberação pelo Governo paulista de linha de crédito ao setor de R$ 4 bilhões em novembro, além da suspensão do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para carros 1.0 novos e diminuição na alíquota para outros modelos, que integraram pacote anticrise anunciado pelo Executivo Federal em 11 de dezembro último. Fora a desoneração de tributos, este injetou, conforme publicado na Gazeta Mercantil de 16 de fevereiro, R$ 8,2 bilhões em recursos na indústria automotiva. Agora, a expectativa é que se prorrogue a vigência da redução/isenção do IPI, cujo prazo de validade é 31 de março. Para Miguel Torres, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, todavia, a manutenção da medida deve vir atrelada à exigência de preservação do emprego por parte das montadoras.
Pagando a conta
Ele observa que como isso não foi feito em dezembro, mesmo após começar a se recuperar, o setor não poupou os trabalhadores. Os engenheiros que atuam no segmento sentiram a turbulência e o aumento das consultas no Departamento Jurídico do SEESP reflete isso.
Na região de São José dos Campos, uma das mais afetadas, foram, no conjunto dos funcionários, 802 demissões na General Motors, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos local. Para o seu secretário-geral, Luiz Carlos Prates, o Mancha, apesar da crise, não seria preciso demitir. “Poderia se resolver com a redução da jornada de trabalho sem diminuição do salário.” Ademais, de acordo com ele, o ano de 2008 foi o melhor da história da GM no Brasil, que produziu mais de 500 mil carros e investiu em novas plantas US$ 1,5 milhão.
Representando cerca de 260 mil trabalhadores, em torno de 80 mil do segmento de autopeças, o sindicato de São Paulo e Mogi estima que o “facão” atingiu aproximadamente 4 mil funcionários da sua base, 700 deles devido ao fechamento das portas de duas fábricas de autopeças. O quadro começou a ser revertido em novembro, a partir de acordos feitos pela entidade com montadoras, os quais garantiram a abertura de processo de negociação. Entretanto, na sua opinião, preservar os postos de trabalho passa por medidas estruturais a serem tomadas pelo Governo Federal. “Para combater os efeitos da crise é preciso baixar juros, reduzir a taxa selic e spreads bancários, abrir mais linhas de crédito para o setor e assegurar alívio fiscal para o segmento de autopeças, principal atingido.” Feita a lição de casa pelo Executivo, Torres está otimista e espera crescimento no setor de 3% a 4%. Mancha, entretanto, acredita que a pressão sobre os direitos e empregos dos trabalhadores vai continuar.
Aparentemente, ele tem razão em manter a guarda, uma vez que as perspectivas para o setor por parte da Anfavea não são das mais animadoras. Num juízo conservador, destaca seu presidente, o mercado deverá retomar sua dinâmica em caráter gradual, porém, em níveis menores que os verificados anteriormente. “A produção acompanhará sua evolução. As exportações serão afetadas em 2009, em função da queda de vendas nos nossos tradicionais mercados, como América do Sul, México, África, Europa. Neste momento, não é possível quantificar essas tendências. O cenário das exportações é realmente preocupante e será necessária a adoção de medidas que venham a fortalecer nossa competitividade externa.”
Soraya Misleh