No dia 23 de setembro, a Prefeitura da Capital inaugurou 20,4km de faixas exclusivas de ônibus, em diferentes bairros. Agora, são 170km. A promessa é de chegar aos 220km até o final do ano. Quanto aos corredores exclusivos, a pretensão é passar dos atuais 130km para 280km até o final do mandato de Fernando Haddad. O tema esteve em pauta durante a Semana da Mobilidade 2013, realizada pela Secretaria Municipal de Transportes entre 18 e 25 do mesmo mês, na sede do SEESP, em São Paulo.
Abordada na tarde do dia 24, a contribuição para solucionar o caos na mobilidade urbana que predomina na cidade é defendida por técnicos do setor. Edilson Reis, diretor do sindicato, afirma: “É um começo, mas é necessário avançar.” Ele destaca que o ideal seria ter cerca de 350km de corredores exclusivos – o equivalente a 30km por milhão de habitantes.
Além disso, a proposta do SEESP, apresentada por Reis durante o painel, inclui o compartilhamento de todos os modais de transporte, a aproximação do emprego da moradia e vice-versa, diminuindo a necessidade de deslocamentos diários, em articulação com as políticas de uso e ocupação do solo, habitação e meio ambiente. A cidade também não pode ser pensada isoladamente; é mister que o planejamento seja feito sob a ótica da integração metropolitana. Reis destaca ainda que no longo prazo é necessário que o sistema metroferroviário supere o sobre pneus como principal opção de transporte coletivo, como ocorre em diversos países do mundo. Atualmente, os ônibus – que ocupam 4.500km dos 17.500km do viário – são o principal meio.
Hoje, a cidade convive diariamente com uma frota individual regular de 7 milhões de automóveis, além de 3 milhões irregulares, apontou Ailton Brasiliense Pires, presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), durante o seminário. O resultado, como pontuou Reis, são congestionamentos diários de 100km por faixa em média. A consequência é fruto de uma política desenvolvida nos anos 1950 em detrimento do transporte coletivo. Contribuiu a tal realidade nefasta, como explicitou Brasiliense, o crescimento desordenado vertiginoso da cidade entre 1900 e 1950 e o abandono dos bondes, que do início do século XX até 1917 somavam 220km. “Houve um plano de adensamento da Light que permitiu que ela tivesse o máximo lucro. Conformou-se um emaranhado e o número de automóveis, que era 70 mil, se multiplicou por cem ou mais”, salientou ele.
Diante desse quadro, o presidente da ANTP foi categórico: “É preciso ter uma ou muitas faixas de ônibus.” Brasiliense defendeu ainda a necessidade de integração entre os corredores exclusivos. Ao encontro do que propugna o SEESP, afirmou que a política de mobilidade precisa ser articulada com as de desenvolvimento urbano, com visão metropolitana. E ressaltou a importância da ampliação da rede metroferroviária, que hoje soma cerca de 70km.
Planos municipais
Destacando que são feitas na Capital 18 milhões de viagens por dia, Ana Odila de Paiva, diretora de planejamento de transporte da São Paulo Transporte (SPTrans), apontou o gargalo da concentração da demanda para o centro da cidade. Segundo ela, metade do total passa por ali para fazer transferências e cerca de 1 milhão/dia têm a região como destino. Do total, 10 milhões de viagens são feitas por transporte coletivo – 81% por ônibus, 22% por metrô e 11% por trem. “É preciso qualificar o sistema de ônibus”, enfatizou. De acordo com Reis, pesquisa revela que 79% dos cidadãos abdicariam do automóvel se houvesse boa alternativa em transporte público.
Na concepção de Paiva, esse resultado seria possível com faixas exclusivas alcançando 1.200km do viário estrutural de interesse coletivo. Assim, estariam nos planos municipais priorizar esse tipo de transporte nos investimentos públicos e na ordenação do espaço viário. “A rede de corredores prevista para os próximos 12 anos é de 460km. O projeto para os próximos quatro anos é de mais 200km.”
Além disso, Paiva indicou a necessidade de se garantir ônibus onde não existem, utilizando-se toda a capacidade viária para montar uma rede conectada. E de se organizar o serviço, por exemplo colocando os pontos próximos dos cruzamentos e diminuindo a sobreposição de linhas e modais. “Serão mais 18 terminais nos próximos quatro anos e os existentes serão requalificados.” A diretora da SPTrans revelou também o projeto da Prefeitura de assegurar esse transporte coletivo em período integral, servindo os cidadãos inclusive de madrugada. Todo o trabalho é articulado com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Conforme Joaquim Carlos Mendes, superintendente de engenharia da empresa, 70% da operação dessa está por conta das faixas exclusivas.
Entre os planos da Prefeitura, está ainda o Arco do Tietê, que abrange estratégias e projetos para os próximos 30 anos no entorno do Rio Tietê. A proposta foi apresentada por Gustavo Partezani, diretor de desenvolvimento da SP Urbanismo. Segundo sua fala, o objetivo é diminuir distâncias e aproximar o trabalho da residência do cidadão, desenvolvendo a região Norte, qualificando a área e solucionando a ineficiência do transporte nas marginais.
Por Soraya Misleh