Marcando os 160 anos da ferrovia no País, completados em 30 de abril último, a Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) realizou, no dia 25 do mesmo mês, seminário visando diagnóstico do setor e a elaboração de propostas de melhorias e avanços. O evento aconteceu no auditório da Federação do Comércio (Fecomércio), na cidade do Rio de Janeiro, e contou com a presença do governador fluminense, Luiz Fernando de Souza, o Pezão. Ele se declarou “entusiasta da ferrovia” e manifestou apoio ao esforço de alavancar o setor: “Fico feliz em ver engenheiros. Este País ficou 30 anos cuidando da moeda e esquecemos de sonhar. Perdemos essa memória e vemos o País precisando de bons projetos. Para o Rio, é fundamental para a mobilidade urbana. Só vamos melhorar com trem e metrô. Contem comigo para ajudar.”
O presidente da FNE e do SEESP, Murilo Celso de Campos Pinheiro, destacou a urgência em se fazer propostas para investimentos no sistema ferroviário brasileiro, deixado de lado por um longo período, embora seja reconhecidamente uma opção mais econômica e ambientalmente mais viável.
Também prestigiaram a sessão de abertura do seminário o deputado Julio Lopes (PP-RJ), o diretor da Fecomércio, Natan Schiper, o subsecretário de Transportes do Estado do Rio, Delmo Pinho, o vereador da cidade de Campo Grande, Edson Shimabukuro (PTB), presidente do Senge Mato Grosso do Sul, a diretora regional Sudeste da FNE, Clarice Aquino Soraggi, e os coordenadores do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, Fernando Palmezan Neto e Carlos Monte.
Ex-secretário de Política Nacional de Transportes e atualmente consultor na área, Marcelo Perrupato defendeu em sua palestra a necessidade de planejamento para que o País tenha transporte e logística adequados. “Temos que conhecer o território brasileiro e ser capazes de criar um sistema multimodal integrado com terminais nas hidrovias e nas rodovias, direcionado para os grandes conglomerados industriais (siderúrgicas e refinarias), para os Centros de Integração Logística e para os portos”, afirmou.
A ideia é “derrubar o mito de que ferrovia é para grandes distâncias e grandes cargas”. Na sua opinião, é preciso pensar o papel do modal num padrão de desenvolvimento que leve em conta a cadeia produtiva, não apenas a exportação de commodities, como minério.
Planejamento
Segundo ele, esse novo modelo é o que propõe o Plano Nacional de Logística e Transportes (PNLT), que prevê R$ 428 bilhões de investimentos entre 2008 e 2023, sendo 47% do montante para o setor. Com alguns avanços, a ferrovia chegou a 2011 responsável por 30% da matriz de transporte, informou.
Ele propugnou ainda pela consolidação do que chamou de “ferrovia do século XXI”, com bitola larga, em vez de métrica, possibilitando maior velocidade, e regime de livre acesso, pelo qual diversas empresas podem utilizar os mesmos trilhos. “Na Alemanha, o resultado foi que hoje mais de 300 operadores passam pelas linhas, embora a gestão seja da companhia estatal. Ganhou-se competitividade.” No Brasil, observou ele, a proposta é que a Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias S.A., cuja estrutura está sendo revista com esse fim, seja a responsável pela contratação do operador privado.
O palestrante ressaltou que a programação de investimentos abrange também a recuperação de trechos dedicados ao transporte de passageiros nas antigas linhas que se estendem por áreas densamente habitadas por meio do programa de trens regionais. Perrupato lamentou o fato de essa utilização da ferrovia estar hoje basicamente reduzida a passeios turísticos.
Próximo a fazer sua exposição, Carlos Monte corroborou a necessidade de uma concepção estratégica de longo prazo. “Aos poucos, no setor de logística, consolida-se a visão de que é preciso planejamento. Isso deve ser cada vez mais um programa de Estado”, afirmou. Ele apresentou ainda o balanço, referente a dezembro de 2013, das obras e projetos para o setor previstos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Conforme Monte, são cerca de 15 empreendimentos que se espalham pelo País, em estágios diversos de andamento.
Hostilio Xavier Ratton Neto, professor do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi mais um a reforçar a necessidade de se acabar com os improvisos. “A cultura no Brasil é de fazer obras e, para que sejam viabilizadas, apresenta-se custo inferior ao real. Depois, os projetos sofrem revisão, e o valor aumenta”, criticou.
A seguir, Wellington de Aquino Sarmento, consultor na área de transportes, falou sobre o Instituto Nacional de Pesquisas Ferroviárias, cujo objetivo é “desenvolver o conhecimento da engenharia ferroviária, bem como o domínio e a atualização permanente da tecnologia do setor”.
Encerrando o evento, Francisco Costa, da Secretaria de Política Nacional de Transportes, apresentou, juntamente com a equipe técnica responsável, o projeto do Museu Ferroviário Nacional, que funcionará na Estação Barão de Mauá, inaugurada em 1854, no Rio de Janeiro.
Por Rita Casaro