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FSM 2010 - Dez anos depois, Fórum Social Mundial mantém diversidade e busca maior politização

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Rita Casaro

       O forte desejo de construir um outro mundo – no qual haja justiça e igualdade, o desenvolvimento econômico traga bem-estar sem des­truir o planeta, o imperialismo seja abolido e tenham fim o racismo, o sexismo e toda a discriminação – mais uma vez ecoou em Porto Alegre.
       A cidade que, em 2001, inaugurou o Fórum Social Mundial recebeu, entre os dias 25 e 29 de janeiro último, o evento, distribuído também pelos municípios gaúchos de Canoas, São Leopoldo, Sapucaia do Sul, Sapiranga e Novo Hamburgo.
       Numa edição descentralizada – aconte­ceram iniciativas em diversas partes do Brasil e do mundo –, o foco principal do encontro foi a reflexão sobre a mobiliza­ção que nasceu para se contrapor ao Fó­rum Econômico Mundial numa época em que grassava a hegemonia neoliberal, seu papel atual, avanços e dificuldades. Esse foi o tema do seminário “Dez anos depois: desafios e propostas para um outro mundo possível”. Nas diversas mesas de discus­sões, uma questão recorrente: o FSM li­mita-se a um espaço de encontro e debate entre organizações e movimentos pro­gressistas ou é capaz de articular políticas e ações que contribuam para construir es­se outro mundo possível?
       Sem que se chegasse a uma conclusão cabal, ganhou evidência a necessidade de articulações que levem à ação conjunta, como ocorreu em 2003, quando milhões de pessoas em todo o globo marcharam contra a invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Taxativo, em entrevista coletiva, o sociólogo Emir Sader propôs “um banho de política ao FSM”. Também durante o debate sobre a conjuntura social, realizado no dia 26, ele foi categórico. “A crise não acabou com o modelo neoliberal e isso não acontecerá sem que haja alternativas, que precisam ser construídas. A resistência eterna é um caminho de derrota.”
       Mais otimista, o francês Gustave Messiah comemorou uma grande vitória do FSM: a recusa do ideário neoliberal como único. “A batalha das ideias foi vencida pelo so­cial, isso foi confirmado pela crise finan­ceira em 2008”, afirmou.
       Na manhã anterior, na mesa de abertura, teve lugar um embate parecido. “O FSM é uma espécie de concentração, mas o jogo se decide em campo”, afirmou o líder do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stédile. Ele vê a iniciativa como uma grande contribuição, mas que “falhou ao não conseguir promover ações exitosas de massa”.
       Mais benevolente, o dirigente da CUT (Cen­tral Única dos Trabalhadores), João Felí­cio, vê mais qualidades que defeitos numa mobiliza­ção que conseguiu dar con­ta da enorme diversidade que marca o FSM. Ainda assim, também propôs partir para a ação segundo uma pauta de con­senso. “A reflexão é fundamental, mas precisamos de grandes mobilizações de massa para alcançar mudanças.”
       Uma sugestão dessa agenda foi dada pelo jornalista Antonio Martins, da Attac Brasil (Ação pela Tributação das Transações Fi­nan­ceiras em Apoio ao Cidadão), na fala acerca do novo ordenamento mundial, no dia 28. “Precisamos de propostas concretas para problemas que exigem respostas, co­mo a imi­gração, o trabalho e a mudança climática.”
       Alterando o tom, a líder feminista uru­guaia Lílian Celiberti comemorou o espa­ço constituído. “Estar juntos e recriar a es­pe­rança é um fim em si mesmo. Não vimos aqui apenas para encontrar um meio de unir as lutas, mas porque acreditamos que existe um novo mundo possível”, enfatizou.

Clima, Haiti, pré-sal, engenharia e trabalho
       O FSM mais uma vez deu conta da diver­sidade que o marca e abrigou 915 ativi­da­des autogestionadas, das quais participa­ram 35 mil pessoas, oriundas de 39 países, segundo dados da organização. Ganhou ênfase o tema das mudanças climá­ticas, que coloca em xeque a própria sobrevi­vência da humanidade e do planeta. Concentrou atenções a situação do Haiti, devastado pelo terremoto de 12 de janeiro último, que matou mais de 230 mil pessoas.
       O drama teve destaque numa das principais atrações do evento, a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, num encontro com os movimentos sociais promovido no ginásio do Gigantinho, na noite de 26 de janeiro. Pro­metendo auxílio ao País, além da controversa presença de tropas brasileiras, Lula defendeu que o FSM 2010 tivesse como única proposta final a solidariedade ao povo haitiano.
       Também na agenda, pautas de interesse na­cional, como as reservas de petróleo na camada do pré-sal, cujo marco regulatório encontra-se em discussão no Congresso. A Lei 11.888/08, que institui a assistência técnica pública e gratuita, foi objeto de uma oficina, em 27 de janeiro. Entre os palestrantes, o diretor do SEESP, Carlos Kirchner.
      A luta pela redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais esteve presente na tradicional marcha de abertura, que per­correu as ruas de Porto Alegre, com cerca de 30 mil pessoas, na tarde de 25 de janeiro, e teve grande participação do movimento sindi­cal. A necessidade de manter a unidade foi o tema do seminário “Crise global, trabalho decente e pacto mundial pelo emprego”, que reuniu as centrais, no dia 28.

Participação do SEESP
      
Tendo marcado presença em todas as edições do Fórum Social Mundial realizadas no Brasil (2001, 2002, 2003, 2005 e 2009), o SEESP enviou uma delegação à edição que marcou os dez anos da iniciativa. Leia a seguir as impressões dos dirigentes que foram a Porto Alegre.

       Após uma década de seu primeiro encontro, voltou a Porto Alegre e a mais cinco cidades do Rio Grande do Sul o Fórum Social Mundial.
       Hoje, o Brasil já não é mais o mesmo, foi testado pela crise de outubro de 2008
e está mais robusto econômica e financeiramente.
      
O alarido das ruas cede lugar a movimentos coordenados em busca de melhores condições de vida para as populações pobres do mundo. Apesar de menor em número de participantes que as edições globais que anteriormente foram sediadas
em Porto Alegre, o FSM 2010 demonstrou que o sonho ainda persiste e um novo mundo será em breve possível.
João Paulo Dutra, vice-presidente do SEESP

       O Fórum Social Mundial continua um espaço democrático, plural e uma oportunidade de relacionamento humano para compreender-se melhor o País e o mundo em que vivemos. Os seus primeiros dez anos foram saudados por jovens a aposentados.
       O balanço sobre as mudanças na América do Sul mostrou os avanços democráticos e sociais no período e as dificuldades previsíveis na próxima década. Um debate vibrante, unindo engenheiros, estudantes, professores, petroleiros, sindicalistas, governo e trabalhadores sem-terra, mostrou como o fundo social do pré-sal poderá destinar até 50% dos recursos para melhorar a qualidade da educação.
       Chamou-me a atenção uma iniciativa da qual já tinha ouvido em 2003, mas só agora concretizável: a realização de evento do FSM em Detroit, nos EUA, em junho deste ano. O mundo mudou.
Allen Habert, diretor do SEESP

        Se eu pudesse resumir numa só palavra todos os sentimentos que me acometem quando participo da marcha de abertura do FSM, essa seria esperança.
       Em meio àquela diversidade de pessoas clamando suas demandas, impossível não se sensibilizar e se solidarizar com cada uma delas. E, nesse momento, como não acreditar que um outro mundo é possível?
        Ao longo do evento, minha participação foi focada na temática ambiental e, a partir dos debates, ficou clara a necessidade urgente de uma agenda para o enfrentamento dos efeitos desastrosos causados pelo atual modelo de desenvolvimento.
       Por fim, agradeço imensamente ao SEESP por ter me proporcionado mais uma vez a participação no FSM, que talvez seja o espaço político mais democrático atualmente, voltado à construção de propostas para um outro mundo.
Fabiane Ferraz, diretora da Delegacia Sindical do SEESP em Piracicaba

 

 


 

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