Jéssica Silva
Comunicação FNE*
O crescimento do País passa pela boa engenharia, e a falta de valorização da profissão é o principal desafio da Frente Parlamentar da Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional. É o que aponta seu atual presidente, deputado federal Leônidas Cristino (PDT-CE), que inicia 2019 com foco na promoção desse debate no novo cenário político. Ele afirma que a Frente trabalhará “com lucidez e isenção” para apoiar projetos benéficos à sociedade brasileira, aos engenheiros e à industrialização.
Criada em 2016, a Frente Parlamentar, com participação ativa da FNE, tem na sua pauta a criminalização do exercício ilegal da profissão (Projeto de Lei 6.699/2002), a instituição da carreira de Estado para engenheiros, agrônomos e arquitetos (Projeto de Lei da Câmara nº 13/2013), além de temas como os riscos da privatização da Eletrobras e a venda da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer). Cristino atesta que permanecem na agenda as privatizações da infraestrutura do País e que, para um equilíbrio nas decisões, é fundamental ouvir engenheiros, técnicos e demais profissionais.
Quais são seus principais objetivos como presidente da Frente Parlamentar da Engenharia, Infraestrutura e Desenvolvimento Nacional?
Sou engenheiro e milito na área de infraestrutura e obras públicas há mais de 30 anos. Nosso objetivo é engajar empresas e profissionais do setor em busca de avanços não só para a categoria, mas também para a estrutura de contratação de obras e serviços públicos do País, aumentando a eficiência e reduzindo custos. Vamos trazer para o debate a pauta de privatização da infraestrutura nacional, como já fizemos este ano com audiência pública sobre a Eletrobras. É preciso discutir como e o que se pretende privatizar, o projeto é vantajoso ou lesivo ao interesse e à soberania nacionais? É fundamental ouvir os engenheiros, os técnicos, que veem as questões de maneira equilibrada.
Em 2018, a Frente avançou com dois importantes projetos à categoria, colocando-os em debate. O PLC 13/2013, que caracteriza como essenciais e exclusivas de Estado as atividades dos engenheiros; e o PL 6.699/2002, que criminaliza o exercício ilegal da profissão. Quais são os próximos passos?
Vamos promover um amplo esforço para a aprovação dessas matérias, tão importantes para o País. Nos últimos 30 anos, temos visto um grande foco em atividades burocráticas desempenhadas pelo Estado brasileiro, em detrimento de carreiras ligadas à engenharia e à ciência e tecnologia. Estamos convencidos de que o progresso de um país está intrinsecamente ligado ao desenvolvimento de profissionais das engenharias, ciência aplicada, tendo em vista o potencial de inovação da atividade na agregação de valor. O Brasil perde muito se não prestigiar mais profissionais que, muitas vezes, acabam migrando para outros países em busca de melhores condições de trabalho, contribuindo para o progresso de outras nações.
Foto: PDT na Câmara / Flickr.com
Cristino: é precido debater privatizações levando-se em conta o interesse nacional.
Como a Frente trabalhará para dar prioridade aos projetos no novo cenário político?
Passaremos a promover discussões com membros da Câmara e do Senado, afeitos à área de engenharia, ciência, tecnologia e inovação, a fim de construirmos uma pauta de discussões ampla e aprofundada, de forma conjunta, com os antigos e novos membros de ambas as Casas do Congresso, integrantes dessa Frente Parlamentar.
Quais devem ser os desafios a serem superados para se obter sucesso?
As maiores dificuldades são de ordem cultural, pois ainda não há no Brasil um engajamento e conscientização geral das autoridades públicas quanto à importância dos profissionais das ciências exatas, em especial dos engenheiros, na construção de uma nação moderna e organizada. Sem um amplo estímulo aos profissionais de engenharia, muitas obras e serviços passam a ser mal projetados e executados, com perdas sistêmicas para toda a sociedade. O estímulo aos profissionais de engenharia é uma poderosa alavanca de desenvolvimento do País, como pôde ser observado em nações como Coreia do Sul e Japão que, em poucas gerações, superaram um histórico de pobreza por uma nova realidade de riqueza, prosperidade e geração de amplas oportunidades para a promoção de justiça social. Sem esses profissionais, pelo contrário, o processo de desenvolvimento de um país acaba ficando apenas no discurso, sem lugar para a tecnologia de ponta.
A Frente participou também de importantes debates para o desenvolvimento nacional, como sobre a nova Lei de Licitações, a privatização da Eletrobras e a venda da Embraer. Como o senhor acredita que se darão esses debates no novo cenário político?
O novo governo se apresenta como liberal, ao mesmo tempo em que fala do fortalecimento do Estado. Nessa nova legislatura procuraremos discutir as políticas a serem adotadas pelos novos quadros do Poder Executivo, sempre que possível elaborando uma análise mais técnica sobre os novos rumos do País, indicando os possíveis impactos das novas medidas a serem tomadas. Para além de um viés sectário ou ideológico, procuraremos trabalhar com lucidez e isenção, apoiando o que deva ser apoiado e criticando o que possa ser prejudicial à sociedade brasileira, aos engenheiros e à indústria.
Em suma, o que os engenheiros e engenheiras podem esperar da Frente para 2019?
A categoria pode esperar muito empenho de nossa parte e muito trabalho nos próximos anos para que possamos, de forma conjunta, reerguer a honrosa profissão de engenheiro. Nesse sentido, já estamos estruturando uma ampla agenda de trabalho, que procure mobilizar diferentes quadros profissionais em busca de um objetivo maior, voltado ao desenvolvimento das atividades da engenharia, da ciência e da tecnologia no Brasil.
*Entrevista publicada no jornal Engenheiro, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), edição dezembro 2018/ janeiro 2019.