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08/07/2025

O lado A e o lado B da privatização na CPTM

Marcos Galesi

 

A ferrovia paulista mais uma vez se vê no centro de uma encruzilhada histórica. Com a concessão das linhas da CPTM à iniciativa privada, muitos comemoram um novo capítulo da mobilidade. Outros, no entanto, observam com cautela, temendo que a pressa por eficiência engula o papel social do transporte público.

 

No lado A, a promessa de modernização
A entrada dos consórcios TIC Trens (Linha 7-Rubi e Trem Intercidades) e TRIVIA Trens (Linhas 11-Coral, 12-Safira e 13-Jade) traz consigo expectativas de investimentos robustos, novos trens, estações revitalizadas, menor intervalo entre composições e, claro, uma gestão que promete ser mais ágil do que aquela praticada pelo Estado.

 

Essa promessa, no entanto, não é inédita. Já começou a se materializar — com tropeços e acertos — nas Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, operadas desde 2022 pela ViaMobilidade. No início, o que se viu foi uma avalanche de falhas: portas emperradas, atrasos sistemáticos, panes sucessivas e um desgaste de imagem quase imediato. Mas com o tempo, a concessionária começou a virar o jogo: adquiriu 36 trens novos, ampliou a presença de funcionários nas estações e implementou ajustes operacionais que vêm, pouco a pouco, dando mais estabilidade ao serviço.

 

Para os entusiastas da concessão, o modelo representa um avanço inevitável. Apontam que a CPTM, apesar dos esforços, operava com limitações orçamentárias, lentidão na execução de melhorias e greves que paralisavam toda a rede. Acreditam que a entrada de empresas privadas, regidas por metas e penalidades contratuais, tende a elevar o padrão de qualidade, como se viu — mesmo que com dificuldades — na ViaMobilidade.

 

No lado B, o temor da lógica do lucro
O transporte sobre trilhos, no Brasil, sempre foi mais do que um negócio: é um instrumento de inclusão, dignidade e cidadania. Quando se transfere essa missão ao capital privado, surge a inevitável pergunta: o interesse público será respeitado?

 

Os críticos da privatização alertam para um possível aumento nas tarifas, corte de postos de trabalho, precarização dos direitos trabalhistas e redução do serviço em horários ou trechos de menor demanda. O fantasma da SuperVia no Rio de Janeiro, que mergulhou em abandono após anos de má gestão privada, ainda assombra os que conhecem a história — e não querem repeti-la em São Paulo.

 

Além disso, existe o receio de que o novo modelo fragilize o papel do Estado como planejador e indutor do transporte. Afinal, o trem não é apenas um produto: ele molda cidades, conecta vidas, carrega sonhos e sustenta o cotidiano de milhões.

 

É preciso cautela, contrato firme e fiscalização implacável.

A privatização pode, sim, representar um salto de qualidade — desde que seja bem regulada. A experiência internacional mostra que a concessão ferroviária só funciona quando o Estado não abre mão de sua responsabilidade: fiscalizar com rigor, punir desvios, garantir a tarifa social e manter a centralidade do transporte público na política urbana.

 

Estamos num momento decisivo. A CPTM está virando a página. Resta saber se será um novo capítulo de eficiência e respeito ao cidadão — ou se vamos embarcar, mais uma vez, num trem sem rumo.

Marcos Galesi é técnico em Transportes,  jornalista e colunista do Portal Nosso Transporte Público e Trólebus Brasileiros, além de curador da Expominis


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